Folha de S. Paulo


Bandidos foram atingidos por 139 tiros em ação da polícia no Morumbi

Na ação policial que frustrou um roubo a residência na região do Morumbi, os dez criminosos mortos foram atingidos por 139 tiros no total. Só um deles foi baleado 33 vezes. Outro levou 27 disparos, sendo 13 deles nas costas. Os tiros também deixaram marcas nos muros das casas, em portões, janelas e em carros de moradores estacionados naquela rua residencial.

Essa quantidade de disparos e as circunstâncias em que os criminosos foram mortos levaram a Ouvidoria da Polícia a requisitar investigação –da Corregedoria e da Promotoria– para apurar se houve algum tipo de irregularidade na atuação das equipes.

O número de ferimentos encontrados nos corpos dos ladrões está no histórico do boletim de ocorrência registrado pelo departamento de homicídios, que é responsável pela investigação de mortes em intervenções policiais.

Apenas um dos criminosos levou um único tiro –na nuca. Os demais foram baleados diversas vezes pela polícia. O ouvidor Julio Cesar Fernandes Neves diz que a quantidade de tiros "chama a atenção de qualquer leigo". "Precisa ser bem analisado."

Pessoas mortas por policiais civis em serviço - Mortes em ações já ultrapassam 2015

Outro questionamento tem como base ponderações do coronel da reserva José Vicente da Silva sobre a morte de parte dos ladrões dentro de carros com lataria e vidro blindados. Além disso, ele levantou dúvidas sobre como os ladrões teriam conseguido atirar de dentro desses veículos.

Neves disse que essa é a maior quantidade de mortos já registrada pela Ouvidoria de São Paulo em uma intervenção da Polícia Civil. No ano passado inteiro, houve 14 mortos por agentes da instituição. Neste ano, no primeiro semestre, foram 19.

"Eu torço para que a intervenção tenha sido legítima. Vamos aguardar a apuração desses detalhes para termos essa certeza", afirmou.

Tiroteio no Morumbi

FUZIL

Além dos moradores, também o governador Geraldo Alckmin (PSDB) elogiou a ação dos policiais. Afirmou que foi desarticulada um quadrilha "fortemente armada" que atuou em outros crimes.

"Graças a Deus não tivemos nenhuma vítima atingida nem policiais. Esse é o trabalho que tem que ser feito, trabalho de inteligência para tirar essas organizações criminosas e principalmente armadas com fuzil, disse. O tucano também rebateu as críticas sobre suposto excesso por parte dos policiais. "Quem está de fuzil não está querendo conversar", disse.

AÇÃO NO MORUMBIOperação da Polícia Civil contra quadrilha acabou com 10 suspeitos mortos no domingo (3)

Cinco dos dez mortos eram foragidos por diversos crimes. Foram apreendidos com a quadrilha quatro fuzis, duas pistolas e três revólveres. O delegado Ítalo Zaccaro Neto, responsável pela operação do domingo, disse que os policiais foram recebidos a bala e conseguiram matar os criminosos em razão de treinamento e intervenção divina.

"A eficiência eu acredito que vem de Deus. Porque nós estamos do lado bem e eles estão do lado do mal", disse. "Nós, aqui, não temos prazer nenhum nisso. Estou aqui há 30 anos. Somos seres humanos como outro qualquer."

O policial disse também estar acostumado a receber críticas. "A situação é agradável quando você consegue emitir uma opinião, um parecer, sentado atrás de uma mesa, no ar-condicionado, vendo fotos ou fatos", disse.

PRISÃO

Isabel Figueiredo, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e ex-diretora da Secretaria Nacional de Segurança Pública, afirma que "é sempre muito mais fácil fazer uma revisão de uma ação do que estar lá na ação".

Mas ressalva: "Uma ação em que todos os criminosos morrem não pode ser considerada bem sucedida. A ação bem sucedida é a que resulta na prisão. Não só por uma questão ética, do controle do uso da força. Quando eu prendo, tenho a informação, consigo mais coisas do que ter essas pessoas mortas".

"É diferente se deparar na rua com pessoas fortemente armadas. Se tinha inteligência por trás, dava para ver o potencial bélico que encontrariam", afirma Figueiredo.

A ação seria "um desastre ainda maior" se algum passante ou vizinho fosse atingido, diz a especialista. "Existe não só o risco para o profissional de segurança pública, mas também com o entorno. As outras pessoas que têm que ser preservadas também. Você nunca tem todo o domínio do entorno."

Chamada Mapa da InsegurançaLink do especial:http://arte.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/08/13/mapa-da-inseguranca/

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