Folha de S. Paulo


Moradores relatam tensão e elogiam ação que matou dez no Morumbi

Tiroteio no Morumbi

O administrador de empresas Marc Gautier, 44, olhava na manhã desta segunda (4), apreensivo e curioso, os estilhaços do tiroteio que deixou dez mortos na rua de sua casa, no Jardim Guedala, bairro nobre da zona oeste de São Paulo.

"Tenho dois filhos pequenos, aumenta muito o medo e a insegurança, muda a rotina de qualquer um. Vou pressionar no que for possível para melhorar a segurança aqui. Porque não adianta a gente ficar refém de segurança privada", diz ele.

Na noite de domingo (3), dez homens foram mortos em confronto com a Polícia Civil após tentativa de assalto a uma casa na rua Pureus, por volta das 19h30. Os criminosos faziam parte de uma quadrilha especializada em assaltos a casas de luxo no bairro, segundo a polícia.

O bairro era monotemático nesta manhã: só se falava sobre o assalto nas guaritas dos vigias de rua, em um posto próximo ao local dos crimes e entre os funcionários que entravam e saíam das casas de alto padrão.

Uma série de moradores e trabalhadores da região, a maior parte com receio de se identificar, foi ao local ver o que restou da ação policial do Deic (Departamento Estadual de Investigações) e do Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos): marcas de balas nos muros, estilhaços de vidro e roupas com sangue. Nem moradores da região nem policiais ficaram feridos –alguns policiais tiveram ferimentos leves devido a estilhaços, mas não foram baleados.

O público de curiosos elogiava a ação da polícia e se diziam aliviados. "Assalto a casas é muito comum aqui, mas assim eu nunca tinha visto. Tem casa a venda em todas as ruas, e ninguém consegue se livrar", diz Harry Wolpert, 54, que trabalha há 32 anos como motorista na região.

Uma associação de moradores do bairro da Cidade Jardim disse preparar uma homenagem aos policiais do Deic e do Garra que participaram da operação. "Há muito os moradores do bairro da Cidade Jardim e seu entorno vêm sofrendo com a ação de bandidos fortemente armados", disse o presidente da Sociedade Amigos da Cidade Jardim (SACJ), Marcelo Lobo.

Segundo Lobo, os índices de violência no bairro e na cidade de São Paulo só vão cair com a continuidade de ações de investigação e repressão da polícia, aliados ao controle do tráfego na região e pelo monitoramento eletrônico das ruas por meio de câmeras

CRIME

O grupo de assaltantes era investigado há sete meses, segundo o Deic, e seria responsável por 30 assaltos a imóveis, em bairros nobres e condomínios de luxo, além de caixas eletrônicos em todo o Estado.

Os suspeitos foram abordados por policiais quando saíam da casa assaltada –eles estariam tentando abrir um cofre no local, mas saíram ao saber do cerco da polícia. Houve intensa troca de tiros. Segundo a polícia, os criminosos tinham quatro fuzis.

Os criminosos foram alvejados dentro dos carros. Um dos veículos bateu em um poste a poucos metros da residência. O outro veículo ficou atravessado na rua.

Um carro com ao menos quatro criminosos teria conseguido fugir, segundo agentes no local. No final da noite, havia corpos espalhados em quatro ruas diferentes, estirados no asfalto. Três na rua Pureus, cinco na Pirapó, a poucos metros da casa alvo do assalto, um na rua Melo Morais Filho e um na rua Santo Eufredo. O líder do grupo, identificado como Sassá, está entre os mortos.

O caso ocorre em meio à epidemia de crimes contra o patrimônio (furtos, roubos e latrocínios) no Estado de São Paulo. Nos primeiros seis meses do ano, houve um delito do tipo a cada 30 segundos.

A elevação em relação ao primeiro semestre do ano passado é pequena (0,3%), mas é a décima vez que se registra alta das ocorrências do gênero no Estado desde 2002.

Chamada Mapa da InsegurançaLink do especial:http://arte.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/08/13/mapa-da-inseguranca/

ALCKMIN

"Uma quadrilha fortemente armada, inclusive com fuzis, que já tinha feito outros roubos aqui na capital e também em Indaiatuba, assalto a banco, explosão de cais eletrônicos, a polícia com esse trabalho de inteligência monitorou e fez a intervenção. Graças a Deus, não tivemos nenhuma vítima atingida nem policiais", disse o governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Sobre a suposta virulência da ação policial, o governador declarou que "quem está de fuzil não está querendo conversar".


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