Folha de S. Paulo


PF faz operação para conter envio de cocaína do porto de Santos à Europa

Policiais federais cumpriram, na manhã desta segunda-feira (4), 75 mandados de prisão –73 apenas no Estado de São Paulo, 1 em MG e 1 no DF– e outros 190 de busca e apreensão contra uma quadrilha suspeita de praticar tráfico internacional de drogas a partir do Porto de Santos, no litoral paulista.

Ainda outras duas pessoas foram presas em flagrante por posse ilegal de arma e posse de drogas, sendo cinco pistolas e revólveres e três quilos de cocaína. Foram apreendidos ainda 23 veículos, entre eles carros de luxo das marcas BMW, Audi e Mercedes, e aproximadamente R$ 918 mil, em diferentes moedas, além de joias e pedras preciosas.

Ainda há mandados de prisão a serem cumpridos. A operação expediu 127 no total. Os mandados foram cumpridos nas unidades federativas de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Distrito Federal.

As investigações apontaram que o grupo foi o responsável pelo envio de pouco mais de seis toneladas de cocaína para a Europa no último ano. Cerca de 820 agentes participam da operação, que está centralizada em São Paulo e distribuída pelos Estados de Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, além do Distrito Federal.

Eduardo Knapp/Folhapress
Contêineres refletidos em espelho em pátio do porto de Santos (SP)
Contêineres refletidos em espelho em pátio do porto de Santos (SP)

As investigações da operação Brabo começaram em agosto de 2016 em parceria com a agência norte-americana de combate ao tráfico de drogas. Um pente-fino feito em cinco apreensões de cocaína realizadas entre agosto de 2015 e julho de 2016 –três no porto de Santos e duas num da Rússia, também vindas do entreposto da Baixada Santista– constatou que os carregamentos eram feitos por um mesmo grupo.

Um inquérito policial instaurado em 2016 apontou que os investigados montaram "empresas criminosas". Diferentes grupos organizados e especializados, com atuação no Brasil e na Europa, se associavam para atender necessidades específicas dos negócios ilícitos. Entre os suspeitos estão, inclusive, funcionários do Porto de Santos que faziam vista grossa na vistoria das cargas de drogas que chegavam ao local.

A Folha entrou em contato e aguarda um posicionamento da administração do entreposto santista.

A organização criminosa adquiria cocaína pura de países como Bolívia e Colômbia e a estocava em vários endereços da capital paulista até ser enviada à Europa pela via marítima. A PF afirma que realizou, desde agosto do ano passado, 14 apreensões de cocaína nos portos de Santos, Salvador e Itajaí (SC) que totalizaram 5,9 toneladas da droga que deixaram de abastecer o tráfico europeu. Todas as ações policiais atingiram o grupo criminoso investigado pela PF.

MEMBROS DO PCC E SÉRVIOS

O esquema envolvia membros do PCC (Primeiro Comando da Capital) e mafiosos da Sérvia. O papel dos membros do PCC era trazer a cocaína da Colômbia, do Peru e da Bolívia até o porto de Santos e tentar colocá-la em navios cargueiros. Grupos sérvios então faziam o desembarque e a distribuição do entorpecente da Europa.

Cada quilo da droga com índice de pureza de 90% com era revendido na Europa por ao menos 25 mil euros, segundo o delegado da PF Fabrízio Galli. Os investigadores apuraram que o grupo estaria negociando a compra de um imóvel de de alto padrão em um condomínio de luxo na Grande São Paulo.

"Os criminosos atuavam como se fossem um consórcio: vários grupos investiam em um carregamento, se ele fosse apreendido não perdiam tanto dinheiro", afirmou Galli. Segundo o delegado, os criminosos ligados ao PCC não atuavam de forma "institucional", ou seja, não agiam a mando da cúpula da facção, mas de forma individual.

Porém, uma porcentagem do "lucro" da operação era usada para custear a organização criminosa. "Eles usavam a estrutura da organização. O mesmo acontecia com as quadrilhas estrangeiras."

Entre os presos no Brasil estão dois criminosos sérvios, segundo o delegado Agnaldo Mendonça Alves, da PF. Eles haviam se mudado para o país e constituído família brasileira, para tentar chamar menos atenção das autoridades. "Eles demonstraram a intenção de ficar no país, criaram novos contatos e então fizeram contato com suas conexões na Europa", disse o delegado.

Segundo a PF, as ramificações sérvia e brasileira da rede agiam em forma de células. "Dentro dessa estrutura não havia uma célula principal. Alguns elementos flutuavam em várias dessas células fazendo negócios com várias pessoas, era uma estrutura horizontalizada", disse o Delegado Rodrigo de Campos Costa.

Entre os suspeitos investigados estão 28 brasileiros ligados ao porto de Santos ou a empresas terceirizadas que operam lá. Eles são suspeitos de terem facilitado as operações da quadrilha. Estivadores são suspeitos de entrar com drogas nos navios. Já dentro da embarcação, as drogas seriam escondidas em contêineres.

O objetivo do esquema era burlar a fiscalização feita com raio-x em todos os contêineres antes deles serem colocados nos navios. Outra forma de embarque clandestino de drogas acontecia quando pequenas embarcações se aproximavam dos navios já no mar, após a saída do porto. A cocaína era então puxada com cordas para dentro dos cargueiros por marinheiros cooptados.

A Polícia Federal investigará agora como o dinheiro da venda das drogas na Europa entrava no Brasil. A principal suspeita é que os pagamentos aos traficantes brasileiros eram feitos em espécie por meio de doleiros. A investigação deve ter desdobramentos ainda sobre como era feita essa lavagem do dinheiro no país.

BRABO

O nome da operação remete a um dos destinos da droga, o porto de Antuérpia (Bélgica). Brabo seria um soldado romano que teria libertado os habitantes da região do rio Escalda, onde se localiza Antuérpia, do controle de um gigante. Essa lenda deu origem ao nome da cidade.


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