Folha de S. Paulo


A ascensão da indústria de games da Noruega

Pergunte aos desenvolvedores de games qual o lugar mais fértil da indústria. É bem provável que ninguém cite Noruega, mas apostamos que, nos próximos meses ou anos, quase todos terão o país nórdico como grande pólo dos joguinhos.

Duas das maiores franquias de games da última meia década - "Angry Birds" e "Minecraft" - vieram da Finlândia e Suécia, respectivamente; os noruegueses não curtiram essa história de ficar atrás dos vizinhos e, depois de se engajarem na causa, foram atrás de bons subsídios governamentais.

As primeiras histórias de sucesso estão na praça. Os jogos indie "FunRun" da DirtyBit chegaram à marca de 65 milhões de downloads e ao 1º lugar da App Store. Outros projetos também chamaram atenção dos críticos e do público especializado: um grupo de desenvolvedores acadêmicos ganhou um BAFTA por seu projeto "Size DOES Matter"; já "Teslagrad", lançado pela Rain Games, foi adquirido pela publisher Square Enix, a mesma de "Final Fantasy" e "Tomb Raider".

Among the Sleep/Krillbite Studio
Game 'Among the Sleep', que se passa na perspectiva de um menino de dois anos
Game 'Among the Sleep', que se passa na perspectiva de um menino de dois anos

No Kickstarter, o estúdio Krillbite conseguiu US$ 248 mil para "Among the Sleep", um jogo de terror que se passa na perspectiva de um menino de dois anos, e a Red Thread Games captou US$ 1,5 milhões para seu game episódico "Dreamfall Chapters".

O país também está atraindo talento estrangeiro. Jory Prum, engenheiro de som que trabalhou na LucasArts e na franquia Walking Dead da Telltales Games, está de mudança para a Noruega para aproveitar uma indústria crescente e com pouca competição. Ele também é beneficiário do ambiente de negócios amigável dos noruegueses - desenvolvedores compartilham recursos, talentos e até mesmo hardware. "Nunca lidei com tanta camaradagem em lugar algum da indústria de games", declarou.

Prum citou alguns de seus projetos favoritos, que evidenciam a criatividade norueguesa. "Shadow Puppeteer", um game cooperativo, se baseia em jogadores que atuam como o personagem principal e sua sombra. Earthlock faz com que os players cultivem sua própria munição. Manuel Samuel força os jogadores a completarem até mesmo as ações mais - como respirar - com os personagens principais

Parte do sucesso da indústria gamer pode ser ligado ao Norwegian Film Institute, que distribui fundos para o setor e deu o pontapé inicial para títulos como Among the Sleep. Em novembro de 2014, nove jogos receberam 1,1 milhão em Coroas Norueguesas (cerca de R$ 440 mil).

Tamanha atividade encorajou outros desenvolvedores a dedicar todo o tempo hábil aos games. De acordo com novo relatório da Associação de Produtores Norueguesa, 60 novas empresas surgiram junto de 127 novos empregos entre 2012 e 2014.

Mas por que demorou tanto? "A Noruega é um país pequeno", disse Bendik Stang, da desenvolvedora Snowcastle, que conseguiu US$ 178 mil dólares no Kickstarter para financiar "Earthlock". Enquanto outros países se desenvolviam nos setores de tecnologia, a Noruega ainda se via às voltas com petróleo e pescaria.

Stang afirmou, porém, que o tamanho diminuto da nação cria oportunidades. E quando um desenvolvedor ganha, a indústria ganha também. "Não existe rivalidade entre nós", afirmou Anders Hillestad, presidente-executivo do estúdio de desenvolvimento Antagonist.

"Faz parte de como a Noruega funciona", declarou Prum. "É um país acostumado a estar sozinho". Talvez todo o isolamento finalmente esteja compensando.

Tradução THIAGO ÍNDIO SILVA


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