Folha de S. Paulo


Vitória de Temer traz estabilidade, mas a um preço alto, dizem analistas

A vitória que o presidente Michel Temer obteve nesta quarta (2) na Câmara dos Deputados, quando conseguiu votos suficientes para barrar o andamento da denúncia por corrupção apresentada contra ele, pode trazer estabilidade no curto prazo, mas a um preço político e econômico ainda incerto.

Convidados discutiram os possíveis cenários futuros em debate ao vivo promovido pela "TV Folha" na tarde desta quinta (3).

"Foi uma vitória de contrapartidas, que pode inclusive dificultar o cumprimento da meta fiscal", disse Otto Nogami, professor de economia do Insper, lembrando a estratégia do governo de liberar emendas e oferecer cargos para obter votos.

"Mas inegavelmente dá tranquilidade maior e alguma perspectiva para os agentes econômicos, que já esperavam o resultado", afirmou. "A economia já está um pouco descolada da crise política."

Para o colunista da Folha Pablo Ortellado, porém, essa contrapartida econômica não necessariamente vale a pena. "A população está descontente, mas os agentes políticos e as lideranças da sociedade civil estão dando de ombros e tocando o barco com esse governo mesmo", disse.

"Basta colocar na balança o que foi gasto com emendas agora para barrar a denúncia e o que será economizado com a PEC do Teto para entender para quem vai sobrar a conta."

Também presente ao debate, o diretor da sucursal de Brasília da Folha, Leandro Colon, afirmou que, apesar do momento de ressaca, o governo deve adotar o discurso de que a vitória mostra força inclusive para fazer avançar as reformas da Previdência e tributária.

"Mas temos que olhar com cautela, porque o termômetro em Brasília muda todo dia, Temer terá que pagar um preço político alto para cumprir os acordos que fez e essas reformas não são necessariamente populares", opinou.

"Ainda que o presidente tenha mostrado que tem um modus operandi que funciona no Congresso, há vários deputados entre os 263 [que votaram contra o andamento da denúncia] que são contrários à reforma da Previdência."

Os convidados também discutiram os impactos da vitória do peemedebista nas eleições de 2018. "Não temos lideranças políticas hoje em quem confiar", definiu Nogami.

A visão é compartilhada por Ortellado, que vê perspectivas "péssimas" para a disputa. "Não acredito que teremos clima para um debate racional de propostas, que seria o ideal", completou.


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