Folha de S. Paulo


'Coveiro bom é o que é quase ausente', diz profissional que atua há 20 anos

A "TV Folha ao vivo" conversou com Osmair Camargo Cândido, mais conhecido como "Fininho" pelo setor funerário. Ele trabalha há 20 anos como coveiro, atualmente no Cemitério da Penha, e se destaca por ter completado uma graduação em filosofia pelo Mackenzie.

Fininho ressaltou que um coveiro, para desempenhar um bom trabalho, precisa ter empatia, saber se colocar no lugar do enlutado. E entender que ele não está sepultando uma pessoa, mas sim um sonho. Também deve ter sensibilidade para buscar no olhar o momento certo de fechar o caixão. As pessoas têm diversas reações, como o choro, a agressividade e até o riso.

Ele está escrevendo um projeto de mestrado para apresentar na USP, com enfoque na utopia da igualdade. Apaixonado pelo filósofo Michel Foucault, diz ser um dos homens que ele gostaria de ter conhecido na vida. Seu maior interesse é na microfísica do poder e em como o poder está estabelecido, de forma invisível, nas relações entre as pessoas e nas tradições, como nos ritos fúnebres do enterro. Também está escrevendo um livro sobre as memórias de um coveiro, que estará disponível para financiamento coletivo pelo blog "Morte sem Tabu".

Fininho estuda os contratualistas, como Jean-Jacques Rousseau, John Locke e Thomas Hobbes. As ideias de Hobbes afirmam que o homem é egoísta por natureza e a sociedade civil, através do chamado contrato social, é que mantem a paz. Já Rousseau acredita na bondade e altruísmo da natureza humana.

Tendo acompanhado tantos enterros nesses vinte anos de profissão, ao lado de pessoas em extrema vulnerabilidade emocional, Fininho diz que a natureza do homem é egoísta. "O homem chora pela sua própria dor e enfrentamento da sua mortalidade. Ele chora para si mesmo", conclui.


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