Folha de S. Paulo


Vítimas da zika sofrem com as consequências nos filhos

As pessoas param na rua, apontam as meninas e dizem: "Olha a cabecinha, olha os pezinhos tortos. Como é pequeninha. Ela teve aquele negócio da zika, foi?"

A cena se repete com frequência. Raquel Barbosa, 25, perdeu o gosto de sair para a rua em Areia (PB) por conta disso. Ela é mãe das gêmeas Heloá e Heloísa, de sete meses, que nasceram com microcefalia, calcificações cerebrais e pés e mãos tortos (artrogripose).

Heloá, menorzinha, tem a saúde mais frágil. Sem condições emocionais de cuidar dela, Raquel deixou a filha aos cuidados da mãe, Maria José Barbosa de Araújo, 51, que mora na zona rural de Areia. Na casa de três cômodos, Maria também cria e cuida de mais um neto, com paralisia cerebral, abandonado por outra filha logo após nascer. A família sobrevive com o benefício dele, de R$ 880. Raquel já entrou com um pedido para receber o dinheiro pelas meninas também.

A mãe contraiu zika no segundo mês de gestação. Até os quatro meses, as filhas choravam dia e noite. "Não dormiam e não deixavam ninguém dormir. Achei que fosse enlouquecer, só pensava em largar tudo e sumir."

Uma vez por semana, Raquel tem consulta com uma psicóloga em Campina Grande, onde as filhas fazem fisioterapia. "Saio com a alma lavada. Quando chego em casa, já começo a ficar perturbada de novo."


Endereço da página: