Folha de S. Paulo


Entenda como o Aedes aegypt transmite doenças

Ninguém sabe muito bem por que o vetor da zika possui as célebres pintas brancas nas patas e um desenho que lembra uma lira (instrumento musical de cordas) na parte de cima do tórax.

Do ponto de vista humano, são características que decerto facilitam a identificação do inseto a olho nu. Talvez esses detalhes ajudem os insetos a reconhecer seus iguais, uma vez que a visão do bicho tem acuidade razoável. "São detalhes discretos perto dos que a gente vê em mosquitos típicos de floresta, que costumam ser bem mais complexos e até bonitos", afirma a entomóloga Tamara.

A vida na cidade grande também parece ter tornado a vida sexual do Aedes menos atribulada e mais eficiente, em comparação com a de seus primos silvestres. Em laboratório, depois que machos e fêmeas são colocados em contato, a cópula e a transmissão da espermateca (reservatório de esperma típico desses animais) ocorre em questão de minutos para todos os casais do recinto.

Já o albopictus, que não está adaptado ao ambiente urbano, precisa de cerca de meia hora para que o processo aconteça. A "pressa" do aegypti provavelmente é outro fator que ajuda a explicar a rápida multiplicação da criatura nas áreas que consegue invadir.

Ao longo de sua curta vida adulta --que dura até quatro semanas--, cada fêmea da espécie normalmente só copula com um único macho. Mas o mesmo macho é capaz de inseminar múltiplas parceiras.

Isso acontece porque, logo após o acasalamento, o mosquito do sexo masculino insere nos órgãos genitais da parceira uma espécie de tampão, impedindo que rivais dele a inseminem. Esse detalhe do comportamento do animal é o ponto crucial por trás de abordagens como a criação de mosquitos machos transgênicos com prole inviável: como as fêmeas que se acasalam com eles não terão a chance de encontrar um novo parceiro, o resultado é a diminuição da população de insetos na geração seguinte.

Após receber a espermateca, a fêmea consegue usar aos poucos os espermatozoides do primeiro e único parceiro, fecundando uma fração de seus óvulos a cada gole de sangue que obtém. Ou seja, cada "refeição de sangue" da fêmea (vale dizer, a cada pessoa picada) corresponde a uma nova batelada de ovos, que passam cerca de dois dias amadurecendo no interior do organismo do inseto antes de ser depositados no ambiente.

A sede de sangue é exclusiva das fêmeas do aegypti (e das fêmeas de algumas outras espécies de mosquitos). Todos os aegypti são capazes de se alimentar de néctar ou de secreções de frutas, e essas são as únicas fontes de nutrição dos machos adultos. Já o sangue das vítimas (geralmente humanas) é crucial para o desenvolvimento dos ovos, na condição de uma reserva proteica para os embriões nas suas primeiras fases de crescimento.


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