Folha de S. Paulo


Bactéria é usada para combater o Aedes; entenda

A arma utilizada pelo projeto Eliminar a Dengue, nascido na Austrália e trazido pro Brasil pela Fiocruz, não precisa ser recarregada. Os espiões, digamos, não reduzem a população de aedes, mas substituem os mosquitos por outros que não poderão transmitir dengue ou zika. Basta uma liberação de aedes modificados e a natureza se encarrega do resto.

A munição é a wolbachia, um tipo de bactéria encontrada naturalmente em 70% dos insetos, mas não nos aedes. Pesquisadores da Universidade Monash, em Melbourne (Austrália), fizeram os primeiros experimentos.

Machos e fêmeas carregados com a bactéria copularam com os mosquitos selvagens, e o resultado é a transmissão da bactéria para toda a prole.

No Brasil, testes com a wolbachia foram feitos em dois bairros de Niterói e na Ilha do Governador, no Rio. Nos próximos três anos, devem ser ampliados para a capital fluminense e uma área maior de Niterói, atingindo 2,5 milhões de pessoas.

A maior parte da verba é da Fundação Bill e Melinda Gates, que financia o projeto mundialmente --as pesquisas também estão sendo feitas na Colômbia, na Indonésia e no Vietnã.

Os bairros-alvo são divididos em áreas de 50 m2 e cada uma recebe o chamado dispositivo de liberação de ovos (DLO). Dentro de baldinhos brancos, está uma fita de tecido impregnada com cerca de 150 ovos de mosquito com wolbachia, água e comida de peixe para as larvas se alimentarem depois de eclodir.

{{info=1}} Wolbachia

A ideia de manter em casa um criadouro de aedes, mesmo que modificado para o bem, nem sempre é aceita. Daí a importância da equipe da Fiocruz aposentada Maísa Vasconcelos, moradora do Ponto Final de Jurujuba, Niterói, recebeu um dos baldinhos e, com sua influência e liderança na comunidade, ajudou a convencer os outros moradores do projeto.

"No começo a gente acha estranho, principalmente quando sai um monte de mosquito em casa. Mas dá até dó de matar --a gente sabe que está ajudando a não ter a doença", conta. E tome picada.

Maísa tem em casa uma armadilha de mosquitos que ajuda os pesquisadores da Fiocruz a verificar se os aedes do ambiente estão mesmo com wolbachia. Até agora, 80% dos que foram capturados tinham a bactéria.

O impacto sobre a incidência de dengue e outros vírus, porém, só poderá ser avaliado em pelo menos três anos, segundo Gabriel Sylvestre, biólogo da Fiocruz e coordenador da equipe de entomologistas do projeto.


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