Folha de S. Paulo


Entenda o 'paulistanês', sotaque que reúne os 'manos' há 'mó cota'

"Não podemos falar de sotaque paulistano como se fosse só um", afirma Pasquale Cipro Neto, professor de português e colunista da Folha. Cada bairro tem uma palavra característica, e mudanças no jeito de falar são constantes em uma cidade que recebeu pessoas de todo país e do mundo nesses 462 anos de história.

Dos vários sotaques ouvidos nas conversas informais e nas mesas de bar, alguns só são falados por jovens, por exemplo. Outros já se se perderam ou foram importados de outros locais. Há, ainda, diferenças entre as gírias usados no centro e as áreas periféricas da cidade.

"Ó meu, sipá eu vou no Ibira". Caso tenha entendido essa frase, provavelmente você ou é de ou já conversou com alguém de São Paulo.

Na verdade escrito como "se pá", a gíria significa se der certo. Já "orra", ouvido em bairros de origem italiana, como o Bexiga e a Mooca, é uma interjeição que exprime admiração, espanto, deboche ou, ainda, indignação.

E se falarmos sobre a fundação da cidade de São Paulo, podemos afirmar que foi há "miliano", gíria que tem como sinônimo "mó cota" (muito tempo).

Há também a abreviação feita pelo paulistano em palavras como "Ibira" (Ibirapuera), "responsa" (responsabilidade), e "parça" (parceiro), nas quais palavras e nomes de locais acabam perdendo de uma a duas das últimas sílabas.

Outra comparação feita entre paulistanos e moradores de outros locais é no uso do "r". É o caso do uso do /r/ retroexo, comumente chamado de "r arrastado", como no caso de "porrta", falado no interior, comparado ao /r/ vibrante, que é ouvido por famílias tradicionais da cidade.

Segundo Manoel Mourival de Almeida, professor da USP e pesquisador do Projeto Caipira, projeto que investiga a história do português paulista, a origem desse "r" falado no interior é daqui da capital.

"Imagina lá no século 17 o contato do português com o indígena, dessa aproximação pode ter surgido o /r/ retroexo, que não existe em Portugal", diz o professor.

A formação de um "paulistanês" demorou para acontecer, diz. No entanto cada vez mais é evidente que há características próprias no jeito de falar na cidade.

"Durante muito tempo foi muito fechado, havia bairros ocupados só por italianos ou só por espanhois, demorou para se entrelaçar", explica Pasquale. "Há uma tendência de uma aproximação, mas diversidades vão sempre existir".


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