Folha de S. Paulo


Espelho d'água reflete modernização urbana de Bordeaux, na França

Dez anos depois de ter sido classificada como patrimônio da humanidade pela Unesco, Bordeaux passa por uma grande revitalização.

O lugar, considerado pelo guia "Lonely Planet" a melhor cidade para visitar no mundo em 2016, agora ficou mais próximo de Paris. Em julho, foi inaugurada pelo presidente francês Emmanuel Macron uma nova linha de trem de alta velocidade que interliga as duas cidades em duas horas de trajeto, anteriormente feito em pouco mais de três horas.

O trem parte da estação de Montparnasse em Paris e chega à estação Saint Jean em Bordeaux em um percurso que pode ser comprado pela internet e custa cerca de € 40 (R$ 152) por pessoa.

De Bordeaux, em um trajeto de pouco mais de uma hora, ainda é possível ir de trem até Cognac, berço do conhecido destilado francês.

O deslocamento pela cidade também ficou mais fácil com o sistema VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), com 45 quilômetros de extensão. Os trens são semelhantes aos do sistema do Rio de Janeiro, inaugurado em 2016 para os Jogos Olímpicos.

A revitalização deu um ar moderno à medieval Bordeaux. O melhor exemplo disso está à beira-rio.

Em frente à praça da Bolsa de Valores, erguida no século 18 para abrir a cidade então murada, foi construído o maior espelho d'água do mundo. A cada 20 minutos, a estrutura asperge uma camada de água pelos pouco mais de 3.000 metros quadrados de laje de granito, criando um efeito de neblina às margens do rio Garonne.

A água fica estocada no subsolo em um reservatório de 800 metros cúbicos. Quando a temperatura sobe, muitas pessoas, principalmente crianças e jovens, aproveitam o banho de água para se refrescar.

A alguns metros do espelho d'água, fica a Porte Cailhau, construída em 1494 para celebrar a vitória do rei francês Carlos 8 na Batalha de Fornovo.

O monumento é um resquício da época que a cidade era toda murada para se proteger da invasão de bárbaros que buscavam saquear suas riquezas.

Depois de reformas, em 2009 a praça se tornou exclusiva para pedestres, que podem ficar em um de seus cafés com mesas nas calçadas.

'PARQUE TEMÁTICO'

Em junho do ano passado, os amantes de vinho ganharam mais um endereço obrigatório em Bordeaux com a inauguração da Cité du Vin (a cidade do vinho), um espaço aberto com mais de 3.000 metros quadrados.

O local tem mais de 20 áreas temáticas com exposições sobre a história do vinho, as diferentes técnicas de produção, as principais regiões produtoras e a comercialização da bebida.

O misto de museu e parque de diversões busca trazer uma nova experiência para o amante da bebida, com telas 3D e imagens aéreas que permitem que o visitante descubra diferentes regiões vinícolas como se as sobrevoasse de helicóptero.

Por € 20 (R$ 76), o turista pode visitar essas atrações e ainda degustar uma taça de vinho no sétimo andar do prédio, desfrutando de uma vista de toda a cidade.

No topo do edifício também está o restaurante panorâmico Le 7. Das 10h até a meia noite o espaço oferece café da manhã, almoço, lanches e jantar, com destaque para os pratos típicos e uma carta de vinhos com rótulos de 50 países.

O restaurante tem um cardápio francês tradicional com um toque contemporâneo. A vista é uma das mais bonitas da cidade.

As entradas custam entre € 15 (R$ 57) e € 17 (R$ 64), e os pratos principais cerca de € 30 (R$ 114). As sobremesas, como o cheese cake de maçã verde e manjericão, custam € 12 (R$ 45).

Editoria de Arte/Folhapress

VINHOS

Os vinhos tintos representam mais de 80% da produção de Bordeaux, mas os brancos não podem ser esquecidos, em especial os cultivados em Péssac-Leógnan. Feitos geralmente com uma mescla das uvas sémillon e sauvignon blanc, eles são a companhia perfeita para frutos do mar servidos em qualquer época do ano.

A junção dos dois grandes rios da região (Dordogne e Garonne) forma o Gironde, que deságua no oceano Atlântico e propicia moluscos, peixes e crustáceos frescos que abastecem restaurantes locais. Um dos destaques são as ostras que vêm da baía de Arcachon, um dos principais polos de produção do molusco na França.

Nos restaurantes bordeleses, podem ser servidas acompanhadas apenas de limão ou então, seguindo o costume local, com linguiça de porco condimentada.

No centro histórico, no distrito de Saint Pierre, em que ainda se veem resquícios da muralha construída no século 15 para proteger a cidade da invasão de bárbaros, uma opção é o Le Petit Commerce, restaurante simples, especializado em frutos do mar. Uma bancada à frente do restaurante, aberto do almoço ao jantar, mostra quais as opções mais frescas.

No almoço executivo, eles oferecem uma opção com entrada, prato principal e sobremesa por € 25 (R$ 95). No jantar, um tartare de atum de entrada e lulas grelhadas como principal, acompanhadas de duas taças de vinho branco, deram no total € 40 (R$ 152).

Das pastagens às margens do rio Gironde são criados milhares de cordeiros, considerados a melhor companhia para os tintos de Bordeaux. O cordeiro de Paulliac (região famosa pelo cultivo da uva cabernet sauvignon) é conhecido por ser alimentado apenas pelo leite da mãe, proporcionando extrema maciez.

Outra opção é o cordeiro pré-salgado, chamado assim porque os animais se alimentam de pastagens inundadas pelo mar, o que confere à carne um sabor mineral.

Os cardápios também oferecem outros pratos de carnes, como a entrecôte à bordelaise, em que a carne é feita em um molho à base de vinho tinto, cebolinha, alho, salsa e às vezes tutano.

Na hora da sobremesa, um doce típico é o canelé, um pequeno bolinho crocante por fora e úmido por dentro que pode ser servido em cafés ou restaurantes. Para acompanhar, os bordeleses oferecerão uma taça de Sauternes, nome da região que produz alguns dos mais famosos vinhos de sobremesa do mundo, com destaque para o feito pelo Château d'Yquem.

A demanda cada vez maior de estrangeiros pelos vinhos de Bordeaux fez com que muitos bares de vinhos abrissem as portas nos últimos cinco anos. Um dos destaques é o Le Millésime, no centro histórico, a poucos metros da praça da Bolsa de Valores. Seu atrativo não está nas tapas que oferece, mas na carta de vinhos: o cliente pode escolher uma taça de Cheval Blanc (um dos tintos mais famosos da região, oriundo da comuna de Saint-Émilion) da safra 2004 por € 60 ( R$ 228) ou tomar uma taça de Château d'Yquem da safra 1995 por € 25 (R$ 95).


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