Folha de S. Paulo


Potencial vinícola do Uruguai ultrapassa a uva tannat

Os amantes brasileiros do vinho já colocaram na sua agenda anual o evento Tannat Tour, que promove o vinho mais icônico do país.

Mas o Uruguai –que de fato conseguiu fazer do tannat um vinho de alta qualidade e de aceitação internacional– tem potencial para muito mais do que isso. Visitando adegas do país vizinho, saí procurando outras variedades de uva com bom desempenho, sem me decepcionar.

Na principal região produtora, Canelones, ao norte de Montevidéu, os inquietos irmãos Pisano, da vinícola que leva seu nome, não cessam de experimentar (agora com o reforço da nova geração, com a Viña Progreso). Seus tannat correm o mundo, mas é preciso conhecer vinhos como os da linha Río de los Pájaros, o branco Torrontés 2017; o rosé 2017 feito de cabernet franc e syrah; e uma raridade por aqui, o pinot noir 2016 cheio de personalidade.

Outra uva fora da curva, a petit verdot 2015, da linha RPF, também se destaca.

Da Viña Progreso, outras alternativas ao tannat são o branco Viognier 2017; e, da safra 2015, o cabernet franc e o sangiovese.

A bela vinícola Bouza, com boa estrutura (e restaurante) para receber visitantes, tem vinhedos ainda relativamente jovens e desde o início investiu nos brancos de uva alvarinho e também na branca chardonnay. As vendas de tannat chegam a 30% de sua produção, mas a vinícola também investe em merlot e tempranillo -que, combinadas com tannat, produzem o belo vinho Monte Vide Eu 2015. Dos vinhedos que plantaram em outra região, Maldonado (perto do mar, em Punta del Este), veio também o belo pinot noir 2015.

A gigante Juanicò tem uma vinícola especial para seus vinhos premium, e que leva o nome dos proprietários -Familia Deicas. Eles fazem um branco chardonnay que passa seis meses em barrica de carvalho usada; o Preludio 2010 Barrel Select Lote 96, um blend de seis uvas (com predominância de tannat) guardado três anos em barricas; e um merlot de boa tipicidade, o Cru d'Exception 2009.

Em outra região vinícola, a Província de Montevidéu, a Carrau vem de longa tradição, bastante fincada nos tannat (que produz desde 1979, e exportou pioneiramente). Mas hoje aposta também em variedades como cabernet franc, merlot, petit verdot e petit marsin.
O Juan Carrau Gran Reserva 2014, por exemplo, é um blend de tannat com cabernets sauvignon e franc; e nos brancos, tem destaque o sauvignon blanc Sur Lie 2016.

Se boa parte das vinícolas de Canelones ficam a norte de Montevidéu, a Bracco Bosca fica a leste, já bem perto do mar. Fundada em 2015, ela ocupa vinhedos que estão na família há cinco gerações. Entre seus melhores vinhos está o Gran Ombú Cabernet Franc 2016, com destaque também para o Ombú Reserve Petit Verdot 2016 -duas variedades que vão se dando bem no Uruguai.

O colunista da Folha viajou a convite do Ministério do Turismo do Uruguai


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