Folha de S. Paulo


Museus contam a história de carros de luxo na Itália

Quando comecei a planejar uma viagem de férias à Itália, meus filhos adolescentes não queriam passar horas presos em museus. Prometi que isso não aconteceria, e a agenda de nossa viagem de duas semanas terminou por se provar bem equilibrada: Roma teve mais a ver com o Coliseu, o Panteão e escalar o domo da Basílica de São Pedro do que com contemplar arte religiosa medieval.

Mas chegou o dia em que a promessa que eu havia feito não pôde ser mantida. Nossa viagem previa apenas um dia em Modena, e para ver todas as obras-primas que constavam em nossa lista tivemos de passar quase nove horas em três museus.

Naquele dia, porém, as obras de arte eram carros. Bem, essa é uma descrição muito chocha para o que vimos. Os modelos italianos de elite no Museu Lamborghini e nos dois museus da Ferrari pareciam pertencer a uma espécie completamente distinta dos carros comuns.

Começamos pelo Museu Lamborghini, uma edificação de dois pavimentos ao lado da fábrica da empresa em Sant'Agata Bolognese, a cerca de meia hora de Modena.

A exposição começa pelos primeiros Lamborghinis, menos vistosos, como o 400 GT 2+2, de 1966, o segundo modelo fabricado pela empresa. Mas logo chegamos ao esguio Miura (1966), que meu filho descreveu como "um dos carros mais bonitos de todos os tempos", notável pelos "cílios" em torno dos faróis.

Perto do Miura, vimos o Countach (1974), com sua frente em formato de cunha, bem próxima do solo, capô maciço e entradas de ar que o fazem parecer futurista ainda hoje. Nos anos 1970 e 1980, o modelo apareceu em filmes como "Quem Não Corre, Voa" e "Rain Man".

O primeiro piso também exibe algumas excentricidades como o LM002, utilitário produzido entre 1986 e 1992.

O segundo piso mostra modelos mais novos, como um Murcielago laranja brilhante –Bruce Wayne dirigia um em "Batman Begins".

A loja de presentes do museu tem um showroom, no qual você pode adquirir um Lamborghini real como suvenir. Outros produtos de preço alto incluem um jogo de malas feito de fibra de carbono que custa dezenas de milhares de euros.

FERRARI

De volta a Modena, o Museu Enzo Ferrari ocupa um edifício impressionante, projetado pelo arquiteto tcheco Jan Kaplicky, com uma frente curva de vidro e um teto amarelo, com incisões que se assemelham às entradas de ar de um carro. Há exposições secundárias em um edifício de tijolos do século 19 que um dia abrigou a oficina do pai de Enzo Ferrari.

O museu oferece painéis históricos detalhados, exposições reformuladas a cada ano e apresentações em vídeo –que, assim como os carros expostos, passam por rotação regular.

Os painéis históricos contam a trajetória de Ferrari, de seus dias como piloto aos anos em que trabalhou para a Alfa Romeo, antes de criar sua empresa, no fim da Primeira Guerra Mundial.

O modelo 166, apresentado em 1948 no Salão do Automóvel de Turim, se parece mais com um comportado sedã americano Packard do que com as Ferraris esguias pelas quais a empresa é famosa.

Os modelos seguintes logo provaram ser mais vistosos, como a Testarossa de 1984, com fendas laterais e elementos horizontais de design que o fazem parecer impossivelmente baixo e largo.

Meus filhos babaram ao ver esse modelo, mas tiveram uma reação menos positiva com o F100-R (2000), um carro conceitual exposto ao lado, com para-brisas curvo e superfície angular que sustenta faróis em três níveis.
Talvez o mais impressionante naquele mar de vermelho tenha sido a coleção dos "carros sagrados" da Ferrari, os modelos ultraesguios de topo de linha, do 512 Berlinetta Boxer (1973) e do 288 GTO (1984) ao mais recentes Enzo (2002) e o híbrido LaFerrari, que está em linha desde 2013.

Para os fãs de corridas, a verdadeira atração é o Museu Ferrari Maranello, a cerca de meia hora a sudoeste, na cidade homônima para qual Enzo Ferrari transferiu sua fábrica quando Modena estava sendo bombardeada, na Segunda Guerra Mundial.

O museu tem um hall dos campeões de Fórmula 1, com uma exposição permanente de carros de corrida e detalhes sobre a evolução da segurança dos monopostos e outras batalhas industriais, além de edições especiais como o SP12EC, inspirado pelo 512BBi e encomendado pelo guitarrista Eric Clapton.

O museu tem um ar moderno e oferece a oportunidade de tirar uma foto dentro de uma Ferrari, além de experiências interativas para grandes grupos, como um pit stop simulado de Fórmula 1 e a oportunidade de pilotar em outro simulador.

Os visitantes também podem fazer uma aula de pilotagem de 15 minutos no autódromo de Modena, pista que já foi usada para provas de Fórmula 1 e hoje é empregada por Ferrari, Lamborghini e Maserati para testes de carros. O turista pode alugar uma Ferrari por uma pequena fortuna ou entrar na pista com o seu carro –e levar um passageiro por volta.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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MUSEUS ENZO FERRARI E FERRARI MARANELLO
Horário Seg. a dom., das 9h30 às 18h
Ingresso R$ 59 (para cada museu); R$ 96 (dois museus)
Sites musei.ferrari.com/en/modena e musei.ferrari.com/en/maranello

MUSEU DA LAMBORGHINI
Horário Seg. a dom.: das 9h30 às19h
Ingresso R$ 55
Site lamborghini.com/en-en/experience/museum


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