Folha de S. Paulo


Conquista do monte Roraima revela cachoeiras, vales e lendas

Antes presença única nos arredores do monte Roraima, o povo pemon, nativo da região, hoje convive com turistas do mundo todo. São amantes do trekking que vão para lá fascinados com a chance de caminhar até o topo dessa montanha gigantesca, estrela da fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana.

Só em 2016, cerca de 4.000 aventureiros estiveram no cume do tepui –o nome refere-se à formação ao estilo mesa–, de incríveis 2.734 metros de altura e 55 quilômetros quadrados de área. Tal façanha é possível graças a Everard im Thurn, botânico inglês que explorou a área nos séculos 19 e 20 e deixou vários relatos, facilitando a demarcação das trilhas.

O desafio tem como ponto de partida o lado venezuelano do monte (o país detém 85% de seu território, a Guiana, 10%, e o Brasil, 5%). Depois de chegarem em Boa Vista, capital de Roraima, grupos de viajantes brasileiros vão de carro à cidade de Santa Elena de Uairén e, de lá, partem num veículo 4x4 para o povoado de Paraytepui, onde a caminhada começa.

Editoria de Arte/Folhapress

É ali que acontece o primeiro contato com os guias locais, obrigatórios no trekking e peça fundamental para conhecer o misticismo do lugar. Formado há mais de 2 bilhões de anos, o monte Roraima é, para os indígenas pemon, um lugar sagrado, a mãe das águas, por reunir a nascente de vários rios. Antes de subir nele, os indígenas pedem permissão a Makunaima, guerreiro guardião do tepui.

Com mochilas nas costas, bota de trekking nos pés e câmera a postos, os turistas começam a caminhada. São dois dias para chegar à base da montanha, um terceiro para subir ao topo, dois para explorar suas belezas e outros dois para retornar a Paraytepui, pelo mesmo caminho.

Apesar de longo –são 16 quilômetros de trilhas até o acampamento do rio Tek, onde as barracas são armadas–, o trajeto do primeiro dia é tranquilo. Pode ser vencido em cinco horas, tendo como pano de fundo o monte Roraima e seu "tepui irmão", o Matawi-Kukenán.

O dia seguinte começa cedo, com um café da manhã reforçado. O percurso de sete quilômetros até o acampamento base, aos pés da montanha, tem muitas subidas, exigindo outras cinco horas de andanças. O ponto alto são as travessias dos rios, que também servem de quebra-galho para um banho diário, ao menos para quem suporta águas geladas.

De pé novamente, eis o maior teste físico da aventura: a subida da montanha. O trajeto de 4,5 quilômetros tem terreno íngreme e requer habilidade com as mãos, porque há trechos em que as pedras formam degraus altos. Mas o monte Roraima reserva cachoeiras e mirantes como pontos de descanso.

Quando o cume é alcançado, é hora de contemplar vistas exuberantes. Graças a características singulares de terreno e clima, o que se vê lá em cima é distinto de qualquer outra paisagem.

Os dias no topo são reservados para explorar as formações rochosas com aspecto circular, os vales repletos de cristais, o ponto triplo, que marca o encontro dos territórios de Brasil, Venezuela e Guiana, e os mirantes. O mais famoso deles é o La Ventana, de onde se vê, em um dia claro, uma ponta do monte Roraima e todo o Kukenán, além de várias cachoeiras.

Naturalmente úmida, a montanha guarda ainda rios e piscinas naturais. Estas, apelidadas de jacuzzis, são utilizadas para banho –geladíssimo, de novo. Destacam-se ainda as plantas e os animais endêmicos. Um virou símbolo do local: o Oreophynella quelchii, sapinho negro pouco maior que uma unha.

Entre uma caminhada e outra, o grupo descobre fendas e cavernas impressionantes e passa por hotéis –nome dado a locais escolhidos para montar acampamento, pela cobertura natural de pedras e proximidade de água.

As duas noites lá em cima são suficientes para ter a certeza de pisar numa terra, no mínimo, diferente. Antes de desmontar acampamento e retornar à civilização, em dois dias de caminhadas montanha abaixo, acordar antes do sol nascer é a dica de ouro.

A paisagem inóspita, o silêncio, o vaivém de nuvens e os primeiros raios de luz levam mesmo a pensar que os pemon têm razão: há algo de sagrado no monte Roraima.

*

PARA CIMA
Prepare sua viagem ao monte Roraima

COMO IR
As principais operadoras que atuam no local oferecem duas opções: pacote básico de sete dias (duas noites no topo), com serviços a partir de Boa Vista até o retorno à cidade, como transporte terrestre e apoio no trekking; e pacote completo, que inclui também duas noites de hospedagem em Boa Vista e transfer de ida e volta para o aeroporto

Roraima Adventures
Pacote básico, R$ 2.950 por pessoa, em grupos de pelo menos três pessoas. Pacote completo, R$ 3.850.
Tel.: (95) 3624-961; roraimabrasil.com.br

Pisa Tur
Pacote básico, R$ 2.490 por pessoa, em grupos de pelo menos três pessoas (saídas até 29 de junho), ou R$ 2.950 (saídas a partir de 30 de junho). Pacote completo, R$ 3.090 (saídas até 29 de junho), ou R$ 3.750 (saídas a partir de 30 de junho). Tel.: (11) 5052-4085; pisa.tur.br

Cia Eco
Pacote básico, R$ 2.490 por pessoa, em grupos de pelo menos três pessoas (saídas até 30 de junho), ou R$ 2.950 (saídas de julho a dezembro). Pacote completo, R$ 3.190 (saídas até 30 de junho), ou R$ 3.850 (saídas de julho a dezembro). Tel.: (11) 5571-2525; ciaeco.tur.br

GRAU DE DIFICULDADE
Médio. Não é preciso ter experiência prévia, porém as caminhadas são realizadas em terrenos acidentados, exigindo bom condicionamento físico. O viajante também deve estar ciente de que acampará todas as noites durante o trekking

COMIDA
Durante o trekking as refeições são fornecidas pelo receptivo e preparadas pelos guias: café da manhã, lanche, almoço e jantar. Há desde frutas e pães até ovos e massas

O QUE LEVAR
Itens de higiene pessoal, medicamentos, roupas de trekking, casaco para noites frias, gorro, luvas, óculos de sol e lanterna

QUANDO IR
A montanha pode ser visitada durante todo o ano. Mas, entre agosto e março, as chuvas são menos abundantes, o que facilita as caminhadas

DOCUMENTOS
Na fronteira entre Brasil e Venezuela, é preciso apresentar documento de identidade original e certificado internacional de vacinação atestando vacina contra febre amarela

ONDE FICAR
Em Boa Vista

Aipana Plaza Hotel. Diária a partir de R$ 275. Tel. (95) 3212-0800; aipanaplaza.com.br

Zii Hotel Boa Vista. Diária a partir de R$ 222,27. Tel. (95) 3194-2150; ziihotel.com


Endereço da página:

Links no texto: