O turista que vai a Nova York, nos Estados Unidos, está fadado a bater cartão em pontos turísticos urbanos como pontes e prédios. Então, por que não ser utilitarista e resolver tudo em um só dia?
Uma vez por ano, a cidade organiza um passeio de 40 milhas (cerca de 65 km) sobre rodas, passando pelos cinco "boroughs", como são chamados os distritos com unidades administrativas próprias.
A Five Boro Bike Tour começa da manhã em Manhattan, o distrito mais famoso. Subir a Sexta Avenida pela faixa de carros é poder pedalar olhando para os edifícios Flatiron e Empire State (que já foi o maior do mundo e hoje é só o 34º), que passarão ao lado. Só cuidado com os colegas de asfalto, já que a via está vazia de motoristas, mas não de ciclistas.
São 35 mil pessoas, entre crianças, idosos e cadeirantes. Tanta quilometragem pode assustar, mas o ritmo abraça mesmo quem pedala apenas aos fins de semana.
A reportagem participou do passeio sem ter se inscrito (há uma porção de pessoas que entram no esquema da "pipoca", no meio da prova), mas não recomenda que o leitor faça o mesmo.
O trajeto é plano como uma panqueca, com exceção de uma rampinha ou outra para entrar e sair das pontes. "Achei que não fosse conseguir. Suei, mas foi", diz o designer Robert Morley, 42, que fez o percurso em quatro horas e meia. Quem sair nos primeiros pelotões também tem a vantagem de encontrar as ruas desertas, como num comercial de carro.
Após percorrer a parte sul da ilha, a procissão de rodas entra no Central Park, que é cortado de fio a pavio, com direito a vistas corridas do zoológico, lagos e do prédio do Metropolitan Museum.
| Lucas Marshall/Divulgação | ||
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| Pista fechada para os 35 mil participantes da prova de ciclismo que anualmente cruza Nova York |
No Harlem, por volta das 9h, algumas igrejas abrem suas portas e deixam vazar o som de corais cantando louvores como "Amazing Grace" –incentivo divino para pernas que já começam a assar.
Para cumprir a promessa de passar pelos cinco distritos, alguns trechos acabam sendo só uma pedaladinha.
Como a incursão pelo Bronx –com fama de lugar barra-pesada, mas que já está em processo avançado de gentrificação–, que dura menos de um quilômetro. Após a passagem-relâmpago, estamos de volta à ilha.
Dezenas de quarteirões para baixo por uma rodovia e é hora de virar para o Queens. Ao olhar para trás na hora de cruzar a Queensboro Bridge, a sensação é de estar em um episódio de "Sex and the City" (ou de "Girls", dependendo da sua geração).
Talvez o distrito mais autêntico do trajeto, o Queens mostra aos participantes suas ruas de imigrantes, com comunidades dos quatro cantos do mundo acordando e tomando cafés da manhã na rua.
Outro pedaço de rodovia, uma ponte e pronto: chega-se ao Brooklyn. "Pensei que fosse ver uma Nova York escondida, mas só vi estrada", queixa-se a escritora Orla Tinley, 28, que mora há três anos na cidade. Para um turista, entretanto, mesmo os 50 tons de cinza do asfalto nova-iorquino podem fazer o passeio valer.
Há trechos de pura beleza. Em Brooklyn Heights, esplanada à beira do rio, vê-se a ilha de Manhattan de baixo, incluindo o novo World Trade Center, e é difícil manter o equilíbrio (emocional ou literal). De lá, é só descer para o Brooklyn profundo, onde há mais judeus ortodoxos do que hipsters, e seguir para o último distrito.
Mais uma rodoviazinha e estamos em Staten Island. É o fim da linha, para a alegria do períneo? Sim e não: quem quiser voltar para Manhattan tem de enfrentar mais seis quilômetros até o terminal náutico de St. George, para pegar uma balsa até o Battery Park, no sul da ilha.
FIVE BORO BIKE TOUR
Onde Nova York (EUA)
Quanto US$ 94 (cerca de R$ 300)
Mais bike.nyc