Folha de S. Paulo


Conheça histórias de quem fez viagens de volta ao mundo e planeje a sua

Em janeiro de 2019, a psicóloga Mariângela Gamba, 50, e o marido, o professor Marcos Maestri, 57, celebrarão 25 anos de casados em um cruzeiro que passará por 31 países e cinco continentes.

"Trabalhamos desde pequenos. Não tivemos tempo para viagens. Financeiramente, também não podíamos. Escolhemos dar boas escolas para nossos filhos. Agora vamos compensar", explica Gamba, que ficará quatro meses em um navio.

O casal representa dois dos quatro passageiros que anualmente escolhem trajetos de volta ao mundo num universo de 4 milhões de viajantes anuais da CVC. "O preço não é o principal empecilho. É o tempo", explica Valter Patriani, vice-presidente de produtos, vendas e marketing da CVC. A agência de turismo vende pacotes de cruzeiros que dão a volta na Terra a partir de R$ 45,6 mil por pessoa, com duração de 106 noites.

O longo período fora de casa foi o principal motivo para Gamba começar a se preparar com dois anos de antecedência. "Ganho por atendimento na clínica, vou ficar meses sem trabalhar. Preciso de tempo para me organizar."

Tempo não é mais problema para o engenheiro aposentado Gilberto Filipe, 67. De navio, ele fez em 2014 a primeira viagem ao redor do globo com a mulher, Maria do Carmo Filipe, 64. Planejam para 2018 uma segunda volta ao mundo. "Esse novo cruzeiro cobre lugares que não passei da primeira vez, como Japão, China e Vietnã", diz ele, que ficará 180 dias viajando por 44 países, em um pacote que tem preços a partir de R$ 120,5 mil por pessoa.

"Quando você é mais novo, coloca a mala nas costas, é avião pra lá, aeroporto pra cá, táxi, hotel, faz mala, desmancha mala, dá muito trabalho. Na minha idade, faz mal. De navio, é uma comodidade. Tem comida, médico e lavanderia. É como se eu estivesse em casa", avalia.

Já o coordenador financeiro Marcio Onodera, 39, abriu mão do conforto para embarcar na aventura da mulher, a enfermeira Camila Kasai, 35. "Ela tinha vontade desde criança de fazer 'hikings', que são caminhadas pelas montanhas", diz ele. Juntos subiram os Andes, no Peru, e a cordilheira do Atlas (Marrocos), uma preparação para o foco da viagem, a montanha Annapurna, no Nepal, um dos pontos altos do Himalaia.

"A gente já tinha feito várias viagens curtinhas. Queríamos algo diferente, passar mais tempo em cada país. Conhecer outras culturas, os contrastes entre a metrópole e o vilarejo". Ao todo, foram 34 países em exatos 365 dias.

Onodera aproveitou que a mulher havia sido demitida para também sair do trabalho. "Tinha o dinheiro do FGTS dela para complementar o que a gente já tinha economizado. Pensei: é agora ou nunca." Ao todo, o casal gastou cerca de R$ 100 mil. "O que dava, a gente percorria de ônibus ou barco para economizar", explica.

O analista de sistemas Renan Quinhoneiro, 26, gastou ainda menos em 2015. Em nove meses, foram R$ 40 mil para visitar 19 países, "a maior parte em passagens aéreas".

"Eu me planejei para usar US$ 50 [R$ 160] por dia. Na Europa foi mais, mas compensei no Sudeste Asiático, onde dá para viver com US$ 20", diz Quinhoneiro. Ele chegou a passar dez dias como monge budista na Tailândia.

O investimento valeu a pena. No mês passado, Quinhoeiro se mudou para a Suíça para trabalhar numa start-up que desenvolve plataformas para agências de turismo. "Minha experiência de volta ao mundo contou pontos para a contratação."

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Como fazer a viagem

Pacotes para dar a volta no planeta

AVIÃO

As Sete Maravilhas do Mundo Moderno
Parceria com a Star Alliance, o pacote tem passagens para sete países, incluindo o Brasil. A partir de US$ 4.021 (R$ 12.807). Na CVC: cvc.com.br

Four Seasons Private Jet Experience
Acomodações na rede Four Seasons e voos em jatos. Passa por nove países. Com refeições e excursões, US$ 135 mil (R$ 430 mil)/pessoa. Na Teresa Perez: teresaperez.com.br

The Star Alliance Round the World Ticket
O pacote aéreo da Star Alliance permite escolher até 16 cidades entre 1.330 destinos, com início e fim no mesmo país. O preço é calculado por milhagem. A partir de US$ 3.835 (ou R$ 12.215). Site: staralliance.com/en/book-fly.. Vendas em agências de viagens

CRUZEIROS

Costa Luminosa
Com saída em 6/1/2018, de Veneza, dura 106 noites e passa por 26 países dos cinco continentes. A partir R$ 45.688/pessoa. Na CVC: cvc.com.br

MSC Magnífica
Em 118 noites, visita 31 países. Saída do porto de Civitavecchia, na Itália, em 4/1/2019. A partir de R$ 59.723/pessoa. Na CVC: cvc.com.br
Oceania Insígnia
São 180 dias e paradas em 44 países, como Barbados, Madagáscar e Quênia. Sai em 8/1/2018. A partir de R$ 120.519/pessoa. Na CVC: cvc.com.br

INTERCÂMBIO

Open Choice
Programa em parceria com o Eurocentre, com até 48 semanas em quatro países. É possível optar entre 38 destinos de 16 países, como África do Sul, México e Japão. Roteiro com aulas em Londres, Vancouver, Sydney e Paris custa R$ 29 mil, com material e matrícula, mas sem aéreo, hospedagem e alimentação. Na STB: stb.com.br

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Primeiros Passos

Não importa se a ideia é passar três ou mais meses cruzando o mundo. O período de preparação para essa viagem leva pelo menos um ano. "Quanto maior a antecedência, melhor. É importante considerar vistos e vacinas necessárias, por exemplo. Um ano é o ideal", diz Tomas Perez, presidente da agência Teresa Perez. Veja abaixo as principais preocupações que o turista deve ter ao organizar uma volta ao mundo.

SAÚDE
"Tomei mais de dez vacinas", diz Marcio Onodera, que fez uma viagem de volta ao mundo com a mulher em 2014. Em São Paulo, o Hospital das Clínicas e o Emílio Ribas orientam turistas sobre quais vacinas devem ser tomadas de acordo com cada país que será visitado. As páginas das embaixadas dos destinos também trazem essa informação. Uma das mais pedidas é a de febre amarela. Mais informações e passo a passo sobre como tirar a carteirinha internacional de vacinação estão no site viajante.anvisa.gov.br.
Além de atualizar a carteira, é prudente fazer um seguro viagem -corretoras oferecem opções especializadas em viagens de longo prazo. "Antes de uma viagem dessas, orientamos um check-up e, se necessário, levar todas as receitas de remédios em inglês", explica Bruno Contrera, gestor de cursos e universidades no exterior da STB.

VISTOS
Como a viagem é longa e os vistos têm prazo para expirar, é possível que os turistas precisem fazer alguns desses trâmites burocráticos no meio do roteiro, visitando embaixadas nos países em que estão para conseguir as permissões. Quem não deseja passar por esse processo deve reavaliar os destinos. "Queria conhecer a China, mas era preciso tirar o visto antecipadamente no Brasil. Como minha viagem era longa, quando eu chegasse à Ásia, a permissão não valeria mais", diz Renan Quinhoneiro, que passou nove meses viajando. "A maioria dos países permitia que o visitante retirasse o visto no desembarque do aeroporto", continua Quinhoneiro.

CÂMBIO
Não é seguro levar dinheiro em espécie em diferentes moedas. O ideal é ter uma pequena quantia de dólares e euros. Além de cartão de crédito.
Marcio Onodera levou também um cartão de viagem que funciona em modelo pré-pago: ao depositar reais no cartão e fazer uma compra, ele automaticamente converte o valor para a moeda local.

BAGAGEM
A mala deve ser a mesma usada para ficar uma ou duas semanas fora de casa. "Levei uma mochila de 55 litros. Fui deixando roupas pelo caminho, porque o sapato fura, a camiseta rasga. Deixei para comprar os casacos mais pesados diretamente nos países mais frios", diz Quinhoneiro.
No caso de um cruzeiro de volta ao mundo, é possível levar bagagens mais pesadas.

ECONOMIA
Para poupar, uma das possibilidades é optar sempre que possível pelo transporte noturno. Sobretudo na Europa, a maioria dos trens e ônibus é confortável e se torna opção para economizar o valor do hotel ou do albergue.

COMIDA
Em muitos lugares, nem o inglês salva. "Não são todos os restaurantes que têm cardápio traduzido. Na China, por exemplo, não sei o que são até hoje muitas das coisas que comi", diz Onodera.
Para quem não deseja aventuras gastronômicas, há duas opções: escolher grandes redes ou ter um celular com internet que traduza os ingredientes do menu.
Os navios de cruzeiro também são opções seguras, já que geralmente oferecem culinária internacional.

SIMULADO
Antes de comprar uma passagem em cruzeiro de volta ao mundo para 2019, Mariângela Gamba fez cinco viagens de navio para se adaptar.
O turista que deseja dar uma volta ao mundo deve começar com viagens internacionais mais curtas antes de passar meses fora do Brasil -e assim aprender a lidar com imprevistos e burocracias.
"Como só fui a Paraguai, Uruguai e Argentina, o cruzeiro me deu mais segurança. Se ficar com medo, não desço do navio", diz Gamba.


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