Folha de S. Paulo


Férias compartilhadas com modelo de 'timeshare' crescem no Brasil

O mercado de "timeshare" ganhou um novo impulso no Brasil. A modalidade de férias compartilhadas –que permite a compra fracionada de imóveis de veraneio ou a adesão a clubes de hospedagem– cresceu com a crise.

Em 2016, a RCI, maior empresa do setor no Brasil, registrou um crescimento de 12% e espera aumentar mais dois dígitos neste ano.

A modalidade surgiu na Europa nos anos 1960 e depois migrou para os Estados Unidos, onde se popularizou.

Em geral, há duas opções de negócio: comprar parte de um imóvel junto a outros desconhecidos (algo como adquirir uma propriedade com 51 pessoas para ter direito de ir ao local uma semana por ano) ou assinar um contrato para adquirir pontuação com empresas intercambiadoras, como a RCI e a Interval. Nesse caso, antes de sair de férias, os clientes podem converter seus pontos em reservas em hotéis e resorts.

Se o viajante pretender adquirir uma parte de um apartamento, o investimento é mais alto e requer cuidado.

"Para evitar ciladas é importante que o consumidor leia com calma as cláusulas contratuais que falem de suas obrigações e busque assessoria em caso de dúvidas", recomenda Bruno Frullani Lopes, advogado especialista em direitos do consumidor.

CALOTES E MUDANÇA

O setor ainda guarda má fama por calotes de empresas nos anos 1980. "Prédios foram comercializados na planta, mas nunca foram entregues", lembra Alexandre Mota, que é diretor de projetos na consultoria de investimentos Caio Calfat.

Os clubes de milhagens para reservas em hotéis também não tinham boa reputação. Na hora de trocar os créditos, muitos associados encontravam dificuldades.

"O sistema on-line tornou o processo mais transparente. Se antes era preciso ligar para um assistente que teria de encontrar hospedagem, hoje os próprios clientes podem buscar entre opções no mundo inteiro", diz Maria Carolina Pinheiro, diretora-geral da RCI no Brasil, empresa que possui uma rede de 170 hotéis e acordos com mais de 60 empreendimentos.

Nos últimos anos, o público que procura o serviço mudou. Tanto a RCI quanto a Interval, que juntas respondem por 98% do mercado brasileiro, dizem que antes a carteira de clientes era composta por aposentados, mas hoje são na maioria famílias com filhos pequenos.

Fernando Martinelli, diretor-executivo da Interval no Brasil, estima que há quase 100 mil clientes no país, ante um número cada vez maior de hoteleiros e incorporadoras dispostos a embarcar no "timeshare".

CONTRATO DE ADESÃO

A advogada paulista Sivone Batista, 37, é cliente de "timeshare", mas questiona a forma que os contratos são feitos. "Somos abordados em momentos de lazer, o que faz com que o cliente não tenha muitas condições de analisar tecnicamente o documento. Não há tempo pra adotar medidas preventivas", diz.

Com seis férias no currículo e hospedagens em lugares como Orlando e Las Vegas, nos Estados Unidos, ela afirma que a modalidade é uma boa opção em casos específicos. "É um excelente investimento para quem tem flexibilidade de programar as viagens com antecedência. Pode ser um tanto complicado conseguir ótimas opções, mas não impossível."

Em tempos de aplicativos como o Airbnb, a professora do curso de turismo da USP Célia Dias define os "timeshares" como "antigos e ineficientes". Martinelli rebate que são meios complementares. "O Airbnb é uma ferramenta que se destaca, mas a família que viaja com os filhos quer segurança e serviços hoteleiros", afirma.

O líder de logística Anderson Felipe, 29, que vive em Franco da Rocha (região metropolitana de São Paulo), assinou um contrato de "timeshare" em 2016.

"O que mais me chamou atenção foi a possibilidade de viajar a vários lugares do mundo com preços acessíveis." Ele calcula seu gasto mensal em torno de R$ 300.

Os entrevistados do setor são unânimes em dizer que a crise, nesse caso, significa oportunidade. "É um programa de compra de diárias no atacado, com preços menores e parcelamento de longo prazo –um produto que permite ter férias planejadas com custos sob controle", argumenta Mota.


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