Folha de S. Paulo


St. John, nas Ilhas Virgens, tem praias desertas, boa comida e resort luxuoso

Se o seu carro alugado quebra em uma manhã de sábado e o deixa imobilizado no estacionamento de uma praia, por exemplo, ligar para o telefone de emergência cujo número está no chaveiro em geral resulta em descobrir que: a) eles não trabalham aos sábados, e b) a pessoa que atende responde que pode ser que eles consigam um carro reserva para você, mas não se sabem exatamente quando.

Por fim, você percebe que o motivo para que sua calamidade esteja sendo tratada como um simples inconveniente é porque é exatamente isso que ela é.

Inconvenientes como esse podem ser um lembrete para seguir o precioso conselho de um morador de St. John por mais de duas décadas: é preciso desacelerar.

St. John desabrocha de maneiras inesperadas se você souber esperar. Desacelerar pode ajudar na descoberta de uma pequena trilha perto de um mirante chamado Peace Hill, que leva a uma praia deserta -a maioria dos visitantes passa pela trilha sem perceber, porque estão a caminho da atração turística principal da área, as ruínas de um velho moinho.

Desacelerar é o que permite ver a fauna marinha se esgueirando entre os manguezais ao mergulhar no East End de St. John.

No começo, os minúsculos crustáceos e peixes são invisíveis, mas se você se movimentar o menos que puder e esperar, eles lentamente começam a aparecer.

Também é assim que se descobre um ótimo restaurante de inspiração asiática na cidade, que é fácil ignorar se você não souber como chegar a ele -atravessando um mercadinho para chegar à porta que fica logo além do corredor de junk food.

Se você não desacelerar, pode até passar por St. John sem perceber. Não existe aeroporto ou atracadouro para navios de cruzeiro, o que limita as hordas turísticas. Muita gente nem percebe que o território, uma das três mais importantes ilhas das Ilhas Virgens, é parte dos Estados Unidos. A cidade fica a curta distância de balsa de Saint Thomas, para onde há diversos voos diários partindo de grandes cidades como Nova York, Atlanta e Miami.

O que realmente preserva a sensação de isolamento e calma em St. John é o fato de que a especulação imobiliária é basicamente proibida na ilha. Mais de metade de seu território é ocupada por um dos menos conhecidos entre os parques do Serviço Nacional de Parques norte-americano, o Virgin Islands National Park.

Na ilha, não há empreendimentos imobiliários padrão ostentação, como se tornou comum em outras partes do Caribe. Não existem grandes hotéis, shopping centers, camelôs gritando nas praias e oferecendo bebidas servidas em uma casca de coco, ou propondo que você faça tranças no cabelo.

Desacelere e confira abaixo e ao lado uma lista das atrações que você não pode deixar passar despercebidas quando visitar St. John.

CANEEL BAY

A Caneel Bay abriga um dos mais luxuosos resorts do Caribe. Mas também fica escondida das pessoas apressadas. Se você passa pela baía de barco, dificilmente percebe os edifícios baixos do hotel, pintados de verde e bege, que se confundem com as colinhas vizinhas.

Tudo que existe por lá parece ter sido projetado para não ofender os olhos. Os táxis que transportam hóspedes pela imensa área do resort são pintados de verde pálido, assim como os caminhões do paisagismo e os carrinhos de golfe usados pelas equipes de manutenção e limpeza. As cadeiras de praia são de um marrom arenoso.

Há algo de quase intangível no refinamento de Caneel, para além dos carrinhos de golfe de cores combinadas, dos lençóis com contagem astronômica de fios e dos suntuosos produtos de banho. Estar lá é como ser morador de uma república exclusiva, autossustentada. Um exército de funcionários cuida dos 166 quartos, sete praias e 68 hectares de paisagens impecáveis.

Desde o momento do desembarque no cais privado, os hóspedes se sentem livres de qualquer preocupação. O resort é tão grande que dá até vontade de ser transportado para todo lugar num dos carros que percorrem as estradinhas a intervalos regulares.Muito mais recompensador, porém, é vaguear a pé pelas trilhas que percorrem toda a propriedade, acompanhando as cristas e o contorno da costa. Caneel não custa barato, mas não exclui os visitantes que podem ter outros usos para os US$ 800 (cerca de R$ 2.500) de sua diária.

COSTA NORTE

As praias da costa norte de St. John -Hawksnest Bay, Trunk Bay, Cinnamon Bay e Maho Bay, entre outras- são as mais deslumbrantes atrações da ilha, mas é comum que fiquem congestionadas na alta temporada. Algumas das melhores e mais desertas praias requerem caminhada.

Perto da Cruz Bay ficam as praias de Honeymoon e Solomon, adjacentes ao resort Caneel Bay, mas também acessíveis pela trilha de Lind Pont, que começa no centro de recepção a visitantes do Virgin Islands National Park.

Se procura ainda mais isolamento, experimente Denis Bay. A trilha que leva à praia começa um pouco mais adiante na North Shore Road, logo depois da entrada de Caneel. É preciso passar por Hawksnest e procurar a placa que indica Peace Hill, onde a principal atração são as ruínas de um moinho que oferece lindas vistas para o mar.

A vista paradisíaca justifica a caminhada, antes de descer em direção à praia de areia branca e perfeita, não muito fina a ponto de grudar na pele nem muito áspera a ponto de machucar os pés.

Maho Bay, na ponta leste da North Shore Road, oferece uma experiência muito diferente. Porque fica colada na estrada, a praia tende a lotar. A faixa de areia é mais estreita que a de outras praias na costa norte, como Cinnamon. Mas a baía é mais protegida, e as águas são mais calmas. Muitos visitantes visitam a praia por conta das tartarugas marinhas, que se alimentam da grama rasteira que cresce sob a água. Se decidir mergulhar, a probabilidade é observar muitas delas.

CRUZ BAY

A Cruz Bay é o porto mais movimentado de St. John e serve de terminal para as balsas vindas de St. Thomas e das Ilhas Virgens Britânicas. Ela também é a coisa mais parecida com uma cidade que existe na ilha.

É fácil imaginar que você já viu tudo o que Cruz Bay tem a oferecer depois de 20 minutos de caminhada por suas vielas estreitas. Mas a melhor coisa a fazer é pedir indicações aos moradores locais sobre onde ir.

Se confiar em seu instinto em lugar de perguntar, o turista pode jamais encontrar o food truck Little Olive, que vende pratos gregos como churrasquinho de frango, spanakopita e fritas acompanhadas por Sriracha, queijo feta e orégano, em porções generosas.

Duas outras boas sugestões de comida e bebida também ficam longe dos lugares mais frequentados, mas não é difícil chegar a elas pedindo orientação.

A primeira é o Bowery, um bar pequeno e repousante, ideal para um happy hour. O local fica bem separado do barulho dos bares de praia, isolado por uma porta de vidro. "Isso impede os bêbados de entrar", diz o garçom. Outra vantagem, segundo ele: o Bowery não usa liquidificador para fazer drinques com gelo triturado. Se as Ilhas Virgens tivessem um hino, seria o ronco dos liquidificadores trabalhando sem parar nos bares.

A segunda sugestão é um restaurante divertido de inspiração asiática chamado Rhumb Lines, oculto diante dos olhos de todos no Bayside Mini Mart. Atrás de corredores repletos de salgadinhos, artigos de higiene e refrigerantes, logo depois do caixa do mercadinho, é possível se deliciar com pad thai de camarão, mahi mahi grelhado ou atum revestido com farinha de gergelim e temperado com pimenta de Sichuan.

A Cruz Bay se tornou um pequeno polo de experimentação e inovação culinária nos últimos anos. Come-se muito bem em lugares como La Tapa, que tem um cardápio de frutos do mar, carnes e verduras frescas que muda a cada noite.

Nada escondido mas nem por isso deixa de ser uma feliz descoberta, o bar The Longboard serve petiscos de atum, mahi mahi e tacos de peixe. É claramente candidato ao posto de nova sensação da área.

EAST END

A maioria das pessoas, incluindo muitos moradores de St. John, jamais visita o East End, que fica a talvez meia hora da Cruz Bay, mas ainda assim é como se fosse uma ilha dentro da ilha.

O último recenseamento de St. John constatou que apenas 51 pessoas vivem na área, uma estreita ponta de pedra e areia próxima das águas das Ilhas Virgens Britânicas. As praias são menores por lá. A vegetação é mais seca e há mais cactos.

O traço mais característico são os manguezais, que ladeiam algumas das baías na costa sul. Da estrada, eles parecem ser vegetação comum crescendo à beira mar. Mas, ao mergulhar por ali, o visitante descobre uma verdadeira floresta subaquática -nela é possível observar lagostas, peixes de diferentes tamanhos e cores, corais com franjas que dançam na corrente. Uma dica é não usar pés de pato, que agitam os sedimentos e podem obscurecer a água.

Depois da contemplação dessa maravilha, uma bebida pode ser uma boa pedida. Há duas escolhas: o Shipwreck Landing, que serve tacos de peixe com vista para o mar em Coral Bay, um pequeno assentamento que não chega a ser uma cidade, e o Angel's Rest uma escolha menos convencional, já que nem sempre está no mesmo lugar, porque é um barco de 12 metros. Mas em geral seu capitão, Peter, ancora em algum ponto de Hansen Bay.

Estacione na beira da estrada (só há uma estrada, no extremo leste da ilha), entre na praia por algum buraco na cerca, nade até o barco e peça um drinque -o cardápio incluí tequila, vodca, punch de rum ou doses de uísque de canela Fireball. Pague com dinheiro molhado, observe as tartarugas e desacelere.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


Endereço da página:

Links no texto: