Folha de S. Paulo


Observação de pássaros ganha novos destinos no Brasil; saiba onde praticar

Foi dos rios no sopé da serra de São José que brotou ouro e, graças a ele, nasceu, nas Minas Gerais do século 18, Tiradentes, hoje uma das cidades coloniais mais preservadas do país. Agora, a serra atrai outro tipo de garimpo, uma atividade que exige olhos atentos e um bocadinho mais de paciência: a observação de aves.

Conhecida internacionalmente como birdwatching, a prática começou a incorporar-se ao turismo nos anos 1960, quando muita gente descobriu o prazer de visitar lugares remotos para assistir ao comportamento das aves.

Entre os maiores adeptos do hobby, destacam-se os ingleses, mas os brasileiros se interessam cada vez mais pela atividade. Há dez anos, o número de birdwatchers por aqui não chegava a 2.000. Hoje, são 35 mil, com potencial para chegar a 100 mil nos próximos três anos, de acordo com a Avistar Brasil, ONG que organiza o maior encontro de observação de aves da América Latina.

Também pudera: o Brasil é o segundo país do mundo com maior diversidade de aves. De acordo com a BirdLife International, representada aqui pela Save Brasil, entidade que trabalha na conservação de aves brasileiras, o país tem 1.809 espécies, ficando atrás somente da Colômbia (1.877 espécies).

DE FRENTE PARA A SERRA

Destino com atrações variadas, que vão da festa da cerveja a festivais consagrados, como o de cinema, Tiradentes começa a conciliar o charme de cidade histórica com a imersão na natureza.

Segundo o historiador Luiz Cruz, 57, tiradentino autor de livro sobre a serra de São José, a região é um refúgio de vida silvestre que acolhe, por exemplo, 118 espécies de libélulas, conhecidas popularmente como lavadeiras ou helicópteros, sendo uma delas endêmica –só ocorre por ali.

Geralmente, onde há libélulas há pássaros. Na serra de São José, área de mata atlântica com encraves de cerrado e que se estende por cinco municípios, o biólogo-ornitólogo Kassius Santos, 44, calcula que existam cerca de 400 espécies de aves.

Entre elas, destacam-se o tangará-dançarino, o rabo-mole-da-serra e o papa-moscas-de-costas-cinzentas, que podem ser vistos ao longo de trilhas que chegam a atingir 1.300 metros de altitude.

Num sábado de outono, uma família de seriemas faz seu lanche no meio da mata, em um ponto da estrada que liga os municípios de Prados e Tiradentes, enquanto é, silenciosamente, observada.

Poucos passos acima, um colorido altera o visual dos paredões. As matas que acompanham os riachos são o habitat do tangarazinho. No macho, chama a atenção a plumagem branca, vermelha, preta e verde; na fêmea, predomina o verde-oliva.

Típico de campos rupestres, outro pássaro que surgiu por ali foi o campainha-azul. Soberana, a águia-serrana habita os paredões rochosos e costuma nidificar nos penhascos, segundo Kassius, que regularmente guia observadores de aves.

Num giro de 360 graus, os birdwatchers passam a assistir ao comportamento de uma ave de pequeno porte, o gavião-carrapateiro. No meio da serra, o sol começa a se esconder, e o tempo parece acelerar, dando espaço à Lua, que ilumina a paisagem.

Antes de ela começar a receber a companhia das estrelas, um pica-pau-do-campo cruza o céu. Num lampejo que rompe o silêncio, o sino da Igreja Matriz –cuja fachada, de Aleijadinho, é voltada para a serra– começa a badalar no centro, como a anunciar que é hora também de a gente se recolher.

O jornalista viajou a convite da pousada Aromas da Montanha

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Como começar a observar

Quem quer virar um birdwatcher pode começar pelas aves mais comuns, como bem-te-vi, sabiá-laranjeira, beija-flor e periquitos.

A maioria dos pássaros diurnos tem atividade intensa entre 6h e 10h da manhã. Se a ideia é observar aves noturnas, como bacuraus ou corujas, o melhor é entre 19h e 22h.

É indicado também usar cores discretas. As chamativas, como vermelho, destoam do ambiente.

AVES QUE AQUI GORJEIAM

Fontes: Karlla Barbosa e Pedro Develey (BirdLife International/Save Brasil)


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