Folha de S. Paulo


Maceió surpreende visitantes com bom circuito gastronômico

Qual relação pode haver entre o cineasta italiano Federico Fellini (1920-1993) e a gastronomia de Maceió? Como Floriano Peixoto, o segundo presidente da história do Brasil, está ligado a um dos melhores restaurantes da capital alagoana?

Que tipo de influência Gastón Acurio, o maior chef peruano, tem sobre boas mesas da cidade?

O circuito gastronômico da capital de pouco mais de 1 milhão de habitantes reúne uma porção de curiosidades, mas não só. Há mais qualidade do que se costuma imaginar.

Se tiver que escolher só um restaurante em Maceió, vá de Wanchako (nome de uma praia no norte do Peru). No bairro da Jatiúca, a casa sustenta sua excelência nas referências variadas que têm guiado a chef Simone Bert, 55.

A começar pelo pai, João Simões, que deu a ela –ainda muito jovem– dicas de como conduzir uma boa pescaria e como manter o peixe adequadamente conservado após a captura. Depois, vieram as aulas de cozinha do Peru com a sogra, Carlota, após Simone se casar com o peruano radicado em Maceió José Luís, com quem comanda o restaurante.

Antes de abrir a casa, em setembro de 1996, ela ainda passou algumas semanas ao lado de Gastón Acurio, que é hoje o nome de maior prestígio da incensada gastronomia peruana. Nas duas décadas seguintes, Simone voltou a aprimorar seus conhecimentos com Gastón.

A chef não tem dúvida de que o Wanchako foi o primeiro restaurante peruano no Brasil, um pioneirismo que teve custo alto em sua fase inicial.

Nos três primeiros anos, poucos se aventuraram a conhecer a casa. "Naquela época, ninguém sabia o que era pisco", conta Simone sobre a aguardente de uva, típica do Peru e do Chile.

Com o passar do tempo, contudo, o restaurante se consolidou como uma referência nacional. O cuidado na escolha de peixes e frutos do mar e o fascínio da chef pelas receitas originais do país vizinho ficam evidentes em opções do cardápio como o festival de ceviches (R$ 98, para até quatro pessoas), que inclui itens como o triplo (peixe, polvo e camarão).

Essa reverência ao Peru não a impede, contudo, de cometer atrevimentos, como o pulpo trujillano (R$ 80 para duas pessoas), um polvo suavemente grelhado, acompanhado de pasta de macaxeira, como o Nordeste e o Norte se referem à mandioca.

No mesmo bairro da Jatiúca, mas muito menos conhecido do que o Wanchako, o italiano Basilico tem ambiente despretensioso, que não desperta expectativa. Quando os pratos chegam à mesa, porém, a impressão definitivamente muda.

Uma das opções interessantes é o espaghete de frutos do mar ao cartoccio (R$ 40), que leva ingredientes muito característicos de Alagoas, como o marisco massunim e o molusco sururu.

Nesse sentido, as criações de Lory e Simone se assemelham: ambas usam com cuidado peixes e frutos do mar típicos do Nordeste para renovar cozinhas de grande tradição.

Nessa casa de pouco mais de dois anos e bom custo-benefício, a italiana Lory Dori, 48, montou um cardápio baseado em uma região ao sul do seu país, a Basilicata, mas nota-se ainda a presença das culinárias da Toscana, onde a chef nasceu, e da Emilia Romagna, onde vive a família do marido dela.

Foi no Grand Hotel de Rimini, na Emilia Romagna que, nos anos 80, Lory participou da organização de jantares que tinham, entre os convidados, o diretor de cinema Federico Fellini. Ele vivia em Roma, mas sempre retornava a Rimini, sua cidade natal.

"Em um desses jantares, Fellini me disse: 'Roma é trabalho, é arte. Rimini é prazer, folia. Venho pra cá pra me divertir'", lembra Lory.

VINHOS

Jatiúca, como se vê, é o melhor bairro para quem quer comer bem em Maceió. Também situado nessa área, o Maria Antonieta é um italiano com uma sofisticação que o Basilico não almeja.

Mas as diferenças entre um e outro vão além do requinte. O chef Breno Gama, 48, não nasceu na Itália; tampouco é descendente de italianos. Para aprofundar seus conhecimentos a respeito da gastronomia do país, viaja todos os anos à Bota, sempre a uma região diferente.

No extenso cardápio, com cerca de cem pratos, uma boa pedida é o ravióli dos sonhos (R$ 65), recheado com mascarpone e coberto por camarões. No entanto, embora bem-sucedida, a cozinha não é o que a casa oferece de mais interessante. A adega se sobressai. O Maria Antonieta tem a melhor carta de vinhos de Maceió, com cerca de 500 rótulos, entre eles uma admirável variedade de italianos.

O tour gastronômico em Maceió, porém, não deve se restringir a Jatiúca. Vale a pena se afastar 20 km dali e conhecer o bairro de Ipioca, onde está o Vila Chamusca, da chef Silvana Chamusca, 56.

Nascida na Bahia, mas de família alagoana, ela deixou uma carreira bem-sucedida na Petrobras para se dedicar à gastronomia.

Tinha um diploma do Senac debaixo do braço que, somado à experiência em administração, deixava-a segura de que era hora de abrir seu restaurante. Onde? "Quando subi o morro de Ipioca, eu enlouqueci", conta ela sobre a vista de uma das praias ao norte de Maceió.

Com casas modestas e ruas estreitas, Ipioca é o bairro onde Floriano Peixoto, conhecido como o Marechal de Ferro, nasceu em 1839. O segundo presidente da história do Brasil foi batizado na simpática capela Nossa Senhora do Ó, no ponto mais alto de Ipioca.

MACARAJÉ

A visita de Silvana ao bairro aconteceu em 2002 e, após quatro anos, nasceu o Vila Chamusca, que ela define como "cozinha regional contemporânea".

Não faltam bons pratos, como o filet de lagostin (R$ 120 para duas pessoas), mas as melhores pedidas estão nas extremidades: uma entrada e uma sobremesa.

O acarajé, como se sabe, tem como base massa de feijão fradinho. Frito no azeite de dendê, como o quitute que o inspirou, o macarajé é, no entanto, feito com macaxeira e pode ser recheado com camarão, siri ou bacalhau. Servido como entrada (R$ 28 a porção com oito unidades), a invenção virou uma marca de Silvana –não duvidem que a iguaria logo se espalhe Nordeste afora.

Outra demonstração do talento da chef é o pudim de queijo de coalho com calda de mel de engenho (R$ 11). Ao lado da sócia, Cristina Gambetta, Silvana mostra que a vertente mediterrânea em seu cardápio está a serviço da riqueza da cozinha nordestina, e não o contrário.

A gastronomia da região, aliás, é bem explorada em outras casas de Maceió, como o Picuí, de acento mais tradicional, com foco no sertão, e o Akuaba, de raízes baianas, muito voltado aos pescados.
Um conselho? Reserve tempo e dinheiro para o turismo gastronômico na capital alagoana.

O jornalista viajou a convite da Secretaria de Turismo de Maceió (Semptur) e da Transamérica Turismo

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Onde comer

BASILICO
r. Deputado Luiz Gonzaga Coutinho, 186, Jatiúca, tel. (82) 3432-7553
Seg. e qua. a dom.: 12h às 15h30 e 18h30 às 22h30. Fecha às terças.

MARIA ANTONIETA
av. Dr. Antônio Gomes de Barros, 150, Jatiúca, tel. (82) 3202-8828
Seg. a qui.: 12h às 16h e das 18h à 0h. Sex. e sáb.: 12h às 16h e das 18h à 1h. Dom.: 12h à 0h

VILA CHAMUSCA
r. Djanira Bezarra de Omena, 130, Ipioca, tel. (82) 3355-1639
Ter., qua. e dom.: 12h às 17h30. Qui. a sáb.: 12h às 22h. Fecha às segundas

WANCHAKO
r. Francisco de Assis, 93, Jatiúca, tel. (82) 3377-6024.
Seg. a qui, das 18h às 23h. Sex.: 12h às 15h e 18h à 0h. Sáb.: 18h à 0h. Fecha aos domingos

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Pacotes

R$ 970
Seis noites de hospedagem no Meridiano Hotel, em Maceió, em quarto com vista parcial para o mar. Inclui aéreo, mas não passeios. Por pessoa, sem taxas. No Decolar.com

R$ 1.027,21
Preço por pessoa para quatro noites em Maceió, sem aéreo. Pacote inclui café da manhã e visita às praias de São Miguel dos Milagres. Na Litoral Verde: litoralverde.com.br

R$ 1.315
Pacote para abril de 2017, com sete noites na capital de Alagoas. Valor por pessoa, com aéreo incluso e passeio a São Miguel dos Milagres. Na Latam Travel: latamtravel.com

R$ 1.380
Com aéreo, quatro noites em São Miguel dos Milagres. Inclui café da manhã. Valor por pessoa, sem passeios previstos no pacote. Na CVC: cvc.com.br

R$ 1.578
Carnaval em Maceió, com hospedagem na cidade de 24/2 a 1º/3. Valor por pessoa, com passeios a São Miguel dos Milagres e à Praia do Gunga inclusos. Sem aéreo. Na Agaxtur: agaxtur.com.br

R$ 1.583
Valor por pessoa para três noites em Maceió. Inclui café da manhã e visitas à Praia do francês e a São Miguel dos Milagres. Com aéreo. Na RCA: rcaturismo.com.br

R$ 1.688
Cinco noites na capital alagoana, com aéreo incluso, saindo de São Paulo. O pacote prevê passeios em Maragogi, Praia do Gunga e São Miguel dos Milagres. Na 55destinos: 55destinos.com

R$ 1.818
Com aéreo, quatro noites em São Miguel dos Milagres. Valor por pessoa, com café da manhã, mas sem passeios pela região. Na New Age: newage.tur.br

R$ 4.748
Pacote de quatro noites em Maceió, sem aéreo. Valor da hospedagem para dois adultos e duas crianças de até 12 anos no Pratagy Beach Resort, em sistema all inclusive. Não inclui passeios. Reservas: pratagy.com.br

R$ 8.819
Valor para um casal passar sete noites em São Miguel dos Milagres, na Pousada do Toque. Com aéreo, wi-fi ilimitado e hospedagem com meia pensão. Sem passeios no pacote. Na Expedia: expedia.com.br


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