Para Johny Blair, fazer um mochilão na Tailândia "é um tédio, não acrescenta nada". É melhor passear pelo Iraque ou pelo Afeganistão –país que ele recomenda vivamente, porque "até o risco vale a pena".
Mas o que procuram turistas que passeiam por zonas de guerra, entre minas e balas perdidas?
Um punhado de agências leva seus clientes a destinos insuspeitos. A britânica Hinterland Travel é uma delas –mas recentemente a empresa teve um sobressalto quando um grupo de 12 europeus e americanos foi atingido por disparos em uma emboscada em uma estrada de Herat, no oeste do Afeganistão (segundo a AFP, um ataque de talibãs).
Seis viajantes, entre eles o chefe da agência, Geoff Hann, tiveram ferimentos leves.
Logo que chegou a Cabul, o grupo foi invejado no Facebook por amantes de adrenalina. "Tenho vontade de ir com ele", escreveu David Stanley sobre Hann, um experiente viajante de 78 anos, ao ver as fotos publicadas.
CADA PAÍS, UMA VISITA
Curiosidade insana? Necessidade de um desafio pessoal? Busca de sensações fortes? A pergunta é: por que arriscar a vida nas férias onde tanta gente luta desesperadamente para se manter vivo?
"As motivações de nossos clientes são variadas", diz James Willcox, fundador da agência Untamed Borders (fronteiras selvagens), do oeste da Inglaterra, que levou recentemente um grupo de intrépidos para passear de caiaque no rio Panjshir, no norte do Afeganistão.
"Conhecer outras culturas, compreender melhor a complexidade geopolítica, porque tinham visitado o lugar nos anos 1970, pelos sítios arqueológicos... As razões são infinitas", aponta.
Blair, 36, da Irlanda do Norte, que viajou com a agência de Willcox, diz que "uma partida de futebol com crianças perto do monastério budista de Samangan e a noite que passou conversando, tomando chá e fumando chicha em Mazar e Sharif" estão entre suas melhores lembranças do Afeganistão.
"Também fui ao Iraque, à China, à Venezuela, à Palestina e à Coreia do Norte: cada país merece ser visitado", disse, em entrevista por e-mail dada de Kaliningrado, território russo no mar Báltico, "para o qual acabei de conseguir um visto para vários dias".
O caminhoneiro japonês Toshifumi Fujimoto passou férias em 2013 na cidade síria de Aleppo. Ele contou à AFP que já havia visitado Homs (também na Síria) e o Iêmen em plena guerra e o Cairo, no Egito, durante a queda de Hosni Mubarak.
CICATRIZES
O ex-executivo de investimentos americano John R. Milton, 46, explica que "os destinos que saem do tradicional são muito mais enriquecedores: descobre-se, neles, sem filtro, as sociedades e culturas".
"'Não envelheça sem cicatrizes' é meu lema", diz o americano, que tem dedicado sua aposentadoria antecipada a "explorar as belezas do mundo" –como o Afeganistão, em junho passado.
Ele também foi ao Paquistão, à Somália e à Coreia do Norte, onde celebrou o aniversário do líder Kim Jong-Um "na companhia de Dennis Rodman", campeão da NBA.
"São experiências que você nunca vai viver no mundo ocidental. Sim, talvez seja perigoso, mas os riscos são controláveis e a recompensa é tanta que vale a pena", insiste.
Para o Afeganistão, que aposta em seus tesouros naturais e arqueológicos para ressuscitar o turismo, uma de suas escassas fontes de receitas (foram 20 mil turistas em 2015), o ataque em Herat é um sinal e desesperança.
"Agora, se atacam até os turistas estrangeiros. Que vergonha!", disse Hamid Zahzeeb, morador de Cabul, no Twitter.
Os afegãos esperam que o ataque não desanime os viajantes.