Folha de S. Paulo


Veja fotos em 360 graus do interior do maior navio de cruzeiros do mundo

HARMONY OF THE SEAS

O setor de cruzeiros turísticos vive uma era de superlativos, em busca de ganhos de escala em mercados em expansão pelo mundo.

No mês passado, começou a navegar o maior dos superlativos vistos nessa indústria (por enquanto –já há planos para empreitadas maiores), o Harmony of the Seas.

E quando se trata de algo tão grande quanto esse navio, é inevitável fazer brincadeiras para comparar as dimensões.

Cabem ali 6.780 hóspedes mais 2.100 tripulantes, soma maior que a população de 248 municípios paulistas. Seu comprimento equivale à torre Eiffel empilhada ao Cristo Redentor. De peso, as quase 230 mil toneladas pesam tanto quanto 17 mil elefantes juntos.

A Folha esteve no navio em uma viagem de duas noites, antes da inauguração oficial. Lá dentro ficou mais clara a ideia do que significam essas ordens de grandeza.

Pode ser ao chegar ao restaurante principal para jantar e notar que ele tem três andares ou, ao voltar para a cabine, tomar o elevador errado e ter que atravessar intermináveis metros de corredor até o saguão certo (telões interativos, como os de shoppings, ajudam nessa tarefa).

Em relação aos outros dois navios da "família", a Oasis –nenhum chegou à costa brasileira–, o Harmony tem relativamente poucas novidades, fora o tamanho.

A maior delas é o tobogã The Ultimate Abyss. O ponto de partida é a cabeça de um peixe assustador, no último deque (o 16). Ali, uma plataforma de vidro mostra o tamanho da aventura: um escorregador fechado de 30 metros de extensão e dois giros de 360 graus. Quem entra nele com um tapete desliza até a saída, dez deques abaixo, por 15 segundos angustiantes e cheios de adrenalina.

Além dele, há uma sala do tipo "escape room", jogo da moda para sair de um cômodo resolvendo desafios, e novos espetáculos –o musical "Grease" e shows de patinação no gelo e na piscina de um anfiteatro ao ar livre.

Também foram importadas de outras famílias de navios da Royal Caribbean gracinhas como o Bionic Bar (braços mecânicos operados por computador que preparam drinques –e sempre geram filas).

Como um resort em alto-mar, há atividades para crianças (miniparque aquático, brinquedoteca), jovens (parede de escalada, tirolesa) e adultos (baladas anos 90).

O navio cumpre temporada na Europa –serão 34 cruzeiros no mar Mediterrâneo, entre portos na Espanha e na Itália– e depois segue, em novembro, para os EUA.

Ali, fará roteiros entre a Flórida e o Caribe. Pacotes de três noites custam a partir de R$ 3.449, sem taxas; na Europa, os de sete noites (vários já estão esgotados) custam a partir de R$ 7.461, sem taxas.

O jornalista viajou a convite da Royal Caribbean

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Raio-x do Harmony

  • CAPACIDADE 2.747 cabines, para até 6.780 hóspedes e 2.100 tripulantes
  • DIMENSÕES 227 mil toneladas (4 vezes o Titanic), 362 metros de comprimento (mais de 3 campos de futebol), 65 metros de largura; 18 deques (ou andares)
  • ATRAÇÕES 21 bares, 20 restaurantes e lanchonetes; 3 toboáguas, 1 tobogã seco, parque aquático infantil, 2 simuladores de ondas e 10 jacuzzis; spa com academia; cassino; galeria de arte; 3 teatros (sendo um para shows no gelo e um anfiteatro com piscina); parede de escalada; tirolesa; 2 quadras; minigolfe
  • INTERNET O navio usa o sistema Voom, baseado em um satélite da empresa, que garante wi-fi rápido e seguro
  • BAIRROS O Harmony se divide em sete 'vizinhanças': para jovens, a de entretenimento noturno, o spa, a área de piscinas e três 'promenades', com restaurantes, bares e lojas
  • RESTAURANTES Além de um bufê e um local para jantar à la carte, há opções como o Jamie's Italian (o mesmo da grife Jamie Oliver aberto em São Paulo)

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MEGANAVIOS DEVEM PASSAR LONGE DA COSTA BRASILEIRA

Os meganavios, que transportam um número de passageiros equivalente ao de habitantes de uma cidade pequena, não são exclusividade da Royal Caribbean.

A MSC coloca nos mares em 2017 um navio da série Meraviglia (5.700 hóspedes) e, em 2019, outro batizado de Plus, para até 8.000 pessoas (incluindo tripulantes). A italiana Costa está construindo dois navios, a serem concluídos entre 2019 e 2021, para 6.600 hóspedes cada um.

Na Norwegian, o Escape tem capacidade para 4.266 passageiros; a Disney Cruise Line, que leva 4.000 pessoas no Fantasy e no Dream, está construindo dois navios um pouco maiores.

"Não tenho ideia de como fazer um navio maior, mas eu já disse isso antes e errei", disse Richard Fain, presidente da Royal Caribbean Cruises, em entrevista a bordo do Harmony of the Seas. "A verdade é que queremos que os próximos navios sejam melhores, não necessariamente maiores".

Brasileiros que quiserem ver de perto essas megaembarcações, no entanto, terão que, antes, pegar um avião e viajar para os EUA, o Caribe, a Europa –e até a China e o Oriente Médio.

Primeiro porque seria preciso adaptar os portos do Brasil para receber navios desse porte. Segundo porque as dificuldades locais têm levado a temporadas mais enxutas (ao contrário do que se vê em mercados como o chinês).

A de 2016/2017, que deve começar em novembro, pode ser a menor em 12 anos, em número de navios: a expectativa mais otimista aponta para cinco –quatro a menos que no ano passado. Em número de cruzeiristas, como os navios são maiores, espera-se cerca de 300 mil (longe do pico de 805 mil de 2011/2012).

Fatores como a falta de infraestrutura e os altos custos de operação e trabalhistas são sempre citados como obstáculos. "Em momentos de crise, essas distorções ficam mais evidentes", diz Marco Ferraz, presidente da associação do setor.

Richard Fain, da Royal Caribbean, que reconhece que o Brasil é um mercado relevante, pela demanda sempre alta, resume, em um lamento: "Navios vão para onde são requisitados".


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