Folha de S. Paulo


Como fazer o Caminho de Santiago de Compostela fugindo dos clichês

Todos os caminhos levam a Compostela? Provavelmente. Mas, mais ao norte, um conjunto deles tenta fugir dos clichês que infestam a popular peregrinação cristã, esquecida por séculos na história e resgatada pelo turismo há menos de três décadas.

Os Caminhos do Norte a Santiago de Compostela são até mais antigos que o Caminho Francês, o mais conhecido e congestionado dos percursos, que cruza a Espanha mais pelo centro do país. O Caminho Primitivo, um dos cinco que compõem o conjunto setentrional, é tido como o primeiro idealizado para os fiéis peregrinos alcançarem o local de sepultamento de são Tiago, a catedral de Compostela.

Todos esses percursos estão em uma faixa que vai do País Basco até a Galícia, passando por Cantábria e Astúrias, região que representou o que restou dos reinos ibéricos durante a ocupação muçulmana e que conseguiu resistir. Na península desde 711, os mouros, por oito séculos, não conseguiram alcançar esses lugares e nem sequer chegaram a ver o mar Cantábrico até serem expulsos de Granada, em 1492.

Devoção a um santo ou estratégia militar da Reconquista, o fomento à peregrinação fez por todo esse tempo cristãos de todos os lugares a leste dos Pireneus caminharem até as terras galegas, onde o Sol morria e o mundo acabava, não antes de revelar são Tiago e Compostela.

Reputa-se a esse movimento a formação de uma identidade própria da Europa. E, não por coincidência, o resgate do caminho como é hoje se dá justamente com o advento da União Europeia.

Mais acidentados, os Caminhos do Norte apresentam muitas paisagens, percorrem praias e montanhas, cidades grandes e pequenas e diferentes atrações por mais de 800 quilômetros em sua versão mais longa.

Passam pela culinária de San Sebastián, pela Guernica retratada tragicamente por Picasso e pelo museu Guggenheim, de Bilbao; pelo mar Cantábrico de Santander e San Vicente de la Barquera; pelos picos de Europa; por Gijón, Oviedo e a praia das Catedrais em Ribadeo; e por Arzúa, onde todos os caminhos a Compostela viram um só, a pouco menos de 40 quilômetros do famoso destino.

Roteiro que muitas vezes é percorrido da maneira tradicional: a pé, mochila nas costas, acordando cedo e dormindo em albergues específicos para os peregrinos –o que demanda planejamento e preparação física.

Todos os caminhos levam a Santiago de Compostela. Pelos do norte, por devoção ou divertimento, a jornada promete ser diferente.

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O KIT PEREGRINO
O que levar na mochila e outros cuidados

  • Cuidados e o que colocar na mochila
  • Tome um café reforçado e sem pressa; tenha sempre à mão água e alimentos energéticos, como chocolate e frutas secas
  • Para caminhar, não estreie um par de tênis; use um calçado flexível e de tecido respirável; leve um par extra para usar nos albergues e paradas
  • A mochila não deve levar mais do que 10% de seu peso
  • É fundamental levar curativos, analgésicos e anti-inflamatórios e vaselina (para passar nos pés e em áreas sensíveis)
  • Entre os documentos, seguro-viagem e credencial do caminho valem tanto quanto o passaporte
  • Pensando em trajetos longos, leve uma bateria externa ou carregador móvel para o celular
  • Na nécessaire, inclua um sabão pequeno para lavar roupa, protetor solar e lenços umedecidos; prefira carregar uma toalha de microfibra
  • Leve três mudas de roupas íntimas e meias, ao menos duas camisetas de poliéster (as de algodão secam devagar e não são respiráveis) e duas calças próprias para caminhar; além disso, gorro ou chapéu, capa de chuva e uma jaqueta leve; no inverno, uma corta-ventos e luvas
  • Bastões de caminhada são úteis até para quem tem preparo

O jornalista viajou a convite do Escritório de Turismo da Espanha


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