Folha de S. Paulo


Entre 300 mil palmeiras, oásis no Egito guarda ruínas de templos

As perspectivas, no trajeto, não parecem tão boas. A viagem de ônibus entre o Cairo e Siwa leva mais de dez horas entre subir à costa mediterrânea e voltar a mergulhar no deserto, a 50 quilômetros da fronteira com a instável Líbia.

Enquanto o veículo se aproxima do local, de 20 mil habitantes, não há nada ao redor a não ser areia e vilas maltratadas pela pobreza.

A história, então, brota do solo como um olho-d'água: Siwa surge com suas 300 mil palmeiras, distribuídas entre um labirinto de caminhos de terra batida e escondendo dezenas de fontes naturais.

É ao misturar a abundância da natureza, impactante pelo entorno árido, com o passado repleto de história que um dos pontos turísticos mais impressionantes (e ainda pouco visitado) do Egito justifica a viagem feita na madrugada, sem muito conforto.

Parte do charme de Siwa é o isolamento. Não há nada, a não ser deserto, ao redor. Se é difícil chegar ali hoje, nos séculos anteriores o oásis era quase inacessível. A cidade só foi conectada por asfalto com a costa norte nos anos 1980.

Estar afastado dos centros de poder fortaleceu os traços culturais típicos. A população ainda se considera "siwi", não egípcia. Fala-se uma língua berbere, não árabe. A sociedade é especialmente conservadora, e mulheres se cobrem por completo.

O transporte é feito por charretes ou motocicletas. Em dias de casamento, os jovens sobem na traseira de caminhonetes e cruzam as ruas entre buzinaços e ululações.

O principal ponto turístico é o templo do oráculo (R$ 10), que remonta ao século 6º a.C. De cima do lugar em ruínas é possível ver o oásis se espalhando para os lados, uma mancha verde no deserto.

Também se esconde entre as palmeiras um templo egípcio em ruínas, hoje quase inexistente. Ali, é possível escalar as pedras caídas e examinar os hieróglifos –como um antigo explorador.

Há, por fim, a fortaleza de Shali, com resquícios da construção do século 13 feita de argila e sal. O local está aberto ao público, sem entrada oficial ou pagamento.

BIKES E TÂMARAS

Em comparação com o caos do Cairo, a vida tem outro ritmo em Siwa. Não se corre entre as atrações turísticas. Vistas as ruínas do oráculo, do templo e da fortaleza abandonada, o visitante pode se entregar à "dolce vita" ainda típica do oásis.

Alugar uma bicicleta custa em torno de R$ 10 por dia. Vinte minutos pedalando levam à fonte de Cleópatra, piscina natural que reúne habitantes para mergulhos no fim da tarde. Nos cafés charmosos ao redor, o destaque é o viscoso e doce suco de tâmara (R$ 6).

Se houver fôlego para mais aventura, há povoados e ruínas por toda a região. No de Bilad al-Rum, por exemplo, a 17 quilômetros, há uma coleção de tumbas romanas.

Para quem quiser poupar as pernas, também é possível fazer um tour de jipe entre as dunas de Siwa (R$ 100). Em poucos minutos, o oásis some e o veículo acelera entre pilhas de areia. De repente, um lago cercado por juncos. E, depois do mergulho e do chá de menta, o ápice da viagem: o pôr do sol.

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CUIDADOS AO VIAJAR

Antes de viajar ao Egito, convém se informar sobre a situação do país. Hoje, o Egito vive um período estável, de poucos incidentes, e com a estrutura turística funcionando normalmente –mas desafios da segurança na região por vezes afetam seu território.

Em maio, um avião viajando entre Paris e o Cairo acidentou-se no mar Mediterrâneo –ainda não há resposta para a causa da queda. Em 2015, um avião russo explodiu no deserto do Sinai, e o caso foi reivindicado como um atentado do Estado Islâmico.

Apesar desses eventos dramáticos, turistas não costumam enfrentar problemas durante sua visita.


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