Folha de S. Paulo


Fazendas do auge do café no Rio se modernizam para receber visitantes

A cena, ocorrida ainda nos anos 1990, espantou a dona da fazenda, Núbia Vergara Caffarelli: um grupo de 40 senhoras percorria os cômodos do casarão bisbilhotando os espelhos, as penteadeiras, os altares e as porcelanas.

Próxima do centro de Vassouras (RJ), a fazenda Cachoeira Grande era a residência de campo da família de Núbia e não ficava aberta para visitas -daí seu susto. O tour improvisado, obra de sua tia de 80 anos, Magdalena, despertou-as para o valor histórico do lugar e o potencial de um novo negócio.

Magdalena, então, começou a organizar, como fizera com aquelas senhoras, cômodo a cômodo, pequenas excursões pela fazenda. Quase 15 anos depois, as visitas se tornaram oficiais. Incluem pães de queijo, doces e café.

"É gratificante compartilhar um pouco da nossa história. Devo isso à minha tia", diz Núbia, hoje responsável por conduzir as visitas ao lado do marido e do filho.

Assim como a família Caffarelli, outros proprietários começaram a se interessar pela empreitada de receber visitantes nas fazendas –a maioria, dos tempos em que o café, plantado na parte fluminense do vale do rio Paraíba, era o motor da balança de exportação do Império no Brasil (de 1822 a 1889).

Estava criada, então, a denominação turística do Vale do Café, que engloba hoje 15 municípios da região no Rio.

No final de 2015, o grupo implantou melhorias na estrutura de visitação. Uma espécie de esquema de plantão faz dez propriedades se revezarem para garantir que em qualquer dia da semana haja pelo menos um casarão histórico aberto a visitas (leia mais abaixo e veja a programação em valedocaferio.wordpress.com ).

Outra iniciativa são tours com apresentações teatrais e refeições especiais.

PASSADO E PRESENTE

Fazendas Rio de Janeiro

Hoje, o lugar que é conhecido por Vale do Café quase já não produz o fruto. A combinação da exaustão do solo com o fim da escravidão no país (as fazendas tinham mão de obra quase totalmente formada por escravos) fez com que a produção entrasse em crise e não se recuperasse.

O acervo histórico, no entanto, impressiona os visitantes. Na Cachoeira Grande, por exemplo, há objetos como um lustre que pertenceu ao palácio Schönbrunn, em Viena (Áustria), e outros móveis dos séculos 18, 19 e 20 garimpados em leilões e antiquários.

A construção de 1825, que tinha 18 quartos e 65 janelas, pertenceu ao barão de Vassouras, Francisco José Teixeira Leite, na época em que o café movia o vale do Paraíba, em meados do século 19.

A fazenda do Paraízo, em Rio das Flores, é mantida pela mesma família há cem anos.

O casarão de dois andares foi um dos primeiros a ter iluminação a gás no país e abre a visita aos turistas com a vista de uma grande escada de madeira e pinturas imitando mármore nas paredes.

Quase tudo é original da época em que o casarão abrigava a família de Domingos Custódio Guimarães, o visconde do Rio Preto, que foi dono de 1 milhão de pés de café em nove fazendas.

Construída entre 1845 e 1853, a casa tem 58 cômodos e 99 janelas. Ostenta lustres de cristal, mobiliário francês, estátuas de bronze... A fazenda também mantém preservado o engenho de beneficiamento de café.

Algumas propriedades investiram numa estrutura de hotel para atrair mais turistas. Nelas, os arredores da sede histórica receberam atrativos como piscinas, quadras de tênis e brinquedotecas.

É o que acontece na Florença, em Conservatória, que foi cenário para a novela "A Escrava Isaura" (1976). Construída em 1852, expõe uma coleção de itens como um berço em estilo barroco revestido de ouro do século 19 e um costureiro (peça em que eram guardados acessórios para bordado) inglês vitoriano.

Com um casarão de 1836 tombado, a fazenda União, em Rio das Flores, manteve sua estrutura, instalou spa e sauna e promove atividades como arvorismo, cavalgadas, pesca e passeio de charrete.

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FAZENDAS DIA A DIA

  • 2ª feira Fazenda Santa Eufrásia, em Vassouras (às 10h)
  • 3ª feira Fazenda Cachoeira Grande, em Vassouras (às 15h)
  • 4ª feira Fazenda Ponte Alta, em Barra do Piraí (às 10h) e loja de artesanato Florart, em Rio das Flores
  • 5ª feira Fazendas do Paraízo (às 11h) e União (às 14h), em Rio das Flores, e São João da Prosperidade, em Barra do Piraí (às 15h)
  • 6ª feira Fazendas da Taquara, em Barra do Piraí (às 10h30), Vista Alegre, em Valença (às 11h), Alliança, em Barra do Piraí (às 14h), e Florença, em Conservatória (às 16h)

A jornalista viajou a convite do grupo de empresários do Vale do Café


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