Folha de S. Paulo


Roteiros com jantares e saraus levam turista ao passado do Vale do Café

"Ora veja você, sinhazinha, é aqui no chafariz da praça que se sabe das fugas e alforrias dos escravos", diz, para puxar conversa, uma mulher de saia rodada, badulaques e leque na praça da matriz, em Vassouras.

Quase sem perceber, o turista ri dos gracejos, entretido pelas histórias da época do Império contadas por Andreia Alves da Silva, turismóloga conhecida como Pit, que encarna uma escrava alforriada em frente à igreja de Nossa Senhora da Conceição todo sábado pela manhã.

A encenação, organizada pela Prefeitura de Vassouras, é uma estratégia para atrair visitantes –usada por outros restaurantes, hotéis e pontos turísticos do Vale do Café.

Relembrar o passado com performances é uma das intenções do projeto Tour da Experiência - Caminhos do Brasil Imperial, iniciativa de 18 estabelecimentos de Barra do Piraí, Piraí, Rio das Flores, Valença e Vassouras.

Lançado no final do ano passado, o projeto oferece cinco passeios para explorar a região, com roteiros que mesclam visita a fazendas, apresentações, saraus e refeições.

O tour na fazenda do Paraízo e um almoço na fazenda União, por exemplo, são parte do roteiro das Flores, que engloba uma peculiar oficina com resgate de bordados usados na época do Império.

Na atividade, até quem não tem muita habilidade pode levar para casa um tecido desenhado a próprio punho com ajuda das instrutoras da Florart, associação de artesãos em Rio das Flores.

Outro itinerário combina um café colonial feito no forno a lenha na pousada Brisa do Vale, no distrito de Ipiabas, com sarau histórico que se passa no fim da tarde na fazenda Florença, em Valença.

Nele, o guia e historiador Adriano Novaes, especializado no período cafeeiro fluminense, faz o que chama de "trabalho de dramatização" –vestido de terno e cartola, com bigodes pontiagudos bem penteados. Ao lado de outros atores (outro historiador entre eles), conduz apresentações que contam histórias de figuras como dom Pedro 2º e a princesa Isabel.

Duas agências da região, a Bomtempo (bomtempo-turismo.com.br ) e a Receptivo Vale do Café (silmarexcursoes.com ), oferecem pacotes dos tours, com agendamento das atividades e transporte.

Eles custam de R$ 170 (com visita à fazenda do Paraízo, oficina na Florarte e almoço com sarau na fazenda União) a R$ 430 (com café na pousada Brisa do Vale, compras na loja Empório dos Arcos, visita às fazendas São João da Prosperidade e Vista Alegre e jantar com sarau na fazenda Florença).

Também é possível, no entanto, fazer as reservas em cada local individualmente.

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De sotaque caipira, mesa resgata menu oferecido a imperatriz

A cozinha caipira, feita no forno a lenha e marcada por milho e carnes de galinha e porco, é a mais comum às mesas do Vale do Café.

Entre louças e cristais, quitutes como pão de queijo, broa de fubá e requeijão são servidos depois da visita à fazenda Santa Eufrásia. Da cozinha da União saem pastel de angu, panqueca de taioba, polenta.

Mas, por causa da proximidade com a capital, as fazendas sofriam forte influência da corte no auge dos barões do café: em visita à Cachoeira Grande em 1884, a princesa Isabel foi recebida com um menu regado a vinhos prestigiados, como Château Lafitte e Château d'Yquem.

A fazenda Florença reproduz a atmosfera com o Jantar da Imperatriz (R$ 290; sob reserva), refeição com 15 etapas –entre elas o "porc croustillant au Duc de Caxias", porco envolto em massa folhada.

O mesmo se dá no Chá com a Eufrásia (R$ 80), no Mara Palace Hotel, que homenageia Eufrásia Teixeira Leite, filha de fazendeiros que viveu entre o Brasil e a França.

O evento serve rabanadas com brioche e foie com especiarias enquanto se conta a história da pioneira na emancipação feminina.

Fazendas Rio de Janeiro

A jornalista viajou a convite do grupo de empresários do Vale do Café


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