Folha de S. Paulo


'Suíça do Oriente', Omã guarda suas tradições entre paisagens virgens

Enquanto o sol se esconde atrás das montanhas, meia dúzia de turistas posam para uma foto em frente à barreira que protege o colorido palácio do sultão de Omã.

A presença policial é mínima, e os poucos guardas mostram uma atitude descontraída –o que pode parecer raro em uma região do mundo martirizada por guerras civis, uma sangrenta contrarrevolução e o açoite do jihadismo.

Com 4 milhões de habitantes e um território do tamanho da Itália, Omã é uma ilha de tranquilidade em um mar de conflitos. Daí seu apelido, "Suíça do Oriente Médio".

O sultanato é peculiar não só por suas paisagens virgens e sua cultura milenar. Em uma península caracterizada por luxo, ostentação e até desperdício, Omã exibe uma atitude mais modesta.

Entre os esforços para preservar a identidade local, o sultão proibiu prédios com mais de sete andares no país –basta lembrar de Dubai, com seus 828 metros de Burj Khalifa, ou Meca, em que a Torre do Relógio alcança 601 metros, para um paralelo.

Essa particularidade, porém, não evita que, em outros vários aspectos, Omã apresente características típicas das petromonarquias do Golfo, prósperos países erigidos graças a uma mão de obra barata, muitas vezes explorada.

Quase a metade dos habitantes do país é de imigrantes, a grande maioria de nações como Paquistão, Índia e Bangladesh. O salário dessas pessoas –que constroem estradas, servem cafés– é de, no máximo, € 125 (R$ 498).

FORTALEZA

Mascate, a capital, mudou bastante desde os tempos, não tão longínquos, em que todas as noites fechavam-se as portas da fortaleza que a protegia de invasões indesejadas.

Para além das montanhas que abrigam seu centro histórico, coroadas por duas magníficas fortalezas do século 16 (Al Jalali e Al Mirani, que não podem ser visitadas), estende-se a cidade nova, com grandes avenidas e edifícios impecáveis. A urbe parece recém-construída. E de fato, em partes, é mesmo.

Até 1970, Omã era um dos países menos desenvolvidos do mundo e proibia utensílios básicos da vida moderna, como o rádio. Graças à descoberta e a exploração de petróleo, a renda per capita hoje é próxima da de países europeus.

Leia abaixo sobre as principais três regiões turísticas do país, além da capital.

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SUR: DESERTOS E OÁSIS

É na região de Sur em que se condensa a espetacular variedade de paisagens virgens de Omã: desertos, oásis e praias paradisíacas.

Os wadis, autênticos oásis entre as montanhas, pontuam o caminho entre a capital, Mascate, e Sur.

O mais conhecido é o wadi Beni Khalid: um riacho nasce entre os montes e vai descendo até a planície, formando pequenas piscinas naturais de água cristalina e correnteza suave. Nelas vivem peixinhos travessos, cuja dieta inclui pele morta dos pés dos turistas que conseguem superar o receio inicial.

Em algumas capitais ocidentais, viraram moda estabelecimentos que incluem sessões de "pedicure natural" com esses animaizinhos. Em Omã, elas são grátis.

Com ou sem o "tratamento", percorrer a nado o riacho do wadi Ben Jaled, entre pedras e desfiladeiros, é uma experiência mágica.

Ao lado das paradisíacas praias de Sur, onde enormes tartarugas-verdes fazem a desova (entre julho e outubro), a outra atração da região é o deserto de dunas Sharquiya –em que é possível, por exemplo, passar uma noite ao ar livre, sob céu estrelado, depois de jantar um churrasco preparado por um guia beduíno.

Para os turistas que preferem o conforto à aventura existem também luxuosos acampamentos com cabanas e piscina incluída.

De dia, as atividades incluem passeios a cavalo ou em dromedário e pelas dunas locais, deslizando com uma prancha de surfe ou em um jipe 4x4.

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MUSANDAM: A PORTA DO GOLFO

Situada no estreito de Ormuz, uma das localizações geoestratégicas mais importantes do planeta (fica na entrada do golfo Pérsico), a península de Musandam, que pertence a Omã, é um lugar único, graças aos seus fiordes espetaculares, uma cadeia de montanhas infiltrada pelas águas marinhas.

As praias virgens, de água turquesa, são habitadas por simpáticos golfinhos e recifes de coral, que podem ser vistos se o turista contratar uma viagem de dia inteiro em um "dhow", embarcações a vela bastante comuns no Oriente Médio.

Em poucos lugares do país fica tão evidente o caráter mestiço da cultura omani: o dialeto local de Musandam inclui tantas palavras emprestadas das línguas urdu, baluchi, persa e até portuguesa que chega a ser incompreensível mesmo para os árabes. A diversidade se reflete também na gastronomia, com grande influência da culinária indiana.

A partir de Khasab, a única cidade da península, uma das atividades mais procuradas é a visita, a bordo de um jipe, às montanhas escarpadas dos arredores.

Além das paisagens, o final da viagem reserva uma surpresa: a visão de numerosos fósseis de peixes e conchas, "impressos" em rochas há milhões de anos, quando as terras da região ainda estavam submersas pelo oceano. Perto dessa jazida encontram-se também desenhos pré-históricos feitos pelos primeiros habitantes do lugar.

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NIZWA: CAPITAL ESPIRITUAL

Nizwa é a antiga capital de Omã, além de ser o coração espiritual do país. Lá é o reduto do ibadismo, a terceira variante do islã –menos conhecida que o sunismo e o xiismo, mas que é a religião majoritária no sultanato.

A construção de maior destaque do local é uma fortaleza que data do século 17. Prodígio da arquitetura de defesa da época, o prédio converteu-se em um dos símbolos do país e é reproduzido nas notas de rial omani ao lado da onipresente imagem do sultão Qaboos bin Said Al Said.

O interior da construção abriga um museu bem cuidado sobre as tradições e características do velho Omã.

Entre as joias escondidas por esse misterioso sultanato estão suas portas e cofres medievais. A fortaleza guarda vários exemplares delas –assim como o museu Bait al-Zubair, em Mascate, que representa a melhor introdução à cultura do país para o visitante recém-chegado.

A cerca de 50 quilômetros de Nizwa está Bahla, cidade declarada patrimônio da humanidade pela Unesco graças ao seu imponente castelo medieval –ainda maior que a fortaleza da cidade vizinha; o museu local, no entanto, é um pouco mais medíocre.

Uma vez em Bahla, muitos turistas viajam alguns poucos quilômetros ao vilarejo de Al-Hamra.

Erigido em uma montanha, sua parte antiga conserva construções históricas de dois e três andares feitas de tijolos de adobe, em um estilo parecido ao habitual no vizinho Iêmen.

Tradução de DENISE MOTA

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O QUE SABER SOBRE O OMÃ E COMO IR PARA LÁ

  • Fuso horário + 7 horas em relação a Brasília
  • Moeda Rial (R$ 1 = RO 0,11)
  • Visto Brasileiros podem solicitar o visto no aeroporto (RO 20)

R$ 2.200
Valor para duas pessoas por cinco noites em Mascate (Omã), com café. Sem extras ou passagens aéreas. Reservas: +968 (244) 89-890; ibis.com

US$ 953 (R$ 3.389)
Seis noites entre Emirados Árabes e Omã, com café, city tour em Dubai e safári no deserto. Sem aéreo. Na Flot: (11) 4504-4544; flot.com.br

US$ 1.799 (R$ 6.398)
Valor por pessoa para oito noites entre Dubai e Mascate, com café. Sem aéreo, inclui café, passeios e traslados. Na Viaje Bem: (11) 3266-3070; viajebem.tur.br


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