Folha de S. Paulo


Turista brasileiro é mais flexível que o americano, diz 'Amigo Gringo'

Divulgação
- Divulgacao - O jornalista e apresentador Seth Kugel ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O jornalista americano Seth Kugel na ponte do rio Baliem, na Indonésia

O jornalista Seth Kugel visitou mais de 40 países quando escrevia uma coluna sobre turismo no jornal "New York Times" e diz que seu destino preferido será sempre o Brasil, onde viveu. A ligação com o país aumentou em 2014, quando estreou o canal Amigo Gringo no YouTube, em que dá dicas sobre Nova York para turistas brasileiros, tudo em português –os vídeos mais conhecidos são os que mostram nova-iorquinos reagindo a aspectos da cultura brasileira.

vídeo

Seth conversou com a Folha sobre seu interesse pelo país e seus destinos favoritos.

*

Folha - Você aprendeu português em um barco na Amazônia, certo?
Seth Kugel - Sim, um conhecido me disse: "Eu sei exatamente o que você tem que fazer pra aprender português. Você vai reservar um voo para Bogotá, depois irá à fronteira com a Amazônia. No Brasil, pegará um barco e passará quatro dias ao lado de vários brasileiros, sem nada para fazer, só conversar com você". Foi a primeira reportagem sobre viagens que eu fiz na vida, em 2004.

Quais são seus destinos preferidos?
Além do Brasil, né? O principal sempre vai ser Brasil –não só porque o país é ótimo, mas porque quando você fala o idioma do país, a experiência de viajar é melhor. Mas tem também a Itália, que é um destino que todo mundo ama, e eu não vou tentar ser diferente. A Turquia e a Coreia também"¦ Todos esses países têm algo em comum: um idioma que praticamente só se fala lá e uma cultura única. Todos esses lugares têm comida ótima e pessoas que gostam de gringos. Nunca tinha pensando sobre isso, mas é uma teoria.

Você diz em um de seus vídeos que o brasileiro falando inglês é "bonitinho", por quê?
Quando uma palavra termina com outra letra, que não uma vogal, o brasileiro agrega outra sílaba. Como "interneti". Em inglês, colocar um "i" no final das palavras é como usar o diminutivo, como se vocês dissessem "internetinha". Não tem como não achar isso legal. Dá uma sensação de carinho.

Em uma de suas colunas, você já escreveu que o turista americano deve ser o mais irritante do mundo. Por quê?
Alguns americanos não sabem se comportar em outras culturas. Eles viajam muito dentro do próprio país e precisam entender que as outras culturas são diferentes da nossa para não ser "um puta babaca", como a gente diz no canal. Se, em Paris, ninguém está usando bermuda na rua, não vou usar também. Tem que observar.

E os brasileiros?
Tem uma diferença. O brasileiro não é um turista "experienced". Por causa do crescimento da economia, muitos eram turistas que nunca tinham viajado antes. Mas acho que o brasileiro vai entender mais rápido que o americano e talvez seja mais flexível e tenha uma maior sensibilidade social.

Quais foram as experiências mais marcantes que você viveu no Brasil?
Passei uma noite em uma comunidade ribeirinha na Amazônia para ver como funcionava uma escola no meio da Amazônia. E não tinha luz. Esse tipo de oportunidade de visitar pequenas cidades é coisa que só viajante tem. É meio universal que o Brasil tem problemas por todos os lados, mas há pessoas incríveis por todos os lados também.

Você tem uma dica exclusiva de Nova York? Uma que você não tenha falado nos vídeos ou na coluna.
Vou admitir que essa é uma dica que acabam de me dar e eu não fui ainda, mas eu sei que é bom. É ir Corona, no Queens, em um domingo para comer barbacoa mexicana, que acho que é carne de cabra. Lá, você compra tortilhas e a carne e faz um piquenique de tacos de carne de cabra. E eu sei que eles fazem isso por lá nos domingos e posso já falar os lugares para comprar as coisas. A Nixtamal para comprar a tortilha e a carne na Rosewood Avenue com a National Street.

E o que está fazendo agora? Quais são seus projetos?
Estou escrevendo um livro que deve sair em 2017. É sobre como viajar melhor, não cair em alguns truques e pegadinhas. E também estou desenvolvendo um projeto de vídeo em inglês para o "New York Times".

E o canal Amigo Gringo?
Continuo com ele. Para mim é um canal de viagens, mas também é de cultura. O quadro "Gringos Reagem" é o mais compartilhado, mas é a mesma ideia, de explicar como pensam os nova-iorquinos. E nós temos quadros para quem realmente vai para Nova York. Quando encontramos brasileiros na cidade e eles falam que os vídeos ajudaram, isso me deixa feliz.

vídeo

*

DICAS DE VIAGEM DO SETH

1. SOLTE-SE
Sempre esteja preparado para abandonar os planos se algo melhor surgir –um convite para a casa de alguém, um restaurante que parece muito legal ou simplesmente um bairro que não conhecia e agora quer visitar

2. FUJA DO ÓBVIO
Tente ficar em hotéis locais, e não em grandes redes internacionais. Não vale ir para Istambul e ficar no Marriott ou no Mercure. Busque um local em que a comida, as acomodações e os costumes remetam à cultura do lugar

3. PARA ECONOMIZAR
Uma dica para quem quer viajar de forma mais barata, mas não deseja ficar em dormitório compartilhados de albergues, são os quartos privados dos hostels –muitas vezes tão bons como os de hotéis, mas com preço menor

4. ORIENTAÇÃO
Quando estiver em uma cidade grande, compre um mapa em papel em vez de usar Google Maps. Assim, você se orienta mais rápido e não precisa ficar o tempo todo olhando o celular (ou parando cada segundo para atualizar o mapa com wi-fi)

*

RAIO-X: SETH KUGEL

IDADE
45 anos

PAÍSES VISITADOS
Cerca de 40

CARREIRA
Foi colunista de viagens do "New York Times" e professor de jornalismo na New York University. Criou o canal Amigo Gringo, no YouTube, em que dá dicas de viagens para brasileiros que desejam visitar Nova York


Endereço da página: