Folha de S. Paulo


Nas montanhas, Cunha aguça a vista e refresca com cachoeiras

É preciso bastante esforço físico para encarar os 2 km de subida a pé até o alto da pedra da Macela. Mas a promessa de avistar, lá de cima, a baía de Ilha Grande, Paraty e Angra dos Reis dá alento às panturrilhas cansadas.

A chegada do outono marca o início da temporada com clima mais seco –ideal para enxergar tudo o que a vista da pedra promete.

O local é o ponto turístico mais famoso de Cunha, cidade a 231 km de São Paulo e a apenas 49 km de Paraty, no litoral do Rio de Janeiro.

Encravado nas montanhas entre os dois Estados, o destino vem sendo redescoberto por turistas paulistas e cariocas com a recente pavimentação da estrada Paraty-Cunha, que cruza o parque nacional da Serra da Bocaina e segue boa parte do traçado da antiga Estrada Real.

Do lado de Cunha, a rodovia dá acesso a empreendimentos de paulistanos que deixaram a capital (leia mais abaixo), restaurantes, cachoeiras, ao parque Estadual da Serra do Mar e à Macela.

Reserve algumas horas para visitar a pedra. A subida é penosa e, lá em cima, é melhor não ter pressa ao esperar o mar de nuvens se dissipar e o tempo abrir. Depois de cerca de meia hora do que antes era só céu, a reportagem conseguiu ver surgir um pedacinho de Angra dos Reis.

Importante ir com um tênis confortável, levar protetor solar, lanche e água –não há local para alimentação.

Na volta, vale parar no La Taverne Bistro, que serve, ao som de blues e jazz, pratos com shiitake e outros cogumelos cultivados na região.

Dedique outro dia para conhecer o Parque Estadual da Serra do Mar. Ali, é possível fazer dois percursos guiados pela mata, um de 7,7 km e outro de 14,4 km. Antes de ir, ligue para o parque para saber a hora de saída das caminhadas e reservar uma vaga. O serviço de guia é gratuito.

Há também um trajeto autoguiado mais curto, de apenas 1,7 km –opção mais rápida para quem tiver pouco tempo. A trilha acompanha a margem esquerda do rio Paraibuna, passando por locais para banho e quedas d'água.

Apesar de mais simples, o percurso pode reservar surpresas. No caso da Folha, o inesperado veio em forma de cobra: uma urutu, espécie venenosa típica da região, serpenteando no meio da trilha.

O acesso ao parque se dá por uma estrada de terra de 20 km. No caminho, há restaurantes, como o Fogão de Lenha, que serve uma boa comida caseira.

Cunha

CACHOEIRAS E CERÂMICA

Cunha abriga ainda várias cachoeiras, como a do Desterro e a do Pimenta, ambas na estrada do Monjolo. Esta última fica ao lado de uma usina hidrelétrica desativada que hoje hospeda um museu.

A cidade também oferece ampla produção de cerâmica. São mais de 20 ateliês que trabalham com diferentes técnicas, como a do forno a gás ou do forno japonês noborigama.

Em outubro, o festival de Cerâmica celebra os 40 anos de produção com participação de pioneiros, que trouxeram o noborigama para a região.

PRODUÇÃO ARTESANAL

O casal paulistano Rodolfo e Lilian se cansou da capital e se mudou para Cunha, no extremo leste do Estado de São Paulo, em busca de uma vida mais tranquila.

Rodolfo queria aprender a produzir queijos. Isso levou os dois a começar a criar vacas Jersey –mesmo sem saber nada sobre laticínios ou mesmo bovinos. O hobby virou negócio, e hoje a Fazenda Aracatu produz queijos, verduras e sorvetes e funciona como um armazém, que vende outros produtos da região.

A história do casal se repete em mais de um ponto de Cunha. Em um terreno ao lado da fazenda Aracatu, a paulistana Fernanda Freire começou a cultivar lavandas em 2012. A planta vingou no clima da região e hoje o local produz cosméticos e recebe visitantes de sexta a domingo.

Já na estrada de terra que leva à pedra da Macela está a cervejaria artesanal Wolkenburg, criada pela paulistana Heidi e seu marido Tomas, que é mestre-cervejeiro.

Lá, produzem cervejas seguindo a lei de pureza da Bavaria (apenas com malte, lúpulo e água). Nos finais de semana, o local abre para degustação gratuita. Atenção: chegue antes do horário de fechamento, às 17h. Tomas é alemão, e sua pontualidade também.

A jornalista viajou a convite da Secretaria de Turismo e Cultura de Cunha


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