Folha de S. Paulo


Cultura sergipana se espalha pelas ruas e em museus de Aracaju

Se interagir com moradores de qualquer cidade é a melhor forma de conhecer a cultura local, negociar com um feirante, trocar rimas com repentistas e ouvir expressões e sotaques diferentes são uma experiência ainda mais rica na capital sergipana.

Tanto que virou museu. Em Aracaju, o Museu da Gente Sergipana (grátis; museuda gentesergipana.com.br) leva o visitante a uma imersão em hábitos e cenários, com diferentes atrações interativas.

Em uma delas, que lembra uma feira, por exemplo, o vendedor virtual Josevende responde ao visitante. Em outra, basta escolher os ingredientes em uma mesa virtual para "montar" pratos e conhecer receitas típicas, como a famosa queijada de São Cristóvão, de origem portuguesa. A cidade histórica é conhecida pela guloseima feita com coco ralado e ovos.

Para conhecer efetivamente o povo sergipano, o visitante "embarca" em um túnel com projeções feitas em 360º. A sequência de imagens faz com que o banco, em formato de barquinho, pareça que está em movimento.

Entre outras atrações, há uma brincadeira de amarelinha que aciona vídeos com as principais festas populares do Estado. Outra ferramenta usada é um grande jogo da memória, que associa trechos de músicas e poemas.

CULTURA POPULAR

Pertinho do museu, o centro cultural de Aracaju também tem entrada gratuita e merece visita. Localizado no prédio da antiga alfândega, o local tem exposições e uma biblioteca especializada em obras sobre a cultura local.

A surpresa está na lúdica e colorida Sala da Cultura Popular, repleta de brinquedos, bonecos do Mamulengo do Cheiroso (grupo teatral fundado nos anos 1970 na região) e folhetos de cordéis.

Mas é na rua que a cultura popular se torna mais pulsante. Na orla do Atalaia, Carlos da Silva Bastos, 58, vende artesanato há 38 anos –e, por isso, é apontado como um dos mais antigos artesãos.

Bastos afirma que é preciso se adaptar sempre. Começou vendendo bijuterias, fez quadros e, atualmente, aposta em quadrinhos que usam cascas de ostras e pinturas feitas em tampinhas de refrigerante, que são vendidas como ímãs de geladeira.

"Vendo hoje para comer amanhã", afirma o artista, que demora cerca de cinco horas para terminar uma das tampinhas.

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Símbolo da capital, Zé Peixe nadava para ajudar barcos

Zé Peixe, o prático que guiava embarcações a nado no rio Sergipe, é um ícone no Estado. Em Aracaju, basta um breve contato com moradores, sempre de conversa fácil, para que sejam reveladas histórias curiosas.

Nascido em 1927, José Martins Ribeiro Nunes, o Zé Peixe, ganhou notoriedade e homenagens por desempenhar sua profissão de um jeito incomum: dispensava o barco de apoio e, a braçadas, ia em direção ao navio que chegava ao porto. Na saída, orientava a tripulação e, em ponto seguro para seguir viagem, saltava do alto do navio e nadava até a costa. O percurso podia levar horas.

Era bom nadador desde menino, e salvou gente do afogamento. Idoso, ainda mergulhava diariamente –dizem também que não gostava de usar sapatos e que só tomava banho de água salgada.

Figura lendária, morreu em 2012, aos 85 anos. Às margens do rio Sergipe, ganhou estátua em posição de quem vai se lançar na água. A homenagem fica no chamado Espaço Zé Peixe, prédio do antigo terminal hidroviário.

SANFONEIRO NA COZINHA

Outra figura conhecida na região é o sanfoneiro Zé Américo. Ao contrário do seu xará Zé Peixe, o forrozeiro está vivo e mantém o restaurante Caçarola, de comida nordestina, no mercado Antonio Franco, onde ostenta fotos com famosos, como o cantor e compositor Gilberto Gil.

Entre as imagens na parede, Zé Américo, mais moço, posa ao lado de um antigo ônibus da CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos), em São Paulo. Orgulhoso, conta que viveu na cidade de 1972 a 1981.

"Fui a São Paulo para aprender, sair da roça. Mas o custo de vida era muito alto e tive que voltar", diz.

O músico conta que, além de motorista, trabalhou em balcão de padaria e em bufê. Hoje, à frente do próprio restaurante, o músico e cozinheiro indica rabada light com arribação. "Arribacão é feijão-de-corda temperado, com arroz", explica.

Com 40 anos de forró, Zé Américo –que ainda faz shows– costuma levar sua sanfona para o trabalho e dar uma palhinha aos clientes.

A jornalista viajou a convite da Secretaria da Indústria, Comércio e Turismo de Aracaju


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