Folha de S. Paulo


No México central, palcos da luta pela independência atraem pela boemia

José Juan Figueroa/Flickr
Paróquia de San Miguel Arcangel, em Guanajuato
Paróquia de San Miguel Arcangel, em Guanajuato, cidade histórica localizada na zona central mexicana

O verde-escuro de uma plantação de agave-azul, cercada por cactos e montanhas, pode ser a primeira parada do dia. O melhor alívio para o calor é um drinque à base de toranja, soda, gelo e, "por supuesto", tequila.

No povoado mais próximo, as cozinheiras preparam caldos de frutos locais, salsas apimentadas e "largas", espécie de taco montado em uma tortilha grossa.

Entre um passeio e uma refeição, as vielas e ladeiras do Estado de Guanajuato, no México central, preservam um momento-chave da história do país. Foi aqui que a luta pela independência começou, em 1810, quando o padre Miguel Hidalgo declarou guerra à coroa espanhola.

A região tem duas cidades consideradas patrimônio da humanidade da Unesco, San Miguel de Allende e a capital do Estado, Guanajuato –servidas pelos aeroportos de León e de Querétaro, ambas são as bases com a melhor estrutura turística.

Nos arredores, também é possível explorar uma história ainda mais ancestral, nos quatro sítios arqueológicos de civilizações pré-hispânicas abertos à visitação: Plazuelas, Peralta, Cañada de la Virgen e El Cóporo; 30 pesos mexicanos (R$ 6,70).

E, para variar um pouco da tequila, uma nova geração de vinícolas que, além de promoverem degustações de seus produtos (vinhos tintos e brancos, geleias e queijos), oferecem pedaladas no cume de um vale.

AMOR E REVOLUÇÃO

Fundada em 1542, San Miguel de Allende homenageia o capitão Ignacio Allende, herói da guerra da Independência. Por suas ladeiras e ruelas de pedra se espalham influências das mais variadas.

Na arquitetura, a grandiosa catedral, erguida entre os séculos 16 e 18, mistura barroco e gótico, e o santuário de Atotonilco, tradições espanholas e indígenas.

Na vida cotidiana, os expatriados dão um tom boêmio, em dezenas de galerias, ateliês, pubs e terraços-bar. Estima-se que 20% da população seja estrangeira, com destaque para americanos e canadenses, atraídos desde os anos 1940 pela inauguração da Escola de Belas Artes.

O mix de culturas e sabores se repete um pouco em Guanajuato, a pouco menos de duas horas de San Miguel. Fundada em 1559, a hoje capital do Estado tem um clima universitário imerso entre becos e construções coloniais.

A cidade viveu sua fase áurea no século 16, quando foi um dos principais centros de exploração de prata do mundo –hoje, museus e minas restauradas contam a história da abundância do solo da região.

Mais tarde, em 1810, foi no edifício Alhóndiga de Granaditas, no centro histórico, que os insurgentes celebraram a primeira vitória da revolução que levaria à independência mexicana.

Hoje, o lugar é pródigo em cheiros, sons, sabores e cores. Zanzar pelas vielas é descobrir portinhas pelas quais se vendem tortas aromáticas, sobrados de fachadas marcantes, serenatas conduzidas por estudantes, risadas de crianças tomando sorvete.

Reserve tempo, então, para caminhar sem pressa e se perder pelo centro, explorando os mercados, cafés, teatros e museus –entre eles, a casa do muralista Diego Rivera (1886-1957); o marido de Frida Kahlo é filho célebre de Guanajuato. À noite, flanar pelos arredores tem um clima diferente, mais jovem.

Também é parada obrigatória para muitos turistas o cenográfico callejón del Beso (beco do Beijo), onde os amantes podem se beijar de duas sacadas separadas por apenas 69 centímetros.

CIRCUITO DO TEQUILA

Uma das estrelas do turismo em Guanajuato, o chamado circuito do Tequila (no México, a bebida é um substantivo masculino) se espalha pela cidade de Pénjamo e os povoados nos arredores.

O tour percorre fazendas, museus e plantações de agave-azul –planta que é base da bebida. Por US$ 75 (R$ 299), inclui almoço e visitas ao rancho El Coyote e aos produtores Corralejo e Real de Pénjamo.

É a chance de comprar garrafas decorativas, feitas por artesãos locais, e tequila de qualidade –por preços até 15% menores do que no free shop do aeroporto.

Na Corralejo, um Los Arango Reposado, engarrafado manualmente, custa US$ 6 (R$ 24).

Outro circuito concorrido é o do Vinho. Em Dolores Hidalgo, a vinícola Cuna de Tierra organiza tours com passeios a cavalo ou de bicicleta, colheita de uvas e aulas de culinária –com almoço (US$ 100, R$ 399).

A Caminos D'Vinos é uma vinícola-hotel a 2.400 metros acima do nível do mar, que ocupa terreno de uma fazenda do século 18.

GASTRONOMIA

Vale dizer, alguns hotéis-butique de San Miguel de Allende e Guanajuato passaram a investir nos chamados "restaurantes de autor", de vanguarda.

O Moxi, no hotel Matilda, em San Miguel, por exemplo, desde 2012 leva a assinatura de Enrique Olvera. O chef trabalha no Pujol, na Cidade do México, 16º melhor do mundo segundo o ranking 50 Best.

Prolifera na região o conceito "da fazenda à mesa", com escamoles (larvas de formiga, apelidadas de "caviar mexicano") e xoconostle (fruto do cacto), morangos orgânicos e queijo de cabra artesanal.

A jornalista viajou a convite da Secretaria de Turismo de Guanajuato, da Aeroméxico e da agência Flot

México

Divulgação
Vista do centro histórico de San Miguel de Allende, no Estado de Guanajuato
Vista do centro histórico de San Miguel de Allende, no Estado de Guanajuato

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