Folha de S. Paulo


Museu do Ouro, em Bogotá, guarda múmia ainda com cérebro

As aproximadamente 8.000 peças que estão expostas no museu do Ouro, em Bogotá, fundado em 1939, são apenas uma parte mínima do patrimônio que a Colômbia abriga nos depósitos desse local repleto de tesouros que nunca viram a luz e entre os quais destacam-se múmias conservadas com perfeição.

"O interessante dos depósitos é que cada vez que você abre uma gaveta encontra algo diferente. É muito difícil conhecer toda a coleção aqui", comentou o arqueólogo Juan Pablo Quintero, que trabalha para o museu há quase seis anos.

A coleção completa do museu do Ouro, propriedade do Banco da República da Colômbia e que, além de Bogotá, tem outras seis delegações no país, tem um total de 54 mil peças de pedra, ouro, cerâmica, madeira e tecido. Desse número, uma grande parte está guardada em dois depósitos, denominados abóbadas.

Os trabalhos de cerâmica e ouro estão nas entranhas da principal sede do museu na capital colombiana e cujo acesso é restrito e tem rígidas medidas de segurança. Quem tem a oportunidade de entrar se sente em um filme de James Bond.

São muitas portas e uma só se abre depois que a outra se fecha. Além disso, para ter acesso, é preciso olhar fixamente para a câmera de segurança para que a equipe dê o sinal o verde para a passagem para a próxima sala.

Na sala das cerâmicas, criada em 2004, 15 mil objetos –todos que não têm elementos de ouro– impecavelmente organizados pelo tipo de material e a data de chegada estão distribuídos em armários, que se movimentam por trilhos e que são classificados geograficamente.

Em um dos lados dessa sala se encontra uma espécie de sarcófago de polietileno, feito sob medida e com respiradores, com várias múmias, a maioria nunca exposta ao público.

"Esta ainda tem o cérebro. Conseguimos descobrir porque fizemos tomografias recentemente", explicou Quintero ao falar da menina de 13 anos mumificada em posição fetal e que veio acompanhada com um copo de cerâmica e 40 tunjos (figuras antropomorfas) de cobre.

O bom estado de conservação da jovem múmia, que chegou ao museu nos anos 1980, levantou a suspeita de que pudesse se tratar de um sacrifício humano, já que a menina conserva o cabelo preto intacto, assim como os dedos das minúsculas mãos.

A antropóloga Ana María González, também funcionária do museu, declarou que a mumificação variava conforme o lugar. Segundo ela, o processo dos egípcios é diferente do feito na cultura pré-hispânica.

Apesar de ninguém poder ficar muito tempo nos depósitos, frequentemente o lugar recebe os "mamos", líderes espirituais de comunidades indígenas, que realizam festas, fazem oferendas e rituais, chamados de "limpas", nas salas das exposições abertas ao público e nos estoques, pois as coleções "também pertencem a eles", destacou Ana María.

Na abóbada de peças de ouro, cujo acesso é ainda mais restrito, há "pelo menos 25 mil" artefatos de diferentes ligas de metais.

Os encarregados desse enorme tesouro guardado em um mar de chaves e fechaduras deram autorização para tirar da abóbada três gavetas que continham pectorais de ouro da cultura Calima correspondentes ao período Yotoco (200 a.C. a 900 d.C.) e 50 cascavéis com distintas representações, típicas dos Tayrona (900 d.C 1600 d.C.).

Segundo Ana María, a informação que existe sobre a coleção "é pouca", e, por isso o museu se diz aberto a receber todos os pesquisadores de disciplinas afins para apresentarem suas ideias e estudos com o propósito de esclarecer os mistérios que ainda se encerram no interior de suas gavetas.

"Aqui, tem coisa para se pesquisar durante centenas de anos", concluiu Ana María.


Endereço da página:

Links no texto: