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TESTE FOLHA

Carona via app tem bom papo e bossa nova, mas poucos destinos

Mateus Luiz de Souza/Folhapress
Michel Carneiro Lopes, em Santos, ao final da viagem
Michel Carneiro Lopes, em Santos, ao final da viagem

Na última segunda-feira (30), começou a funcionar no Brasil o aplicativo francês BlaBlaCar, destinado a quem quer pegar carona em trajetos para outras cidades. Fiz duas viagens nesta semana usando a ferramenta para ver se ela funciona.

O app ainda tem o desafio de atrair usuários. No dia da estreia, havia poucos destinos disponíveis. Dois repórteres da Folha ofereceram carona no app para diversos destinos e horários, sem nenhuma procura entre segunda e terça-feira. Eu busquei, sempre partindo de São Paulo, por Campinas, Sorocaba, São José dos Campos e Santos. A única disponível era a última.

O anúncio dizia que Michel L. (o aplicativo não mostra o nome inteiro), 34, com uma foto de perfil sorridente, sairia da capital às 19h rumo à Baixada Santista em um Honda Civic, e cobrava R$ 13 por uma vaga (o sistema calcula um valor máximo para cada trajeto, de modo a não haver lucro para o motorista).

Pedi a carona e em poucos minutos veio a confirmação, por e-mail e SMS, de que ele havia aceitado. Foi possível, então, ver o celular da outra pessoa e mandar mensagem privada no próprio app –por ali, combinamos o ponto de encontro e de destino.

Cheguei ao local de encontro, a estação Santa Cruz do metrô, pontualmente. Olhei para a região dos táxis, mas não havia nenhum carro. Será que fui enganado? Mandei uma mensagem de áudio no WhatsApp avisando que o aguardava. A resposta: ele se desculpou e disse em cinco minutos estaria ali.

Demos uma olhada um no outro antes de ele abrir a porta do carro e seguirmos viagem. Michel L. é Michel Carneiro Lopes, profissional de tecnologia da informação e tem 35 anos (o app, por erro, está tirando um ano dos usuários). Há oito anos faz o caminho Santos-São Paulo-Santos diariamente. O custo de manter um carro é alto, e ele viu no aplicativo uma boa possibilidade de reduzi-lo.

A desconfiança existe, mas ele considera o sistema seguro. "Pessoas ruins há em todo lugar. Ainda nem deu tempo de bandidos descobrirem esse aplicativo", acredita.

A pessoa que oferece a vaga no veículo pode escolher três opções: se gosta de conversar, se permite fumar e se gosta de ouvir música.

Michel veta o tabaco e diz que gosta de papear "às vezes" –esta opção marcou por engano, conta ele, que tinha papo para qualquer assunto. Viagens ("Conhece o Beach Park? Não tive coragem de ir naquele tobogã"), trabalho ("Queria ser jornalista esportivo"), vida ("Minha mulher está tentando empreender, mas não é fácil").

No fim, transferi o dinheiro para ele com o app do banco (eu estava sem dinheiro vivo) e nos avaliamos pelo BlaBlaCar. Eu o classifico como "preocupado com o passageiro" e sou apontado como "excelente companhia". Cinco estrelas para os dois.

Na terça-feira (1º), tentei ir para Mogi das Cruzes (SP) com Rodrigo M., mas fui recusado. A explicação para o insucesso veio do próprio aplicativo: minha foto não estava adequada. É preciso usar uma imagem em que o rosto apareça mais de perto.

Com a foto trocada, pedi carona a Saulo Martinez, 33, gerente de projetos. Em instantes ele me enviou um SMS e me ligou –os R$ 10 serão pagos em dinheiro.

Ele também quer reduzir os custos do deslocamento diário entre as duas cidades, mas as vantagens não se resumem à economia. "Só de ter alguém para conversar já é bom. Essa rotina de trânsito me estressa muito", diz.

Saulo indica como chegar aos principais pontos de Mogi e pergunta se a música, uma bossa nova, está boa. Eu digo que sim, mas ele insiste. "Se quiser colocar um heavy metal aí, fique à vontade."

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Divulgação
Tela do aplicativo de caronas Blablacar
Tela do aplicativo de caronas Blablacar

BLABLACAR
Define-se como plataforma de conexão de pessoas
Usuários 20 milhões, em 20 países
Plataformas iOS e Android
Quanto Gratuito

CADASTRO
Para se cadastrar no app é preciso ter perfil no Facebook

COMO FUNCIONA
Para o condutor: O motorista deve informar o itinerário da viagem e o custo de participação de cada passageiro. Também deve optar entre aprovação automática ou manual das reservas dos passageiros
Para o passageiro: O usuário procura por uma viagem informando o ponto de partida e de chegada. É possível fazer publicar perguntas ao condutor antes de fazer a reserva

DEPOIS DA VIAGEM
Condutor e passageiro podem deixar avaliações um sobre o outro. A avaliação é sempre mútua e feita às cegas -o condutor só pode ler o que foi escrito por ele se avaliar o passageiro

NÃO É UBER
Os motoristas não são profissionais e não podem lucrar com as viagens. O app sempre sugere um custo de participação para cobrir gasolina e pedágio e o condutor só pode aumentar esse valor até 50%


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