Folha de S. Paulo


Trancoso é paradigma de vilarejo à beira-mar

Cheguei a Trancoso pela primeira vez em janeiro de 1986, a pé, pela areia, vinda de Arraial D´Ajuda.

A caminhada nos tomou uma eternidade, coisa de dias ou talvez tivessem sido apenas algumas horinhas, fiquei tão abalada que não saberia reviver. Por mais pitorescas que sejam as falésias ao longo do caminho, devo ter obliterado a beleza da mente.

Na segunda vez, desembarquei vindo diretamente de Ilhéus em um táxi tão mambembe quanto os similares portenhos e com um motorista tão veloz quanto carioca ao redor da Lagoa.

Não menos épica foi minha terceira incursão, na traseira de um caminhão que nos dera carona a partir da balsa em Porto Seguro. Isso deve ter sido numa manhã chuvosa do início do verão de 1987.

Aqueles tempos foram gloriosos. O arquiteto Ricardo Salem, com seus 30 anos à época, já havia começado a construir as casas que hoje são um padrão reconhecido do vilarejo que abriga a segunda capela mais antiga do Brasil.

Junto com um bando de gente visionária que se apaixonou pelo astral e pelo Quadrado, a praça em frente à igreja ao redor da qual os pescadores construíram suas choupanas, Ricardo e seus amigos, filhos da alta burguesia paulistana, resolveram se estabelecer e criar raízes.

Foram comprando terras e começaram a revender apenas a quem tivesse a mesma inclinação preservacionista.

Foi essa visão que evitou que Trancoso se tornasse mais um Porto de Galinhas ou uma Bertioga, espaços ocupados apenas por olhos que enxergam o lucro, sem levar em conta identidade, sustentabilidade.

E é por isso que, hoje, o dono da rede Ikea, os príncipes de Mônaco ou mesmo a persistente Naomi Campbell preferem Trancoso a passar férias em suas vilas no Marrocos, no Caribe, em Fiji, Bali ou na Côte D´Azur.

Há uma lenda que diz que, num verão recente, eram tantos os secadores de cabelo funcionando ao mesmo tempo em 31 de dezembro que a retransmissora de energia de Trancoso entrou em colapso.

Há também quem diga que as peruas paulistanas insistem em cruzar o gramado do quadrado de salto alto.

De fato, há períodos específicos durante o ano em que Trancoso ameaça virar um grande Guarujá.

Já ouvi caiçara reclamar que todas as renovações serviram apenas para atender ao turista, que a população local não usufrui dos benefícios e, ainda por cima, tem sua rotina pacata perturbada.

É claro que os jovens empreendedores que hoje são conhecidos como os "precursores de Trancoso" ocasionaram mudanças de que muitos podem não gostar.

Progresso gera barulho e competitividade. Mas quem pode não gostar do fato de a rodovia passar ao largo da cidade e não no meio dela, como em Maresias, Caraguatatuba ou Ubatuba, no litoral norte de SP, arruinadas pela falta de planejamento?

Quem pode achar ruim o surgimento das superequipadas escolas de primeiro e segundo graus, a escola de música, os mutirões de preservação?

Em Trancoso não há shopping, minishopping ou mall. Se isso não é uma vitória a comemorar, podemos bater palmas para o fim de tarde no Quadrado, com meninos jogando bola, enquanto se festeja mais um casamento de grã-fino na igrejinha e os velhos ficam sentados na porta de casa só espiando...

Ou, então, entre na minha onda e venha assistir ao meu espetáculo preferido no sul da Bahia: ver a lua cheia surgir de dentro do mar e crescer feito mongolfiera (balão de ar quente) na sua frente.

A ONU não assumiu a responsabilidade, mas eu já determinei que essa vem a ser uma das Sete Maravilhas do Mundo.

Do meu mundo, mas eu empresto, se você respeitar Trancoso como paradigma tapuia de vilarejo à beira-mar.


BARBARA GANCIA, 57, é jornalista da Folha, da Bandnews FM e do canal GNT, Globosat. Já visitou muitos países. Em alguns deles, como EUA, Itália, Suíça, França, Espanha e Reino Unido, esteve inúmeras vezes e em várias cidades.

Para mais destinos, clique na cidade correspondente no mapa abaixo.

Capa de turismo

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PACOTES PARA TRANCOSO

R$ 1.210
É o preço da diária no Uxua Casa Hotel & Spa. Inclui pensão completa (sem aéreo). Na Auroraeco: (11) 3086-1731; auroraeco.com.br

R$ 1.580
Sete noites na pousada Aldeia do Sol. Inclui aéreo e café. Na Addin Viagens: (11) 3129-8928; addin.com.br

R$ 4.829
Sete noites no Club Med, com pensão completa. Inclui aéreo. Na Soft Travel: (11) 3017-9999; softtravel.com.br

R$ 5.346
Pacote de sete noites na pousada Estrela d'Água. Inclui café da manhã e aéreo. Na Visual Turismo: (11) 3235-2000; visualturismo.com.br

R$ 899
Pacote de quatro noites na pousada Aldeia do Sol, com café da manhã. No Groupon: www.groupon.com.br

R$ 1.488
Quatro noites na pousada Etnia. Inclui café da manhã. Na Cia Eco: (11) 5571-2525; ciaeco.tur.br

R$ 2.966
Quatro noites no hotel Big Bamboo. Inclui aéreo e café da manhã. Na Trip4u: (21) 3449-3545; trip4u.com.br

R$ 3.071
Sete noites no Club Med, com regime de pensão completa. Na Agaxtur: (11) 3067-0900; agaxturviagens.com.br

R$ 4.457
Pacote de sete noites na pousada Estrela d'Água, com café e aéreo. Na Venice Turismo: (11) 3087-4747; veniceturismo.com.br

R$ 3.955
Sete diárias na pousada Estrela d'Água. Inclui café da manhã e aéreo. Na Top Brasil Turismo: (11) 5576-6300; topbrasiltur.com.br

R$ 6.852
Seis noites na pousada Estrela d'Água, com café da manhã. Tel: (73) 3668-1030; estreladagua.com.br

R$ 9.300
Três noites no Uxua Casa Hotel & Spa, inclui café da manhã e passeios. Tel: (73) 3668-2277; uxua.com

R$ 2.520
Três noites no Uxua, com café. Na Teresa Perez: (11) 3799-4000; teresaperez.com.br

R$ 1.488
Pacote de quatro noites na pousada Etnia, com café da manhã. Na Adventure Club: (11) 5573-4142; adventureclub.com.br


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