Folha de S. Paulo


Conheça o 'lado B' do litoral de Alagoas, calmo e mais barato

Pense na muvuca da praia do Francês, do Gunga, das piscinas naturais de Pajuçara. Agora esqueça. Alagoas é um ímã nacional do turismo de massa, mas também abriga um lado B tranquilo, rústico e pouco frequentado.

Essa versão zen do Estado tem seu ápice na região apelidada de Rota Ecológica, entre Barra do Camaragibe e Porto de Pedras, a 93 km ao norte de Maceió. São praias belíssimas, muitas praticamente desertas e outras tantas sem um único ambulante vendendo cerveja ou água. Mesmo em janeiro é fácil achar uma extensa faixa de areia para chamar de sua, com exclusividade.

Completam o cenário piscinas naturais que se formam na maré baixa, coqueirais, povoados de pescadores, igrejas acanhadas e praças enfeitadas por bandeirolas. Vale lembrar o desfile de pousadas de charme que deu fama ao pedaço.

Débora Yuri
Praia de São Miguel dos Milagres, em Alagoas
Praia de São Miguel dos Milagres, em Alagoas

Sim, elas são essenciais para preservar o sossego, atrativo e marca registrada da Rota –com poucos quartos, chalés ou bangalôs privativos, recebem um número reduzido de hóspedes. Mas também colocaram no imaginário do viajante que a região é proibida aos "duros".

Mas dá para aproveitar os encantos locais sem gastar os tubos. Primeira exigência: fazer um bom planejamento, já que a oferta de hospedagem barata é escassa. Quem não deixa para a última hora consegue encontrar diárias a R$ 125 em julho, com café da manhã, vista para o mar e 200 metros de distância até a praia mais próxima incluídos.

Na hora de escolher a base, dois vilarejos despontam. Porto da Rua, pertencente ao município de São Miguel dos Milagres, tem mais pousadas e restaurantes simples, mas não proporciona a melhor experiência de praia. Nas férias, seu trecho de mar fica cheio, e o amontoado de cadeiras e guarda-sóis de plástico acaba com boa parte daquela experiência de paraíso intocado.

Em São Miguel dos Milagres propriamente dita, a praia homônima é mais cênica e vazia. A sensação é de que sobram mar cristalino, areia branca, sombra dos coqueiros e barcos de pescadores, tão baixa a densidade demográfica.

Existe uma terceira opção, desconfortável pois obriga o turista a encarar uma travessia de balsa para curtir o filé mignon da região. A cidadezinha de Japaratinga conta com diversas pousadas econômicas e é separada de Porto de Pedras e São Miguel dos Milagres pelo Rio Manguaba. A viagem nas balsas não dura nem dez minutos. O problema é que elas comportam apenas dois carros, e as filas na alta temporada são frequentes.

Povoados para desacelerar

Qualquer que seja o seu porto, prepare-se para percorrer algumas das praias mais belas do país. E leve água: em boa parte delas, não há bares nem ambulantes.

Para muitos, a número 1 de Alagoas é o Patacho, estrela do município de Porto de Pedras, vizinho a Milagres. Mas o conjunto realmente impressiona: a Praia da Laje também arranca suspiros. Assim como a Praia dos Morros, com suas falésias, e o Toque, reduto das pousadas-butique, e a Praia do Marceneiro, e a do Riacho...

Caminhar em meio a paisagens assim vira uma grande pedida. De Porto da Rua, é possível ir a pé até a Praia do Toque ou ao Rio Tatuamunha, de onde saem tours para observação do santuário de peixes-boi. A praia de Milagres fica entre as do Toque e do Riacho, acessíveis aos pedestres. Todas têm águas mornas e calmas, praticamente sem ondas.

Bugueiros cobram R$ 120 pelo passeio aos litorais norte ou sul da Rota –o preço vale para até quatro pessoas. Se a ideia for conhecer de buggy destinos mais distantes, como Maragogi ou Carro Quebrado, gasta-se R$ 250. Alugar bicicleta (diárias a R$ 20) ou cavalo (R$ 30) são outras opções para se deslocar.

PARA COMER

No quesito alimentação, é preciso fugir dos restaurantes gourmet, febre nos povoados e pousadas de charme, se quiser manter o orçamento apertado. Porto da Rua é razoavelmente bem servida, de dia e à noite: você pode comer crepe, pizza, massas, tacos e, claro, frutos do mar. Sempre lotado, o Restaurante do Enildo é a parada da economia: serve bons caldinhos, peixadas e camarão no coco, além de lagostas a preços camaradas.

Em Milagres, três botecos atendem na praia, somente durante o dia. O Bar do Peixe Frito faz, veja bem, peixes fritos inteiros ou em isca, caldo de siri, PFs saborosos a R$ 15 e caipirinhas dignas por R$ 5. No Bar do Cambota, o cardápio depende dos produtos disponíveis no dia.

À noite, quem se hospedar no vilarejo e não alugar carro precisará de algum desapego, um moto-táxi ou o delivery da pizzaria de Porto da Rua. A vida noturna é nula; uma única padaria serve coxinhas e hambúrgueres até as 20h.

PRAIAS SEMIDESERTAS

Subindo rumo ao norte, chega-se a outro trecho quase sempre despovoado do Estado. Na Costa dos Corais, outras tantas praias provam que os aficionados por fazer listas de "5 mais" terão problemas em Alagoas.

Depois do Rio Manguaba, o município de Japaratinga descortina Boqueirão, Barreiras do Boqueirão e a praia que dá nome à vila. Faz questão de uma coloração de mar 100% surpreendente? Aqui, ele segue como na Rota Ecológica, de um verde-água cintilante quando o sol brilha. Não é o Caribe, mas chega perto.

O próximo destaque do mapa é Maragogi, maior polo turístico alagoano após Maceió. Suas piscinas naturais, chamadas de galés, atraem multidões em épocas de férias, mas os preços e a lotação caem em julho. Muita gente faz um bate-e-volta desgastante para conhecer as galés, a partir da capital ou de Recife; o melhor mesmo é montar acampamento na área e explorar seus segredos com calma.

Ao norte da vila central, Maragogi tem praias vazias como Antunes, Xaréu e Ponta de Mangue, já quase na divisa com Pernambuco. Cruzando a fronteira, surge Carneiros –invariavelmente citada como uma das praias mais bonitas do Brasil, é uma joia a apenas 60 km de distância.

Todo esse pedaço da costa nacional é protegido pela segunda maior barreira de corais do mundo, que forma bancos de areia e piscinas naturais na maré baixa. O ideal é visitá-las em dias de sol, durante as luas cheia ou nova, com a maré até 0,3 (verifique a tábua das marés no site da Marinha).

VELHO CHICO E LAMPIÃO

No extremo oposto alagoano –a divisa com Sergipe–, o bacana é fazer roteiros com foco em história, cultura e um rio emblemático, o São Francisco. De Piaçabuçu, saem barcos que navegam lentamente por suas águas, ao som de forró pé-de-serra, margeando comunidades ribeirinhas.

As embarcações vão ao encontro da foz do Velho Chico, onde o rio encontra o Oceano Atlântico, com paradas para subir em dunas, tomar banho em lagoas de água morna e comprar bolos, cocadas ou artesanato local. Primeiro povoado do Estado, fundado no século 16, Penedo é uma base interessante para o viajante: bem conservada, exibe ruas de paralelepípedos, igrejas barrocas e azulejos portugueses.

No sertão, Alagoas mostra que seus atrativos não estão restritos aos 230 km de belo litoral. Patrimônio Histórico Nacional, a cidade de Piranhas tem um casario colonial colorido e praias fluviais.

O município também é porta de entrada para a Rota do Cangaço ++um passeio pela caatinga, casas de taipa e a trilha onde Lampião, Maria Bonita e outros cangaceiros foram mortos em emboscada. Da vizinha Canindé de São Francisco, já em Sergipe, partem catamarãs que percorrem os cânions do rio.


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