Folha de S. Paulo


Mar de motos toma conta de ruas em Ho Chi Minh, cidade do Vietnã

Atravessar as ruas de Ho Chi Minh City, no Vietnã, não é para os fracos. É preciso meter as caras, sair andando com confiança e torcer para ninguém passar por cima.

As milhares de motocicletas, que são dez vezes o número dos carros locais, cruzam avenidas e vielas como nuvens de gafanhotos.

Já fazia três dias que eu estava na cidade, digerindo o barulho do trânsito, quando pulei na garupa de uma vietnamita. Foi um alívio mudar de perspectiva.

Minha motorista era Tam, 21, fluente em inglês e estudante de mandarim. Ela usava uma roupa tradicional (blusa de manga comprida que parece um vestido, aberta nas laterais da cintura para baixo) e era guia da XO Tours, especializada em passeios de motos, sempre dirigidas por mulheres. "Elas são mais cautelosas que os homens", explica o site (xotours.vn ). O tour custa de US$ 40 (R$ 108) a US$ 72 (R$ 195).

Fernanda Ezabella/Folhapress
Em Ho Chi Minh, no Vietnã, motos são dez vezes o número de carros da cidade
Em Ho Chi Minh, no Vietnã, motos são dez vezes o número de carros da cidade

Na maior cidade do Vietnã, também conhecida como Saigon, a moto é a principal forma de transporte –4 milhões contra 350 mil carros, para uma população de 9 milhões.

Na Vespa de Tam, observando de perto o caos, era como fazer parte de um formigueiro elétrico, levemente organizado. Todos andam de moto: o pai leva a mulher e os dois filhos, a velhinha transporta sacolas de coco, e um jovem traz uma pilha enorme de pneus.

Nas três horas de passeio, fui levada a bairros que ficam além dos pontos turísticos, como o Distrito 7, praticamente uma outra cidade, onde moram ricos e estrangeiros, com prédios chiques recém-construídos, ruas limpas e arborizadas. Aqui, motos são raras, o ar é mais fresco e dá até para ouvir grilos.

O roteiro também inclui um "motel" dos nativos, um trecho à beira de um rio, atrás de um posto de gasolina, onde alugam-se cadeiras de praia para namorar. "Muitas famílias moram juntas, e os casais nunca têm privacidade. Aqui é uma alternativa", diz Tam. "Quer dar uma paradinha com seu marido?"

De volta ao centro nervoso da cidade, o jantar foi num local típico, com mesas baixas e cadeiras de plástico. Foram servidos "banh mi" (sanduíche de baguete) e "com tam" (costeletas de porco grelhadas com arroz) com caldo de cana e cerveja à vontade.

Tam falou do namorado, perguntou sobre minha vida e descascou várias frutas para eu comer (pitaia, rambutão, mangostão).

As motogirls fazem de tudo para agradar os turistas e exageram nas situações para fotos. No final, ao parar num mercado noturno, Tam pediu para eu sentar na frente da Vespa para tirar uma foto.

Com tanta bajulação, pedi para dirigir um pouco e insisti. Nesta hora, muito educadamente e cheia de sorrisos, ela disse não. Ainda bem.


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