Folha de S. Paulo


Tour por plantação de maconha em Nine Mile lembra passeio em vinícola

A experiência de conhecer uma plantação de maconha no interior da Jamaica remete aos tours que percorrem vinícolas em regiões da América do Sul, da Califórnia (EUA) e da França, por exemplo.

O turista poderá acompanhar os diversos momentos do cultivo da Cannabis sativa (nome científico da maconha) e suas peculiaridades.

Uma delas é que as plantas precisam estar camufladas por outras folhagens –não pelo mesmo motivo que o cacau (que precisa de sombra), mas para fugir das patrulhas policiais aéreas. Assim como o uso e a venda, o plantio de maconha é proibido na Jamaica.

Esses passeios clandestinos, que podem ser agendados pela internet ou marcados na hora com taxistas e vendedores da droga nas praias, fazem parte da indústria turística jamaicana –pouco menos de um terço da economia (R$ 19,4 bilhões de R$ 65 bilhões em 2013).

Entre os 2 milhões de turistas estrangeiros –o Brasil recebe 6 milhões– que chegam ao país anualmente, seis em cada dez são americanos em busca das praias caribenhas e dos mimos dos resorts que se concentram em Negril, Ocho Rios e Montego Bay.

Com poucas atrações turísticas, a capital Kingston fica distante do circuito turístico, até 200 km por estradas esburacadas e mal sinalizadas.

As visitas às plantações de maconha são concentradas em Nine Mile, onde nasceu Bob Marley (1945-81), cantor de reggae e herói nacional.

"Levo gente lá o dia todo. Não se preocupe, Nine Mile é seguro para fumar e comprar ganja' porque a polícia respeita Bob e sua casa", explica o taxista Nelson, 49, que desata a cantar uma música diferente do reggaeiro toda vez em que cita o nome dele.

Ele parou de fumar maconha há cinco anos por problemas respiratórios. Na mesma época, entrou para o crescente negócio de levar turistas para as plantações na região.

INVASÃO HOLANDESA

Em frente ao mausoléu construído ao redor da casa onde Bob Marley nasceu, há diversos comerciantes oferecendo cigarros de maconha (R$ 10 o grama), pedaços de haxixe e skank (derivados da droga), isqueiros (com a foto de Bob Marley, o desenho da folha ou o mapa do país), sementes, pés de plantas em sacos pretos e, por fim, um tour por sua plantação perto dali.

Os passeios duram uma hora e custam o equivalente a R$ 230 por pessoa. A maioria dos visitantes é oriunda dos Estados Unidos e da Holanda. A Jamaica é o principal fornecedor de maconha para os norte-americanos, segundo a ONU. E a Holanda é o principal destino mundial do circuito turístico maconheiro (veja mapa à direita).

"Os holandeses vêm aqui porque sabem que cultivamos a melhor do mundo", diz o guia, agricultor e vendedor Yellow Star, conduzindo a visita por uma casa simples, com crianças brincando em corredores apertados e idosos conversando em salas largas, até chegar ao quintal com a metade do tamanho de um campo de grama sintética.

Enquanto fuma e passa um baseado comprido como um iPhone, ele vai abrindo caminho por mais de dez variações genéticas das plantas de maconha em seu quintal, que passam de 1,80 metro. Ele para a cada tipo, arranca um pedaço e dá uma explicação: "Velho, essa aqui é a famosa White Widow'. Cheira isso. Melhor ganja' do mundo".

A concentração de THC (substância alucinógena da maconha) de uma variação genética como esta jamaicana é quatro vezes maior que a média encontrada nas drogas apreendidas em São Paulo. Um cigarro individual da droga tem, em média, um grama.

No passeio, a reportagem, que não se identificou, teve contato com dez variações da droga, entre elas a "Sensimilla", "a que Bob Marley fumava", a "Blueberry" e a "Jamaican Pearl", que variam em sabor e efeito alucinógeno.

Há também os cômodos em que plantas passam por um processo de secagem, cigarros artesanais são fechados e suvenires são separados para os vendedores.

Segundo relatos em fóruns de turistas na internet, esses tours não são necessariamente seguros. Os visitantes ficam vulneráveis, porque o passeio não está dentro da lei, e podem acabar assaltados ou extorquidos. Recomenda-se não levar objetos de valor ou muito dinheiro.

Ao final, se tudo correr bem, o visitante paga os cerca de R$ 230 ("pela visita, pelas fotos e porque temos que pagar a polícia") e pode desembolsar ainda mais se quiser levar as lembranças oferecidas na frente do mausoléu, legais ou não.

Maconha vai receber nome em homenagem a Bob Marley

A família de Bob Marley anunciou, na última terça-feira (18), que fechou acordo com uma empresa americana para lançar a Marley Natural. Segundo a Reuteurs, a marca vai vender, a partir do final de 2015, cigarros e produtos à base de maconha (como loções para a pele) em locais no qual o comércio é permitido.


Endereço da página:

Links no texto: