Folha de S. Paulo


Viagem de jovens é 'festival de selfies'

A viagem de Jacquie Whitt às ilhas Galápagos com um grupo de adolescentes foi memorável não só pelas paisagens, fauna e flora, mas também pela maneira pela qual os adolescentes preservaram suas recordações. A viagem foi "um festival de selfies", de acordo com Jacquie.

Para a nova geração, "aparelhos digitais são agora parte da experiência interpretativa", afirma Jacquie, uma das fundadoras da agência Adios Adventure Travel.

De fato, muitos pais adoram ver seus filhos tirando e postando selfies nas mídias sociais quando viajam. Mostra que "eles estão empolgados quanto ao destino de sua viagem e aquilo que estão fazendo", diz Susan Austin, fotógrafa e mãe, do Iowa. "Para algumas pessoas, pode parecer que os selfies são uma forma de contar vantagem, mas acho que são uma maneira de os jovens de hoje se conectarem com um grupo e se sentirem parte dele."

Mas alguns adultos acreditam que os selfies de férias tenham um lado negativo.

Eles os veem como distrações narcisistas que podem influenciar adversamente a experiência de uma viagem. E apontam para exemplos controversos –um selfie sorridente que uma jovem postou no Twitter depois uma de visita a Auschwitz– como prova do potencial de mau juízo dos jovens no uso da mídia social.

Além disso, ao viajar, os jovens dedicam seu tempo a selfies. "E se ocupam tanto de documentar a viagem que duvido que a aproveitem de verdade", diz Peg Streep, que escreve sobre psicologia e a geração milênio. "O que devia ser uma experiência de aprendizado se torna uma experiência de 'olhem para mim'. É um momento narcisista cujo objetivo é obter likes."

Peg apontou para um estudo conduzido por Linda Henkel, da Universidade Fairfield, no Connecticut, que constatou que visitantes a museus lembram mais do que viram se não tirarem fotos dos objetos que estão contemplando. Isso sugere que tirar fotos, de qualquer tipo, pode "remover a pessoa do momento da experiência e desviar sua atenção".

Outras preocupações são práticas. Um selfie em tempo real tirado em um lugar distante revela ao mundo que você não está em casa.

Breanna Mitchell, a jovem responsável pelo selfie tirado em Auschwitz, recebeu ameaças de morte e mensagens a instando a se suicidar depois que a imagem ganhou circulação viral.

Em uma entrevista em vídeo, ela diz que a foto foi mal interpretada. Ela estudou a história da Segunda Guerra Mundial com seu pai e eles planejavam visitar os locais históricos juntos, mas ele morreu antes que pudessem realizar a jornada.

O selfie no local do antigo campo de concentração era sua maneira de dizer "Enfim, consegui fazer a viagem. Estou no lugar que eu e meu pai sempre dissemos que visitaríamos". Vendo o selfie agora, afirma ter "errado feio".

Ainda assim, a maior parte dos selfies de viagem são inocentes e puramente comemorativos –além de serem uma forma de os adolescentes manterem contato com os amigos. Taylor Garcia, 17, que viajou com a família do Oklahoma ao Texas, diz que selfies são boa maneira de recordar lugares como a Disney, o SeaWorld ou o Caribe, mas que ela também os tira porque quer "mostrar aos amigos o que estou fazendo".

Abigail, 18, filha de Susan, postou selfies de uma viagem a Portugal e não vê razão para publicar fotos que não mostrem rostos conhecidos. "Quero que as imagens digam 'Ei, estou me divertindo! E gosto de ver fotos parecidas tiradas por outras pessoas'."

DESLIGUE O CELULAR

Mas pelo menos uma agência de viagens, a Tauck, tem normas escritas que desencorajam o uso de aparelhos digitais. O programa Bridges, da Tauck, que se especializa em viagens para famílias, pede que os participantes "desliguem seus smartphones, tablets e outros aparelhos eletrônicos portáteis durante as atividades de grupo".

Tom Armstrong, porta-voz da Tauck, diz que a companhia compreende que aparelhos digitais podem ajudam os jovens a passar o tempo em longos percursos de carro e voos, "e isso não nos incomoda". Mas, "quando o diretor da excursão está falando, ou em visitas a museus, acreditamos que os participantes mais jovens extrairão muito mais da viagem se buscarem experiência direta, sem distração".

O resumo, diz Jacquie, é que "como todas as novas tecnologias emergentes, os aparelhos podem ser bons e um entretenimento saudável para todas as idades, mas também podem ser mal usados".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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