Folha de S. Paulo


Engenheiro larga emprego e, com mulher, viaja 50 países em três anos

O engenheiro florestal curitibano Guilherme Canever, 36, e a mulher, Bianca Soprana, 33, percorreram cerca de 50 países em quase três anos de viagem.

Em outubro, deve ser lançado livro sobre as experiências do casal pela rota da seda. O roteiro que fizeram pela África foi tema do livro "De Cape Town a Muscat: uma Aventura pela África" (ed. Pulp).

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Esta foi minha primeira viagem longa. Começou em abril de 2009 e terminou só em novembro de 2011. Até então, tinha viajado em férias por, no máximo, um mês.

Fui determinado a ficar um ano, mas, ao final, foram quase três na estrada, passando por África oriental, Ásia, Oriente Médio e Europa.

A ideia surgiu quando fui ao Nepal, ao Tibete e à Índia, em 2005. Voltei decidido. No caminho, encontrei pessoas que estavam há anos na estrada e gastavam pouco. Pensei "preciso fazer isso".

Comentei com a Bianca, minha mulher, sobre a ideia, mas ela não levou muito a sério e prorrogamos a partida.

Eu tinha um bom emprego como engenheiro florestal. Não é fácil largar tudo, mas você tem que se desligar completamente para começar uma nova vida na estrada.

No início de 2009, aproveitei que a empresa para a qual trabalhava tinha sido vendida e me demiti.

A Bianca demorou mais para conseguir encerrar as atividades dela como psicóloga aqui no Brasil, então combinamos que nos encontraríamos dois meses e meio depois, na Tanzânia.

Toda a viagem foi paga com nossas economias. Foi barata, por ser um roteiro basicamente terrestre. Sou um entusiasta do transporte público. Muitas pessoas dizem "você vai perder tempo". Mas só sente isso quem tem pressa de chegar. Quando o tempo é usado para conversar com outras pessoas, a gente só ganha com a experiência.

Nunca escrevemos um roteiro detalhado do que faríamos a cada dia de viagem. Só tínhamos anotadas informações gerais sobre os lugares que gostaríamos de visitar.

Nossas mochilas eram pequenas, com roupas para uma semana. Levamos uma vida de poucos gastos, comendo em restaurantes populares e dormindo em hotéis simples. Para nós dois, o gasto médio por dia foi de US$ 50 -menos do que precisaríamos aqui no Brasil.

Editoria de Arte/Editoria de Arte/Folhapress
Mapa do roteiro das viagens
Mapa do roteiro das viagens

No fim de 2010, a Bianca cansou. Pudera, já estávamos viajando há quase dois anos.

Voltamos ao Brasil para descansar por três meses e depois saímos para percorrer a rota da seda -rota comercial milenar entre Ásia central, Oriente Médio e Europa.

Passamos por todos os "istãos": Turcomenistão, Uzbequistão, Quirguistão, Paquistão Nesses países, a comunicação foi difícil. Quase ninguém falava inglês.

Ficamos especialistas em mímicas. Em restaurantes, íamos à cozinha olhar as panelas e apontar o que queríamos.

Por incrível que pareça, não tivemos nenhum problema sério pelo caminho. Nada de que hoje a gente não consiga achar graça, como um dia, no Turcomenistão, em que colocamos nossas mochilas num táxi e o motorista arrancou levando tudo.

Por uns dez minutos, ficamos desesperados, mas o sujeito voltou. Acho que revistou a bagagem e percebeu que não havia dinheiro. Ou talvez tenha se arrependido.

Não entendemos até hoje por que voltou. Pegamos as coisas e saímos. O jeito é levar os percalços na esportiva.

Uma viagem como essa provoca mudanças profundas. Nossa opinião sobre a vida se altera completamente.

Ao retornamos à "vida normal", em Curitiba, não quisemos voltar ao mundo corporativo, ainda que boas ofertas tenham surgido.

Hoje trabalhamos como autônomos dentro das nossas áreas e também em projetos relacionados a viagem, como em consultorias.

Nos nossos blogs (saiporai.com, de Canever, e tambemsai.wordpress.com, de Soprana) é possível ler mais relatos das nossas aventuras.


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