Folha de S. Paulo


Garçonetes são 'submissas' em cafés de Tóquio

"Bem-­vindo de volta, meu mestre", me diz a garçonete, uma japonesa com lentes de contato azuis vestida como uma empregada doméstica vitoriana, assim que entro em um dos "maid cafés" de Tóquio, estabelecimentos cuja ideia é demonstrar extrema subserviência ao cliente.

Logo na entrada (pela qual pago 600 ienes, cerca de R$ 13), sou convidado a tirar a sorte em um joguinho e ganho uma folha na qual estão impressas fotos das funcionárias, todas na casa dos 20 anos, magras e maquiadas.

Não posso fotografar. "Fotos são mercadoria", diz minha atendente.

As sempre sorridentes garçonetes são o que alguém poderia definir como o estereótipo fetichista de uma serviçal. Alguns japoneses dizem que isso tudo é pensado para os solitários e tímidos "otakus", seguidores fiéis de desenhos animados e histórias em quadrinhos.

A cafeteria que experimento é a Cafe at Home, que ocupa quatro andares de um prédio a 200 metros da estação de Akihabara, bairro da capital japonesa conhecido por suas lojas de eletrônicos.

No cardápio, que vejo depois de ter sido alocado em uma cadeira voltada para um micropalco, há opções da experiência completa (R$ 60 por comida, bebida, joguinho, foto tipo Polaroid ao lado de uma garçonete e suvenir) e outras, mais modestas.

Escolho comprar os itens avulsos. Enquanto minha omelete (R$ 22) é preparada, falo com o "mestre" (em japonês, "goshujin-sama") ao meu lado, também sozinho.

Ao som de pop japonês, ele diz que, apesar de ser caro em relação a cafeterias convencionais, o "maid café" faz valer a pena por ser mais divertido --é a 907ª vez que ele vem em dois anos, como ostenta seu cadastro, impresso na comanda de consumação.

De maneira natural, ele pausa nossa conversa por um instante para batalhar em um brinquedo de dinossauros de plástico contra "sua" garçonete, que aplaude, empolgada, a vitória do amo.

Em seguida, esta volta-se para mim e, orgulhosa, aponta para a televisão, que exibe um DVD em que ela mesma aparece cantando e dançando ao lado de suas colegas.

Munida de um tubo de ketchup e da minha omelete, "minha" garçonete retorna e pergunta que desenho eu quero que ela faça no prato. Ela desenha um gatinho. "Gosto do meu emprego. É divertido e posso conhecer gente da Tailândia, dos EUA e, veja, do Brasil", diz.

"A melhor parte de um 'maid café', óbvio, são as garçonetes", diz o cliente assíduo, que frequenta esse e outro estabelecimento do tipo. "Uma vantagem de voltar sempre ao mesmo é que todas elas já te conhecem."

Outra é pagar menos pela entrada, cujo preço diminui progressivamente, conforme a conquista de um novo "nível" --o que acontece pela primeira vez assim que o freguês registra 200 visitas.

Para deixar de pagar a taxa de ingresso, é necessário voltar ao local 5.000 vezes. Pergunto, incrédulo, se já existe algum cliente com tal graduação: há 14 deles.


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