Folha de S. Paulo


No Japão, chegada da primavera é festejada com piqueniques

"Nenhum país do mundo celebra a chegada da primavera como o Japão", diz o canadense Will Ferguson, que atravessou o país todo para acompanhar o florescer das cerejeiras e narrou a experiência no livro "De carona com Buda: o Japão de cabo a cabo".

O escritor está coberto de razão. É no início da estação, entre a última semana de março e a primeira de abril, que uma explosão de cores domina as copas das árvores do país. "As flores começam a irromper no extremo sul e sobem progressivamente todo o território", conforme as temperaturas se elevam, conta Ferguson.

O fenômeno, chamado "Sakura Zensen" (frente de flores de cerejeira, na tradução literal), coincide com o fim do ano fiscal das empresas e com as férias escolares e faz a nação oscilar de um período de trabalho intenso para um momento de festas e diversão.

"Multidões se congregam sob as flores, o saquê corre solto, gravatas são afrouxadas e haikus singelos e espontâneos são compostos e recitados."

As comemorações costumam ocorrer nos pés das árvores de parques, jardins e, até mesmo, cemitérios. São os "hanami" --piqueniques que reúnem familiares, amigos e colegas de trabalho para contemplarem a floração.

Nas empresas, os chefes enviam os novatos para passarem a tarde sob o sol, guardando um lugar no parque para a realização da festa no fim do dia.

Há alguns locais onde os piqueniques são proibidos e cartazes estão afixados nas árvores avisando. Na maioria, porém, o chão é tomado por tapetes azuis, levados pelos japoneses para se sentarem durante o "hanami".

Em alguns trechos de parques, o solo lembra as areias da praias do Rio de Janeiro tomadas por cangas durante o verão --não resta uma fresta nem para caminhar. Músicos, mímicos e palhaços divertem a população.

Em Kyoto, os turistas percorrem o Caminho do Filósofo, um canal sinuoso margeado por cerejeiras, cafés, restaurantes e lojas de artesanato. Ali, as flores parecem algodão.

Pouco mais de uma semana após o início dessa explosão, no entanto, as pétalas já começam a dar espaço a folhas verdes. As flores chovem sobre gramados e ruas e se despedem rapidamente. Assim como chegaram, de modo repentino, vão embora.

Pétalas caem como confete, e crianças brincam com elas assim como nós fazemos no Carnaval. Pequenos japoneses, com olhos puxados e bochechas avermelhadas, juntam as pétalas e as jogam para o ar.

Chão e riachos ficam rosados. É o fim da passagem da Sakura Zensen. A beleza das cerejeiras é efêmera, e os japoneses dizem que serve para lembrar que as coisas bonitas e alegres não duram muito.

As árvores que proporcionam todo o espetáculo, no entanto, não são naturais. Elas são o resultado de cruzamentos entre diferentes variedades feitos para produzir um número altíssimo de flores. Por isso, em nenhum outro lugar do mundo, será possível observar uma floração como a japonesa, criada para ser a mais bonita celebração da primavera.


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