Folha de S. Paulo


Alvo de críticas por políticos, eleição da CBF acontece meses antes da Copa de 2014

A eleição que define o próximo presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) acontecerá em abril de 2014, na Assembléia Geral Eleitoral que reunirá representantes das 27 federações brasileiras e dos 20 clubes participantes da Série A do ano que vem. Originalmente, ela seria realizada em outubro do ano que vem, mas foi antecipada na mais recente mudança do estatuto da organização, realizada em fevereiro de 2012, dias antes da renúncia do então presidente Ricardo Teixeira.

Os candidatos ainda não estão definidos, mas Marco Polo Del Nero, presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol) e vice-presidente da CBF, e Andres Sanches, ex-presidente do Corinthians e antigo diretor de seleções da confederação, são cotados para ocupar o cargo. Rubens Lopes da Costa Filho, presidente da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, diz que não descarta a possibilidade de concorrer.

Para lançar uma chapa, o candidato precisa do apoio de oito federações estaduais e de cinco clubes que participarão da eleição, o que pode inviabilizar algumas candidaturas. Nenhuma federação apoia abertamente a oposição.

Clubes e Federações

De acordo com o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), presidente da CPI do Futebol em 2000, o estatuto da CBF precisa ser revisto e redigido para que os clubes sejam valorizados e tenham maior poder de voto. "Eles constituem o maior patrimônio do futebol brasileiro. No entanto, são desvalorizados em razão dos interesses daqueles que continuam no poder ", afirma Dias.

O ex-jogador de futebol e agora deputado federal Romário (PSB-RJ), critica o atual sistema eleitoral da confederação. Para ele, o sistema é um reflexo da dependência dos clubes em relação à entidade máxima do futebol brasileiro. "Isso ocorre porque a maioria dos clubes dependem financeiramente dela. Ou seja, enquanto houver o poder financeiro, os clubes não terão autonomia e nem voz na escolha do presidente". diz.

Por outro lado, o presidente da federação de Roraima, José Gama Xaud, que participou da votação do novo estatuto, afirma que, se o poder de voto fosse restrito aos clubes, apenas três Estados elegeriam o presidente de uma instituição com abrangência nacional.

"Os times ranqueados [na Série A] para votar são, majoritariamente, de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Como ficariam os clubes das outras regiões do país?"

Para Dias, o poder executivo deveria ter aproveitado a renúncia de Ricardo Teixeira, em março de 2012, para realizar uma intervenção no sistema eleitoral da CBF. O senador lembra que as denúncias que fizeram o então presidente abdicar do cargo eram gravíssimas e diz que, como o governo está financiando a competição com dinheiro público, deveria exigir uma gestão correta, ética e transparente da entidade.

Procurada pela reportagem, a CBF não quis comentar.

Na Europa

Na liga de futebol mais lucrativa do mundo, os clubes têm uma independência maior. A Premier League, da Inglaterra, conta com uma organização independente da FA (Football Association), a federação nacional de futebol. Assim, os 20 clubes que participam do campeonato são seus proprietários, sócios igualitários que escolhem o seu presidente, seu chefe-executivo e toda a sua diretoria. A FA, por sua vez, tem poder de veto sobre as escolhas.

Metade dos direitos de transmissão da televisão nacional é dividida igualmente entre os clubes, um quarto é repartido proporcionalmente à colocação no campeonato --o campeão recebe 20 vezes mais que o último colocado-- e o resto em relação ao número de partidas de cada time que foram televisionadas --o que favorece os maiores e mais populares. O dinheiro vindo de emissoras internacionais é separado em quantias iguais.

A Bundesliga, como é chamado o campeonato alemão, conta atualmente com a maior média de público do mundo. Assim como na Inglaterra, ela também conta com uma organização independente da federação nacional e escolhida pelos 36 clubes que participam das primeira e segunda divisões.

A Espanha é o que tem o modelo mais parecido com o brasileiro. O campeonato espanhol é organizado diretamente pela federação espanhola, que engloba, por sua vez, 19 associações regionais ou territoriais. No entanto, as eleições para a presidência são mais amplas, com um total de 179 votantes entre associações, clubes, jogadores e treinadores (destes três, tanto profissionais como amadores), árbitros e representantes do futsal.

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Este texto faz parte do especial "Brasil - Terra do Futebol", projeto final da 55ª turma do Programa de Treinamento em Jornalismo Diário da Folha, que tem patrocínio da Odebrecht, da Philip Morris e da Ambev


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