Folha de S. Paulo


Gosto da maneira como Júlio César se posiciona, opina Zetti

Com 25 anos, sem espaço no Palmeiras, Zetti comprou seu próprio passe e o alugou ao São Paulo. Meses após sua chegada no time, Telê Santana (1931-2006) foi contratado como técnico, e Zetti assumiu a titularidade. Logo se tornou ídolo em um time que tradicionalmente tem bons goleiros, defendendo um pênalti na final da Libertadores de 1991 e ajudando o São Paulo a se sagrar campeão. Foi convocado para a Copa de 1994, como reserva de Taffarel.

Momento inesquecível. Foi a final mesmo, contra a Itália. O Taffarel defendeu o pênalti, e eu saí correndo para abraçá-lo. Fui um dos primeiros a chegar, junto com o Gilmar [Rinaldi, o outro goleiro reserva], que a gente sabe a dificuldade que é para o goleiro naquele momento. Acho que ali foi a grande sensação: estar dentro de campo, ver uma final de Copa do Mundo, muito próximo e estar torcendo, vibrando. Eu e o Gilmar aconselhávamos sempre o Taffarel: uma palavra de apoio, os treinamentos, a dedicação. Eu acho que essa cumplicidade, de estar junto, ali, ajuda a ter tranquilidade para representar bem como ele fez.

Momento para esquecer. O lance que eu vi, que eu não queria que acontecesse, foi o lance do Leonardo, da cotovelada [nas oitavas de final, o lateral esquerdo Leonardo, hoje dirigente da equipe francesa PSG, atingiu com o cotovelo Tab Ramos, da seleção dos Estados Unidos. Por isso, foi suspenso pelo restante da Copa]. Aquele era um momento que eu não queria ver. Pelo Leonardo, pela pessoa que ele é, pelo carinho que todo mundo tem por ele e pela maneira que ele acabou saindo do time naquela momento. Foi triste para a gente.

Concentração. O Mauro Silva que era o meu parceiro mesmo de quarto. A gente virou assim irmão durante esse período longo que nós ficamos juntos. Foi muito bacana. O Taffarel também. Acho que todos! Desde Raí, o próprio Romário, que a gente vê muito pouco, mas tem bom relacionamento... O próprio Gilmar... Eu acho que a Copa de 94 trouxe um círculo de amizades muito bom para todos que estiveram presentes.

Quem pode ser o Zetti de 2014? Seria o Júlio César [hoje jogador do Queens Park Rangers, na Inglaterra], o goleiro. Eu gosto da maneira de ele se posicionar. O Diego Alves [hoje na equipe do Valência, na Espanha] também. Mas não parecido, acho que não dá para comparar, são épocas diferentes.

O que faz hoje? Encerrei a carreira em 2001, estudei, me preparei, passei oito anos como técnico. E me decepcionei também. Eu tive uma participação muito boa [como treinador], fui para três finais de campeonato estadual, subi o Fortaleza [Esporte Clube para a série A]. Mas enquanto não mudarem algumas regras antigas que existem na lei, eu não tenho vontade nenhuma de voltar a ser treinador. Treinador brasileiro não tem contrato com o clube para se programar, ficar um ano, uma temporada... Tem treinador que trabalha em cinco clubes diferentes por ano. Tem clubes que trocam muito de técnico também, não pagam os treinadores, não pagam os jogadores... Acho que é preciso dar estabilidade aos treinadores. Hoje, tenho uma academia de goleiros, chamada "Fechando o Gol", com 300 atletas; também sou comentarista e trabalho em rádio. E estou feliz, vivendo sem aquela pressão toda de ser treinador no Brasil, onde, por mais que você ganhe, você nunca convence ninguém.


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