Folha de S. Paulo


Colunistas escalam a seleção brasileira de todos os tempos

Com a proximidade da Copa do Mundo no Brasil em 2014, conversamos com colunistas do caderno Esporte da Folha para sabermos qual seria a sua seleção brasileira dos sonhos. Ouvimos os jornalistas Juca Kfouri e Paulo Vinícius Coelho (PVC), o cronista Xico Sá e o ex-jogador de futebol Tostão (campeão em 1970).
O critério é simples: cada um deveria escalar os seus 11 titulares entre os jogadores que foram campeões pelo Brasil em uma ou mais Copas do Mundo. Aproveitamos e perguntamos qual seria o esquema tático ideal preferido para seus times.
Além disso, também pedimos que escolhessem o 12º jogador (também campeão do mundo) daquele time e a ausência mais sentida, ou seja, aquele boleiro que nunca esteve presente em nenhum dos cinco títulos do Brasil, mas que poderia estar entre os 11 selecionáveis.

O 4-4-3, 4-2-4 e o sistema "anárquico"

Tradicionalmente discutido no mundo do futebol, o esquema tático serve para ilustrar como determinado time irá se posicionar em campo. Por isso, quando lemos que a seleção nacional, por exemplo, irá atuar no próximo jogo no 4-4-2, estamos sendo informados de que o time entrará em campo com 4 zagueiros, 4 meio campistas e 2 atacantes. O posicionamento do time em campo pode dizer muito sobre as suas características (ofensivas e defensivas), suas preferências estratégicas (contra-ataque ou de posse de bola), além da variedade tática.
Atualmente muito popular entre as seleções, como Espanha, Brasil e Itália, o esquema 4-3-3 foi o preferido por Juca e Tostão. O ex-jogador justifica: "foi o esquema utilizado pela seleção brasileira na Copa de 1970. E aquele time foi, para a época, revolucionário, pois todos os jogadores voltavam para marcar, o que não acontecia até então".
Xico Sá lembra também o plano de jogo da seleção tri campeã, dizendo que "as variações eram infinitas". Contudo, o cronista acredita ser desnecessário escolher um esquema para sua seleção. "O mais importante é ver os jogadores mandando mais que o técnico, como na equipe de 70. De um jeito anárquico, imprevisível. Basta isso", disse. Kfouri também destaca o peso maior do jogador ao declarar que "não se monta um esquema tático e se escolhe os jogadores para servi-lo, mas, ao contrário, escalam-se os melhores e se adapta o esquema a eles".
Para PVC, o esquema de jogo ideal para sua seleção seria o 4-2-4, usado nos dois primeiros títulos mundiais do Brasil (1958 e 62). O jornalista disse que "é o esquema que privilegia os melhores talentos que o Brasil já teve, em especial os atacantes".

O Camisa 1
Considerado o melhor goleiro brasileiro de todos os tempos, Gilmar dos Santos Neves foi absoluto na pesquisa. Todos os colunistas apontaram o ex-jogador do Santos como o goleiro da sua seleção brasileira de todos os tempos. Campeão mundial em 1958 e 62, Neves atuou 94 vezes com a camisa verde e amarela e se aposentou em 1969.

Aquele que beijou a taça
O ex-lateral direito Carlos Alberto Torres, capitão do tricampeonato em 1970, recebeu os votos de PVC, Xico Sá e Tostão. Juca votou em Djalma Santos, bicampeão com o Brasil em 1958 e 62. Lembrado pelo quarto e último gol marcado contra a Itália na final de 1970, Torres, que atuou a maior parte da sua carreira pelo Santos, foi o primeiro capitão a beijar a taça da Copa do Mundo antes de erguê-la. Um gesto marcante e repetido até hoje.

O miolo da zaga
Hoje formada por Thiago Silva e David Luiz, quatro nomes foram citados pelos colunistas para compor a sua zaga: Aldair (1994), Márcio Santos (1994), Mauro (1958 e 62) e Orlando (1962). Contudo, Aldair foi quem recebeu o maior número de votos, com três (Juca, PVC e Tostão), seguido por Márcio Santos (Juca e Xico Sá) e Mauro (PVC e Xico Sá), ambos com dois votos e Orlando, que recebeu o voto de Tostão. Campeão nos EUA em 1994, Aldair jogou por 13 anos pela Roma-ITA e teve a camisa que usava, a seis, aposentada pelo clube da capital italiana.

A eterna enciclopédia
Unanimidade entre os ouvidos, Nilton Santos (1958 e 1962) foi o escolhido para a lateral esquerda. Considerado por muitos o melhor defensor esquerdo da história do futebol, o ex-jogador do Botafogo foi apelidado de "A Enciclopédia", tamanho o seu conhecimento sobre o esporte e por ser considerado um jogador completo.

O motor do time
Responsável pelo ritmo da seleção ao longo dos 90 minutos, o meio-campo é fundamental para o jogo ofensivo e defensivo de qualquer time. Para PVC, o Brasil ideal seria escalado com dois homens na meia cancha: Didi (58 e 62), apelidado de "Príncipe Etíope" por Nelson Rodrigues, e Gérson (70) -famoso por seus lançamentos precisos de mais de 40 metros.
Já Juca, Tostão e Sá preferiram formar um meio-campo com três jogadores. Em comum, todos escolheram Didi, ídolo do Botafogo, e Zito (58 e 62), renomado ex-volante reconhecido pelos seus companheiros da época por sua liderança dentro do campo. Fechando o meio-campo, Juca e Xico Sá escalaram Rivelino (70), inventor do drible "elástico" e ídolo do Corinthians e Fluminense. O colunista Tostão preferiu, assim como PVC, o meia Gérson, apelidado de "o canhotinha de ouro".

Para balançar as redes
Talvez o setor mais difícil de ser escalado, tamanha a quantidade de craques, o ataque da seleção brasileira ideal tem duas vagas cativas: Pelé (58, 62 e 70) e Garrincha (58 e 62). O primeiro é considerado o melhor jogador de futebol de todos os tempos, tem o apelido de "Rei" e é o único jogador do mundo três vezes campeão mundial. Garrincha é chamado do "Anjo das Pernas Tortas". Idolatrado por gerações, o ex-botafoguense é um dos jogadores mais celebrados que o Brasil já teve. Morto em 1983, em seu epitáfio está escrito "Aqui jaz em paz aquele que foi a Alegria do Povo".
Para fechar o ataque, Juca escalou o próprio Tostão (70), que fez carreira no Cruzeiro e abandonou o futebol precocemente devido um descolamento da retina, aos 26 anos. O ex-atacante, e atual deputado federal, Romário (94) foi lembrado na escalação de Tostão, PVC e Xico Sá. O "baixinho" foi o principal jogador do Brasil na Copa dos EUA. Foi escolhido o melhor jogador da competição pela Fifa e ainda anotou cinco gols. PVC, que escalou quatro atacantes, ainda convocou Ronaldo (94 e 02) para fechar seu escrete. Lembrado pela carreira de superação, Ronaldo marcou oito gols no mundial de 2002. Foi apelidado de "Fenômeno", e venceu três vezes o troféu de melhor jogador do mundo da Fifa.

O 12º jogador
Popularmente chamado de "o primeiro reserva" de um time, dois nomes foram citados entre os entrevistados. PVC e Xico Sá escolheriam o atual colunista da Folha, Tostão. Enquanto o próprio Tostão e Juca responderam Ronaldo para ser a primeira opção de mudança de suas seleções.

A ausência mais sentida
"Leônidas foi o primeiro grande ídolo do futebol nacional e levou a seleção até sua primeira semifinal de Copa da história, em 1938", diz PVC, que escolheu Leônidas da Silva. Apelidado de "Diamante Negro", o carioca jogou pelo Brasil nos mundiais de 1934 e 38, sendo artilheiro do último com sete gols.
Zico, ídolo do Flamengo e da seleção, é o preferido de Tostão. Um dos destaques da seleção canarinho da Copa de 1982, Zico "foi um dos melhores jogadores do Brasil e do mundo", segundo o colunista. O "Galinho", como era chamado, ainda disputou as Copas de 1978 e 86, encerrando sua carreira em 1994, pelo Kashima Antlers, do Japão.
Para Xico Sá, Sócrates é o atleta que mais faz falta na sua seleção. "Sócrates foi o jogador mais inteligente que vi jogar", disse. Ídolo corintiano, morto em 2011, Sócrates foi protagonista do movimento "Democracia Corintiana", na década de 80, na qual as decisões importantes, como contratações, regras da concentração, entre outras, eram decididas pelo voto.
Falcão, que disputou as Copas de 1982 e 86, é a ausência mais sentida por Juca Kfouri. "Falcão foi o mais completo jogador que vi jogar quando começou como volante do Internacional e seria nesta posição, no lugar do grande Zito, que eu o escalaria. Ele está na minha seleção mundial de todos os tempos", disse.

Confira a Seleção de cada Colunista

Entre parênteses, a(s) Copa(s) vencida(s) por cada jogador e técnico.

Juca Kfouri: Gilmar (58 e 62); Djalma Santos (58 e 62), Aldair (94), Márcio Santos (94) e Nilton Santos (58 e 62); Zito (58 e 62), Didi (58 e 62) e Rivelino (70); Pelé (58. 62 e 70), Garrincha (58 e 62) e Tostão (70).

Técnico: Aymoré Moreira (62)

PVC: Gilmar (58 e 62); Carlos Alberto Torres (70), Mauro (58 e 62), Aldair (94), Nilton Santos (58 e 62); Didi (58 e 62), Gérson (70); Pelé (58,62 e 70), Garrincha (58 e 62), Romário (94) e Ronaldo (94 e 2002).

Técnico: Zagallo (70)

Tostão: Gilmar (58 e 62); Carlos Alberto Torres (70), Aldair (94), Orlando (58), Nilton Santos (58 e 62); Zito (58 e 62), Didi (58 e 62), Gérson (70); Pelé (58,62 e 70), Garrincha (58 e 62), Romário (94)

Técnico: Zagallo (70)

Xico Sá: Gilmar (58 e 62); Carlos Alberto Torres (70), Mauro (58 e 62), Márcio Santos (94), Nilton Santos (58 e 62); Zito (58 e 62), Didi (58 e 62), Rivelino; Pelé (58,62 e 70), Garrincha (58 e 62), Romário (94)

Técnico: Zagallo (70)

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Este texto faz parte do especial "Brasil - Terra do Futebol", projeto final da 55ª turma do Programa de Treinamento em Jornalismo Diário da Folha, que tem patrocínio da Odebrecht, da Philip Morris e da Ambev


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