Folha de S. Paulo


Região Sudeste tem metade do faturamento total das federações

A região Sudeste concentra metade do faturamento total das federações de futebol no Brasil. O Nordeste vem em segundo lugar, com pouco menos de um quarto. Os dados foram obtidos nos balanços de 2012 divulgados no site da CBF e pelas próprias organizações estaduais. Solicitada, a Federação Matogrossense de Futebol não quis disponibilizar o documento.

As instituições dos quatro Estados da região Sudeste --São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo-- somaram mais de R$ 53 milhões em receitas, do total de cerca de R$ 107,5 milhões do ano passado. O Nordeste acumulou R$ 23 milhões, seguido de Sul (R$ 13 milhões), Norte (R$ 11 milhões) e Centro-Oeste (R$ 7 milhões).

As entidades que mais faturaram no país --São Paulo (R$ 30.855.000,00), Rio de Janeiro (R$ 12.480.337,00), Minas Gerais (R$ 7.013.937,00) e Rio Grande do Sul (R$ 5.045.894,00)-- apresentam, em suas receitas, participações maiores das taxas sobre os direitos de transmissão dos campeonatos estaduais, que são negociados entre os clubes e a Rede Globo.

As federações cujos campeonatos estaduais não são televisionados dependem majoritariamente do repasse da CBF --em média, R$ 800 mil-- para o pagamento de despesas, como deslocamento, arbitragem e exames anti-doping.

Adriano Gomes, economista e professor de finanças da ESPM, explica que as receitas das federações são, basicamente, a soma das taxas sobre bilheteria, transferência de jogadores, filiação dos clubes e direitos de TV. Ele lembra, porém, que os balanços são pouco detalhados e transparentes. "As federações não oferecem acesso às documentações que comprovam qual a origem de seu patrimônio", declara.

Para o economista Fernando Ferreira, diretor da Pluri Consultoria, empresa especializada em gestão e marketing esportivo, seria obrigação da CBF exigir a publicação de todos os balanços auditados em seu site. "A administração da CBF deveria agir de forma regulatória, prezando pela boa governança de seus filiados", diz. Até o fechamento da reportagem, cinco deles não estavam disponíveis.

Para que haja uma maior transparência nas federações, Gomes diz que uma solução seria a criação de uma agência reguladora responsável pela fiscalização delas. "Ela teria autonomia, mas principalmente poder para multar organizações esportivas e punir presidentes devido a más práticas financeiras. O resultado seria a moralização do futebol."

Ferreira, por outro lado, diz que a eficiêcia de uma agência reguladora seria comprometida pela sua falta de independência política. Assim, ele sugere a criação de um instituto privado administrado por empresas que investem no futebol brasileiro. Este obrigaria as federações a adotarem práticas mais transparentes, ao estabelecer metas e atribuir selos de qualidade para incentivar novos patrocinadores.

Procurado pela Folha, o departamento de comunição da CBF não atendeu às ligações da reportagem.

Editoria de Arte/Folhapress

RIO GRANDE DO NORTE

Apesar de o Nordeste apresentar o segundo maior faturamento regional (R$ 23 milhões), três federações, dentre nove, acumulam mais de 60% dessa renda --Rio Grande do Norte, Bahia e Pernambuco.

A do Rio Grande do Norte, que não possui nenhum representante disputando a Série A do Brasileiro, encerrou o ano passado com uma receita de quase R$ 5 milhões, a quinta maior do país.

Inicialmente, José Vanildo da Silva, presidente da federação, disse desconhecer como o cálculo é feito, justificando que "é advogado, e não contador". Após consultar especialista, esclareceu que a receita declarada vem do repasse da CBF e de taxas sobre as bilheterias --5% no Campeonato Brasileiro e 6% no Potiguar--, arrecadadas em todas as partidas do Estado.

Ele não sabe explicar como apresenta faturamento próximo ao da Federação do Rio Grande do Sul (R$ 5.045.894,35) --menos de R$ 100 mil de diferença.

Luiz Gonzaga Belluzzo, economista e ex-presidente do Palmeiras, lembra que as federações, assim como os clubes, são instituições privadas e que não é verdade que sejam entidades ricas.

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Este texto faz parte do especial "Brasil - Terra do Futebol", projeto final da 55ª turma do Programa de Treinamento em Jornalismo Diário da Folha, que tem patrocínio da Ambev, da Odebrecht e da Philip Morris


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