Folha de S. Paulo


Entrada de crianças estrangeiras com visto para treinar futebol no país é investigada

Pelo menos 250 crianças entraram no Brasil com visto para treinar futebol em São Paulo entre 2010 e 2013. O levantamento foi feito pelo Itamaraty e divulgado pela Coordenadoria Nacional de Combate à Exploração do Trabalho de Crianças e Adolescentes, que investiga o tráfico internacional de menores para exploração do trabalho infantil. A coordenadoria é ligada ao Ministério Público do Trabalho.

Os times são investigados em sigilo. As crianças vêm de diversos países, como Japão, Coreia do Sul, China, Austrália, Rússia, Estados Unidos e Paraguai.

A suspeita surgiu após a descoberta de um grupo que trouxe 12 coreanos para viver em condições precárias em um alojamento no Paraná. Desde então, o órgão monitora a entrada dos jovens e seus destinos.

O Ministério Público do Trabalho em Curitiba ainda procura a empresa que participou do esquema que trouxe os asiáticos com a promessa de transformá-los em ídolos do futebol. No ano passado, a procuradora Cristiane Lopes descobriu que a empresa DNSA Esporte, com sede em São Paulo, pediu vistos especiais para o intercâmbio de atletas por dois anos.

"[A empresa] distorceu o visto para facilitar entrada dos atletas. A DSNA não era clube, fraudou possibilidade de visto. É uma empresa limitada". Os jovens, entre 14 e 21 anos, foram instalados em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba.

Em uma fiscalização surpresa, Lopes encontrou crianças amontoadas em colchões no chão. Para comer, havia apenas um quilo de arroz. As vítimas contaram que não iam à escola e não aprenderam a falar português. Elas treinavam no local e participavam de partidas com times de várzea.

Os menores vieram com técnicos da Coreia do Sul que mantinham, segundo a investigação, um esquema com a empresa brasileira. Os pais pagavam US$ 800 por mês achando que os filhos participavam de um programa de intercâmbio.

A sede da DNSA Esportes desapareceu desde então.

A entrada de menores para prática desportiva no Brasil é regida pelo Conselho Nacional de Imigração. Estrangeiros entre 14 e 21 anos não profissionais podem ser recebidos por entidades esportivas que tenham funcionamento regular e registro e inscrição no treinamento do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.

O jovem recebe um visto temporário do Ministério das Relações Exteriores após a apresentar a documentação exigida pelos consulados e o contrato entre as empresas estrangeira e brasileira. A última deve assegurar a vaga, despesas de viagem, estada no país, além de assistência médica, odontológica e hospitalar, matrícula em uma instituição de ensino e acompanhamento escolar.

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Este texto faz parte do especial "Brasil - Terra do Futebol", projeto final da 55ª turma do Programa de Treinamento em Jornalismo Diário da Folha, que tem patrocínio da Odebrecht, da Philip Morris e da Ambev


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