Folha de S. Paulo


'Chairman' da Ogilvy afirma que publicidade brasileira está no nivel 'mais alto'

Quando concedeu esta entrevista, Sérgio Amado, 64, havia acabado de voltar de férias.

Pela primeira vez na vida, o "chairman" do Grupo Ogilvy Brasil conseguira deixar sua cadeira desocupada por 15 dias consecutivos para viajar com a mulher pela Europa. Tudo sem atender a um telefonema sequer em seus dois celulares.

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Uma conquista e tanto para o baiano que comanda mais de dez empresas ligadas ao grupo no Brasil e, como ele mesmo diz, "rala" muito.

Neste ano, sua agência foi considerada a terceira mais criativa do mundo e ganhou 16 Leões no festival de Cannes.

"Se hoje eu consigo ficar duas semanas fora é porque tenho plena confiança na equipe."

Em que nível está a publicidade brasileira hoje?
No mais alto. Ela pode ser comparada com os mercados mais desenvolvidos do mundo, não apenas quando falamos em receita, mas também em qualidade criativa. Na [rede global] Ogilvy, o Brasil é o quarto maior mercado, mas devemos assumir a terceira posição em breve. Em termos de premiação, somos os maiores vencedores de uma rede de mais de 400 escritórios. Estou usando um exemplo da casa, mas ele se repete em muitas outras agências.

Christian von Ameln/Folhapress
Sérgio Amado, presidente da Ogilvy, considerada a terceira agência mais criativa do mundo
Sérgio Amado, presidente da Ogilvy, considerada a terceira agência mais criativa do mundo

O que lhe incomoda no mercado?
Acho o nosso mercado bastante maduro, com instituições sérias que cuidam de pontos como regulamentação. Mas sou contra concorrências predatórias. Procuramos não participar. É um tema que o mercado vem discutindo mais frequentemente, o que é muito positivo.

Como esse modelo predatório afeta as agências?
Estamos gastando muito dinheiro com isso, sem falar no desgaste. Em uma concorrência grande, são
R$ 200 mil de investimento. Enquanto isso, a empresa contratante acumula ideias maravilhosas de sete agências participantes. Quem é que não quer? Mas preciso dizer que nem todas são predatórias. Tem gente fazendo concorrência séria.

Produto ruim sobrevive se tiver propaganda boa?
A função da propaganda não é enganar o consumidor, mas informar e vender. E essa colocação de produto ruim é muito subjetiva –o que é ótimo para um pode não agradar outro.

O que faz um bom publicitário?
O melhor publicitário não é publicitário. Quer dizer, ele não tem os vícios da profissão, não busca sempre as mesmas fontes. Não é o cara que ganhou um prêmio e passou a se considerar um herói, que sai desfilando no carro do Corpo de Bombeiros da cidade onde nasceu. Eu não tenho Ferrari, não tenho apartamento em Nova York e não ganho milhões por ano. Ralei.

Ego inflado pode ser positivo?
Ego inflado nunca é bom, é uma merda. O cara olha no espelho e acha que é bonito. Eu me olho diariamente e penso que estou ficando cada vez mais feio. Meu ego só infla quando meus oito netos olham para mim. Agora, é claro, existem egos bem trabalhados. Nizan Guanaes é um belo exemplo disso.


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