Folha de S. Paulo


Depoimento

É assustador ver tudo o que o Google sabe sobre mim

Enquanto trabalhava nas reportagens sobre termos e condições de serviços de internet publicadas Folha neste domingo (24), resolvi pedir ao Google que me enviasse os dados que tem armazenado sobre mim. Qualquer um pode fazer o mesmo em uma ferramenta que a empresa disponibiliza.

No passado, eu já havia feito algo semelhante em outras plataformas, como Facebook e Twitter. O resultado foi impressionante. A diferença para esta vez é que sou usuário do Google há muito mais tempo do que de qualquer uma dessas redes sociais.

Ao fazer a requisição, me perguntaram se eu preferiria dividir os dados em partes de 1, 2, 4, 10 ou 50 gigabytes. Aí já comecei a suspeitar da avalanche que viria.

E ela veio.

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Recebi um mundaréu de arquivos que, juntos, somavam 27,4 GB –equivalente a cerca de 50 mil e-books de "Dom Casmurro".

Aproximadamente 15 GB eram o que eu tinha salvo no Google Drive e meu histórico no Gmail. De resto, informações sobre 28 outros serviços da empresa que usei em algum momento: meu histórico de buscas desde 2009, vídeos que procurei e que assisti no YouTube desde 2010, meus contatos, agenda, fotos...

Analisar toda essa massa de dados foi como dar uma profunda olhada no espelho, e também me levou ao passado. Ao ver que em 2011 procurei um vídeo sobre a peça "Cyrano de Bergerac", por exemplo, me lembrei de estar no meu antigo quarto, preparando uma aula –na época era professor– na qual eu citaria a obra.

Vi também gostos e preocupações que mudaram com o passar do tempo. Encontrei curiosidades esdrúxulas, como quando perguntei ao oráculo "quem é Kim Kardashian" –às 13h37min30s361 do dia 17 de dezembro de 2010. Tudo em um histórico (gigante) de buscas.

O mais divertido foi analisar meu histórico de localização. Tive o trabalho de colocar todos os seus mais de 65 mil pontos em um mapa. Onde eu estava às 13h do dia 19 de setembro do ano passado? A informação consta lá (eu estava na Folha).

Meu histórico de localização tem alguns buracos, no entanto. Passei a usar Android no fim do ano passado, que é quando a informação começa a ficar mais frequente. Mesmo assim, há dados desde 2013, o que me leva me perguntar de onde é que tiraram essa informação. Provavelmente vem de acessos ao site do Google e do uso de alguns serviços, como o Google Maps, nos meus telefones antigos.

Eu já sabia que tudo isso estava lá porque, em algum momento, eu concordei em ceder todos esses dados à empresa. Em troca, ela me entrega serviços que considero essenciais e diz respeitar minha privacidade.

De qualquer forma, é assustador pensar no que podem estar fazendo com essa informação. Algo que mostra muito bem quem eu sou, quem eu fui e até quem eu vou ser. E estamos falando só sobre o Google.


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