Folha de S. Paulo


Com preço de US$ 1.000, novo iPhone cruza barreira do luxo

Tony Cenicola/"The New York Times"
Apple revela novo iPhone nesta terça-feira
Apple revela novo iPhone nesta terça-feira

Quando a Apple revelar seu novo iPhone, nesta terça-feira (12), não estará só oferecendo novas funções como reconhecimento facial a infravermelho e carga sem fio.

A empresa também entrará em um novo patamar de preços: o celular custará, nos EUA, cerca de US$ 1.000 (R$ 3.095), contra os US$ 769 (R$ 2.380) de seu melhor aparelho atual, o iPhone 7 Plus.

"É uma nova fronteira", disse Debby Ruth, vice-presidente sênior da firma de consultoria Frank N. Magid Associates. "Eu realmente acho que vai fazer as pessoas pararem para pensar."

Desde o lançamento do iPhone, há uma década, a Apple sempre posicionou como um produto "premium" –uma opção mais refinada e bem acabada que as legiões de smartphones mais baratos disponíveis no mercado.

Mas desta vez a empresa está entrando no território do luxo. O novo celular custará tanto quanto o mais acessível laptop da companhia, o MacBook Air. "Eles estão apostando em dobro em sua nova estratégia: estão indo muito mais à faixa alta", disse Ruth.

A Apple não quis fazer comentários antes do anúncio do produto, marcado para terça-feira. No sábado, Steven Troughton-Smith, um desenvolvedor que analisou o software iOS 11, encontrou referências indicando que o novo telefone de ponta será chamado iPhone X.

Os investidores apostam que a ascensão da Apple na escala de preços os recompensará com lucros muito maiores, especialmente em mercados maduros como os EUA e a Europa ocidental, onde muitos compradores estarão fazendo um "upgrade" de iPhones mais antigos. A ação da companhia subiu quase 50% no último ano conforme crescia a expectativa em torno dos modelos 2017.

A estratégia da Apple encerra riscos, porém, especialmente nos países em desenvolvimento, onde as vendas de smartphones crescem rapidamente, mas a parcela de mercado da Apple é uma pequena bolha comparada com dispositivos que funcionam com o sistema Android, da Google.

BRASIL

No Brasil, por exemplo, os dispositivos Apple representarão apenas 8% das 125 milhões de assinaturas ativas de smartphones neste ano, segundo a firma de pesquisas Forrester.

Impostos altos, margens de lucros maiores no comércio e custos adicionais de uma tentativa fracassada de fabricar iPhones no Brasil empurraram o preço de um iPhone 6s, um modelo de dois anos, para mais de US$ 1.000 nas Casas Bahia, em uma filial em Copacabana, no Rio de Janeiro. No final de agosto, a varejista vendia o smartphone mais básico da Apple, o iPhone SE, por mais de US$ 600, enquanto um Samsung Galaxy J1 Mini, que roda Android, custava só US$ 136.

Em outra loja do Rio, recentemente, Vanessa Pereira, 25, uma estudante universitária, examinava os 65 modelos em exposição, verificando as ofertas da Samsung e da LG, mas ignorando os seis da Apple. Ela já possuiu um iPhone, mas não pôde mais comprar essa marca, lamentou. "O preço é o fator mais importante para mim", disse.

Mas o iPhone é cobiçado pelos brasileiros mais ricos, muitos dos quais compram o aparelho quando viajam ao exterior para evitar os altos custos no país. "Sempre haverá usuários no Brasil interessados em comprá-los", disse Tina Lu, uma analista sênior na Counterpoint Research.

A recepção da China ao iPhone de US$ 1.000 será ainda mais crucial para a Apple. A região da Grande China, que inclui Hong Kong e Taiwan, contribuiu com US$ 8 bilhões para as receitas da Apple no último trimestre, mas as vendas estão lentas.

A participação de mercado da Apple caiu ligeiramente na China no último ano, segundo a Counterpoint. Os celulares de alta gama de marcas chinesas como Huawei e Oppo ganharam terreno, em parte pelos preços inferiores aos da Apple.

O novo iPhone tem o potencial de reverter essa tendência. Mais que qualquer outro produto tecnológico, o iPhone há muito representa status na China. Se um novo iPhone for muito parecido com o anterior, sem ser reconhecido como novo pelas outras pessoas, muitas vezes não vende bem.

"Se a aparência do telefone mudar, creio que as pessoas ficarão loucas por ele, porque vemos o iPhone com a mesma aparência há muito tempo já", disse He Peihuan, um analista financeiro baseado em Xangai.

A Apple também enfrentou pressão do governo chinês. Canais de mídia estatais chamaram a atenção para uma função que rastreia os locais mais visitados pelo usuário e também criticaram as políticas de pós-vendas da empresa. E funcionários do governo e líderes de companhias estatais preferem não ser vistos usando tecnologias estrangeiras como o iPhone.

Apesar disso tudo, Zhang Xiang, um vendedor e reparador de celulares em Xangai, disse que ainda espera uma forte demanda pelo novo iPhone. "Acho que quando as pessoas podem pagar e querem um telefone de ponta com boas funções, preferem comprar um iPhone", disse ele.

Um fator importante que supera o alto preço esperado do próximo iPhone é a prevalência crescente de opções de financiamento para compradores no mundo todo. Nos EUA, a maioria das prestadoras de serviços de celular permitem que os clientes distribuam o custo de um novo telefone ao longo de dois anos, e o novo aparelho acrescenta menos de US$ 10 mensais aos pagamentos que o cliente faria por um novo iPhone 7 Plus.

"Não há tanta diferença na taxa mensal que você paga", disse Brian Blau, um analista de tecnologia da firma de pesquisas Gartner.

Planos a prestações parecidos estão surgindo na China, no Brasil e em outros países, tornando os produtos da Apple mais acessíveis.

"Vi alguns bancos que oferecem planos a prestações para iPhones com juros muito baixos ou nulos, assim as pessoas comuns podem comprar um iPhone", disse Zhang.


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