Folha de S. Paulo


Empresas de tecnologia apostam em mundo vigiado por câmeras

Três gigantes da tecnologia —Google, Facebook e Microsoft— lançaram, nas últimas semanas, produtos que possibilitam monitorar, em vídeo, tudo que acontece em todos os lugares.

Na F8, feira anual do Facebook, em abril, Mark Zuckerberg distribuiu milhares de câmeras 360º para a plateia e pediu que todos postassem vídeos na rede social. "Estamos no começo dos anos dourados do vídeo on-line", disse.

A companhia anunciou protótipos de aparelhos para gravar vídeos em 360º em alta definição, as Surround 360º, voltadas à criação de jogos ou filmes em realidade virtual. São várias câmeras potentes acopladas, e cada lente é chamada de "olho".

O início da "era de ouro" foi marcado por casos de violência. Dois dias antes da F8, o homicídio de um idoso norte-americano foi transmitido ao vivo na rede. Em outro vídeo, um tailandês matou a filha de 11 meses e cometeu suicídio. Em resposta, o Facebook anunciou que contrataria 3.000 pessoas para monitorar conteúdo.

Na feira Microsoft Build, no início de maio, a novidade era um ambiente de trabalho completamente vigiado com equipamentos dotados de inteligência artificial, do Microsoft Cognitive Services.

Um objeto perigoso caiu no chão da indústria? Câmeras avisam o supervisor responsável. No hospital, se um paciente cardíaco se exercita mais do que deveria, as câmeras enxergam e uma enfermeira é avisada imediatamente. Um funcionário tirando uma "selfie" com uma britadeira é repreendido.

Veja abaixo (em inglês).

Microsoft Build

A ideia das empresas não é só capturar imagens a todo momento, mas também usar inteligência artificial para fazer a curadoria e interpretação do que está sendo gravado.

"Estamos colocando o vídeo em primeiro lugar em todas as plataformas", diz Luis Olivalves, diretor de parcerias do Facebook, à Folha. "Um quinto dos vídeos no Facebook são ao vivo, e, no último ano, o tempo assistido dos vídeos live cresceu mais de quatro vezes. As pessoas compartilham de forma mais visual do que nunca."

Mais de 100 milhões de horas são assistidas todos os dias no Facebook, e a quantidade de vídeos triplicou em 2016 em relação ao ano anterior. Já o YouTube tem 1 bilhão de usuários, um terço das pessoas que usam internet, mas só quem tem mais de mil inscritos pode transmitir ao vivo —o que ajuda a filtrar o conteúdo.

Uma pesquisa do Google mostra que 42% da população brasileira assistiu vídeos na internet em 2016, e 55% assistiu pelo celular, por mais de uma hora por dia.

"Cada ser na humanidade virou um equipamento de projeção ambulante, então temos que nos preparar. As pessoas precisam saber que a qualquer momento elas podem ser filmadas", afirma Fernanda Cerávolo, diretora do YouTube no Brasil. "De tudo que é captado, o que você quer que esteja na internet?"

ÁLBUM DE VIAGEM

O Google tem vendido a ideia que a profusão de imagens feitas no celular precisa de triagem. A Google Lens, apresentada na conferência I/O, na última quarta (17), descobre, com inteligência artificial, se a foto em questão é de um animal de estimação, um prédio ou uma paisagem.

Com isso, um álbum de viagem é feito automaticamente, permitindo que o turista viaje registrando seus arredores, despreocupadamente. Apontando a lente para o Masp, em São Paulo, a pessoa terá informação em tempo real sobre o museu via Google Maps.

"As direções para chegar, horário de funcionamento e as resenhas têm que chegar no momento que o usuário precisa", diz André Kowaltowski, gerente de produto do Maps. Segundo ele, milhões de edições de imagens são feitas toda semana no serviço.

A empresa também abriu a possibilidade de usuários contribuírem com o Street View em 360º, publicando imagens próprias das ruas por onde passam.

"Nós sabemos onde isso vai dar um dia", disse Mark Zuckerberg na F8. "Queremos usar um óculos, ou lente de contato, que aparentem e pareçam normais, mas que nos deem todo tipo de informação e objetos digitais, se sobrepondo ao mundo real."

SEM OS OLHOS

Para tornar o mundo ao redor ainda mais visível, novos dispositivos de segurança doméstica conseguem detectar imagens de intrusos e objetos fora do lugar usando apenas o sinal do wi-fi, sem câmeras.

A pesquisa que possibilitou a novidade foi desenvolvida pelo MIT em 2015, e lançada comercialmente por uma marca chamada Aura, nos Estados Unidos, no começo deste ano (veja abaixo).

Além disso, o desenvolvimento de carros sem motorista tem gerado sensores de proximidade mais precisos, que também enxergam sem lentes, na maioria das vezes com campos eletromagnéticos.

Aura


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